"Supernatural": das lendas à religião na despedida da série
Dizem as más línguas que a série “Supernatural” deveria ter acabado na quinta temporada. O enredo apresenta dois irmãos caçadores que saem pelas ruas salvando as pessoas de monstros. Lançada em 2005, a produção virou um fenômeno e pode ser incluída como um dos grandes nomes da cultura pop dos últimos anos.
Mas, aqui entre nós, há de se concordar que as idas e vindas dos Winchester entre o mundo dos vivos e dos mortos virou rotina ao ponto do público não se abalar mais quando algo ruim acontecia com os protagonistas. Depois de 15 anos, a saga finalmente chegou ao fim na última quinta-feira (19), colocando um desfecho no dilema dos irmãos em querer ter uma vida normal, mas serem impedidos pela obrigação de salvar o mundo.
A última temporada de “Supernatural” foi transmitida no Brasil pela Warner Channel. Programada para acabar em maio, os fãs só puderam ter acesso aos episódios finais em novembro, por conta da pandemia do coronavírus. As 14 temporadas da série podem ser vistas na Amazon Prime Video. A temporada final não tem data de estreia nos streamings.
Parte do sucesso de “Supernatural” começou lá nas primeiras temporadas, quando Sam (Jared Padalecki) e Dean (Jensen Ackles) lutavam contra um monstro diferente a cada episódio. Naquela época, as lendas urbanas eram colocadas na série despertando a curiosidade para histórias do imaginário de todos, como os wendigos, vampiros, lobisomens, metamorfose e espíritos. Até que vieram anjos e demônios, que foram ganhando espaço na história até ser parte do problema durante várias temporadas.
A receita era a mesma, os irmãos enfrentavam criaturas, eram jogados para longe com um empurrão, saindo com pequenos arranhões. A surpresa vinha com a morte de alguns personagens queridos, como a bruxa Rowena (Ruth Connell) e o demônio Crowley (Mark Sheppard). Até tivemos a volta de um Bobby Singer (Jim Beaver) de outra realidade paralela... Ok, tudo bem.
Nesse ponto, não importava quantos vilões apareciam ou quantas vezes o mundo precisasse ser salvo, contanto que a convivência entre os irmãos fosse sempre retratada na série – o ponto forte da produção. Virou uma relação familiar entre telespectador e a ficção, “family business”, como foi eternizado no primeiro ano.
O constrangimento de Sam perante as brincadeiras de Dean é algo que poderia continuar por mais 15 temporadas, é nisso que os meninos farão falta. A dualidade entre a sensibilidade do caçula e a racionalidade do mais velho também eram bonitos de se ver. O anjo Castiel (Misha Collins) também terá lugar na saudade.
Foi quando Deus começou a ser mencionado na série que o final passou a ser uma possibilidade. Afinal, mesmo se tratando de “Supernatural”, o que mais poderia acontecer depois do Todo Poderoso? Considerado por muitos como um enredo ultrapassado, o desenvolvimento da religião na última temporada rendeu reflexões e mensagens importantes para o final da trajetória dos irmãos.
Ainda que tudo parecesse uma grande palhaçada – Deus, que pode destruir tudo com um simples estalar de dedos, opta por jogar os meninos longe com um empurrão, afinal, eles precisam sobreviver – e que as soluções para os problemas caíssem no colo dos personagens sem muita explicação, a série fez um bom trabalho ao remover o vilanismo de Deus, ressignificando Ele para a verdadeira mensagem que “Supernatural” quer deixar.
Dar adeus a Sam e Dean é como se despedir de alguém da família que se convivia desde sempre. Mesmo com o fim necessário, escutar “Carry on” pela última vez emociona quem acompanha os Winchester desde a adolescência.
*Fernando começou a assistir a séries de TV e streaming em 2009 e nunca mais parou. Atualmente ele já maratonou mais de 300 produções, totalizando aproximadamente 7 mil episódios. A série mais assistida - a favorita - é 'Grey's Anatomy', à qual ele reassiste com qualquer pessoa que esteja disposta a começar uma maratona. Acesse o Portal, Podcast e redes sociais do Uma Série de Coisas neste link.
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