"The Purge" sugere como seria um governo liderado pela opressão e violência
Um dos assuntos mais comentados, dentro e fora das redes sociais, é o futuro da política do País diante do cenário das eleições deste ano. Com a votação do segundo turno marcada para o próximo domingo (28), o fim da democracia e da corrupção tem sido, incessantemente, temas de debates – saudáveis ou não – em círculos de amigos e familiares. A violência aumentou e, para contribuir para uma reflexão sobre esse estado, a coluna Uma Série de Coisas de hoje trata da narrativa do roteirista, diretor e produtor americano, James DeMonaco, que aborda uma sociedade guiada pela brutalidade através do universo de “The Purge”.
“The Purge” (“O Expurgo”) foi lançado em 2013 para o cinema. Também criado por DeMonaco, o filme foi um sucesso de bilheteria na época (quase 90 milhões de dólares) e rendeu, em 2014, uma sequência. O terceiro filme foi lançado dois anos atrás e a quarta parte teve sua estreia este ano. No Brasil, teve como título “Uma Noite de Crime”. Uma versão para a TV foi lançada em setembro pelo canal USA Network com uma encomenda de 10 episódios.
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Para quem não conhece a história, mas tem interesse em assistir, não importa começar pelos filmes ou pela série, pois embora façam parte do mesmo universo, são histórias independentes umas das outras. Apresentando uma visão negativa do futuro (“The Purge” se passa por volta do ano de 2022), o universo de terror é caracterizado pelo totalitarismo, autoritarismo e pelo opressivo controle de uma sociedade sádica e violenta. Após a queda do governo dos Estados Unidos e de sua Constituição, é criado um feriado nacional denominado “Noite do Expurgo”.
O surgimento desse feriado tem como objetivo diminuir o índice de violência no País, liberando a população para praticar todo e qualquer tipo de crime – desde vandalismo até assassinato – em um período de 12 horas, sem qualquer assistência emergencial, como polícia e hospitais. Dessa forma, as pessoas, agora acobertadas pelo novo governo por um partido político chamado New Founding Fathers of America (“Novos Pais Fundadores da América”), podem liberar seus instintos cruéis sem serem pegos pela lei.
Partindo dessa realidade, os filmes e a série mostram pessoas tentando sobreviver no decorrer das 12 horas de terror que acontece anualmente. Muitos economizam o ano inteiro para pagarem caro por um sistema de segurança que protejam seus familiares. Mas logo surge o questionamento de que só os ricos conseguiriam ficar totalmente protegidos durante esse período, enquanto os pobres ficam à mercê da própria sorte.
A crítica pode ser levada instantaneamente para a vida real, uma vez que o candidato à frente nas pesquisas de intenção de voto, no Brasil, defende abertamente a posse de armas de fogo. A ficção dialoga com a realidade brasileira atual. Segundo o Atlas de violência 2018, a quantidade de negros e pobres assassinados aumentou, enquanto houve queda desses índices entre os brancos. De todos os homicídios, 71,5% são de negros ou pardos. Ainda segundo o Atlas, a taxa de homicídios para essa parte da população foi duas vezes e meia superior à de não negros, com 40,2% e 16,0%, respectivamente. Os casos de feminicídio também cresceram 6,4%, entre 2006 e 2016.
Para dar visibilidade para a diferença social em “The Purge”, as produções cinematográficas foram divididas. O primeiro filme acompanha uma família rica tentando sobreviver com seus recursos na fatídica noite. O segundo longa foca nos personagens periféricos e na triste realidade dos oprimidos. Já o terceiro filme acontece, ora veja, durante o ano de eleições. O quarto filme volta ao passado para narrar o dia da primeira noite de crime. Veja o trailer:
Em uma eleição presidencial em que o candidato favorável defende um ambiente social liderado pelo medo, é angustiante imaginar o quanto dessa aterradora ficção poderá se aproximar da realidade nos anos que estão por vir.
A “Noite de Crimes” da vida real parece já ter começado. Um levantamento realizado pela Agência Pública em parceria com a Open Knowledge Brasil afirma que, no último mês, houve ao menos 70 ataques, entre agressões e ameaças, em 18 estados e no Distrito Federal. Em 50 casos, as ações são atribuídas a apoiadores do candidato do PSL. Contra eles há seis registros e 15 casos com situações indefinidas.
Na TV, a série “The Purge” está em transmissão e engloba o que já foi retratado nos filmes, sendo uma extensão de mais casos em outras noites de crime. O último episódio será veiculado nos EUA no dia 7 de novembro. No Brasil, a série é transmitida pela Amazon Prime Video. Veja o trailer:
Fernando começou a assistir a séries de TV e streaming em 2009 e nunca mais parou. Atualmente ele acompanha mais de 200 produções e já assistiu mais de 6 mil episódios. A série mais assistida - a favorita - é 'Grey's Anatomy', à qual ele reassiste com qualquer pessoa que esteja disposta a começar uma maratona. Facebook: Uma série de Coisas. Instagram: @umaseriedecoisas. Twitter: @seriedecoisas_ Blog: Uma Série de Coisas.
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