"True Detective: Terra Noturna” retorna com novos elementos narrativos na antologia
Temporada tem episódios novos todo domingo, às 23h, na HBO Max
No último domingo (14), “True Detective”, a renomada série da HBO, retornou com sua quarta temporada, intitulada Terra Noturna. Esta, marca uma nova era para a série, sendo a primeira sem o envolvimento direto de seu criador Nic Pizzolatto, uma mudança que, desde já, desafia expectativas.
Diferentemente das temporadas anteriores, Terra Noturna decide, no primeiro episódio, focar na apresentação minuciosa de suas protagonistas e na construção do universo que em que elas estão. Essa decisão criativa relembra o sucesso da minissérie “Mare of Easttown”, também da HBO, que brilhou por seu roteiro astuto e uma variedade rica de personagens, um ponto forte que parece ecoar na nova trama de “True Detective”.
Em suas três temporadas, vale lembrar que "True Detective" teve o privilégio de contar com a presença de grandes artistas, como Matthew McConaughey (de "Interestelar"), Woody Harrelson (que participou de "Jogos Vorazes"), Colin Farrell (reconhecido por "Os Banshees de Inisherin"), e Mahershala Ali (destaque em "O Mundo Depois de Nós"). A série acumula um impressionante histórico de conquistas, incluindo cinco prêmios Emmy em categorias como Melhor Série de Drama, Roteiro e Direção.
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Para quem assistiu as temporadas anteriores, o piloto do quarto ano pode parecer fugir um pouco da identidade da série, com a ausência de Nic Pizzolatto. Mas a nova abordagem, sob o comando da mexicana Issa López (“Os Tigres Não Têm Medo”), parece trazer uma perspectiva fresca e pertinente. O novo enredo gira em torno do desaparecimento de oito trabalhadores em uma estação de pesquisa no Alasca, onde a noite, em certa época do ano, persiste por meses. Curiosamente, uma pista é encontrada no local: uma língua humana, ligada diretamente a um caso antigo na pacata cidade.
Liz Danvers, interpretada por Jodie Foster, lidera a investigação. A atriz tem uma rica bagagem cinematográfica, incluindo sua atuação em “O Silêncio dos Inocentes” (1991). A dinâmica entre Danvers e sua parceira, Evangeline Navarro, interpretada pela estreante na TV, Kali Reis, é um ponto alto. Navarro, uma ex-policial rebaixada, traz uma tensão adicional à trama, uma vez que as duas detetives têm que conciliar diferenças passadas em meio a uma investigação complexa.
Novos elementos criativos
Há, ainda, a presença dos elementos sobrenaturais que traz algo lúdico em todas as temporadas do programa. Enquanto os três primeiros anos de “True Detective” flertaram com o misterioso e o inexplicável, o novo caso parece alcançar um tom mais literal nesse aspecto – isso ficará claro ou não na medida em que a série avança. Em sua estreia da quarta temporada, a série também mostra uma mudança significativa no estilo narrativo, transitando de um enfoque semelhante ao livro (mais culto) para uma observação mais detalhada e emocional.
Ao apresentar a quarta temporada, “True Detective: Terra Noturna” continua a tradição de seu nome ao mesmo tempo em que redefine e revitaliza a produção com uma narrativa envolvente, personagens densos e um toque sobrenatural que, mesmo sendo um ponto diferente, insere uma nova dimensão ao já complexo universo da série.
À medida que a narrativa se desenrola, a série mergulha mais profundamente nos relacionamentos de seus personagens, trazendo uma camada de humanidade que pode surpreender aqueles acostumados com o estilo mais sombrio e enigmático das temporadas anteriores.
Elenco de peso
A escolha de Jodie Foster para liderar o elenco é um acerto, e seu desempenho traz uma autenticidade que eleva o nível da série. Sua capacidade de expressar nuance emocional e mergulhar nas complexidades de sua personagem contribui para a credibilidade da trama. A estreia de Kali Reis na TV como Evangeline Navarro também é notável, trazendo uma dinâmica intrigante e conflituosa com Danvers.
“True Detective” retorna, enfim, assumindo riscos criativos, mas busca se reinventar e afasta-se do paradigma estabelecido nas temporadas anteriores. A cinematografia é excepcional. A ambientação no Alasca, com suas paisagens gélidas e atmosfera desolada, contribui para a construção de uma aura sombria que permeia todo o episódio piloto.
A série tenta se atualizar com o bom e velho gênero policial e, embora possa desagradar alguns fãs mais puristas, sua coragem em se reinventar merece reconhecimento. Resta agora acompanhar como a temporada se desdobrará.
*Fernando Martins é jornalista e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.
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