"Tudo o Que Você Podia Ser" é um poema cinematográfico sobre amizade e identidade
Filme de Ricardo Alves Jr. une ficção e documentário para explorar vivências LGBTQIAPN+
Em "Tudo o Que Você Podia Ser", que estreia em Recife na próxima quinta-feira (20) pela Sessão Vitrine Petrobras, Ricardo Alves Jr. oferece ao público uma obra que flui entre os gêneros de ficção e documentário. O resultado é uma narrativa que celebra a amizade, a resistência e a autenticidade das vidas LGBTQIAPN+. O filme, já premiado no Festival do Rio e no MIXBRASIL, conta com as boas atuações de Aisha Brunno, Bramma Bremmer, Igui Leal e Will Soares, já veteranos no teatro de Belo Horizonte.
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A trama segue Aisha em seu último dia na capital mineira, acompanhada por seus melhores amigos, Bramma, Igui e Will. Um adeus muitas vezes não é simples, logo, o da protagonista segue como uma exploração profunda dos laços que ela construiu fora das convenções familiares tradicionais. A partir de interações cotidianas, o filme constrói um retrato afetuoso e intimista, capturando momentos de carinho, reflexão e solidariedade que definem a verdadeira essência de uma "família escolhida".
O diretor Ricardo Alves Jr., conhecido por suas obras anteriores como “Elon Não Acredita na Morte” e “Vaga Carne”, utiliza a cidade de Belo Horizonte como ambientação para contar histórias que são, ao mesmo tempo, locais e universais. O filme se desenrola em bairros conhecidos da cidade, proporcionando uma visão autêntica e realista do espaço urbano e das vidas que ali se entrelaçam.
Entre realidade e ficção
"Tudo o Que Você Podia Ser" ainda se destaca por sua habilidade de mesclar elementos ficcionais com a autenticidade de um elenco de berço teatral. Diálogos improvisados e cenas que capturam a vivacidade do cotidiano conferem ao filme uma sensação de espontaneidade e proximidade. Sensação muito parecida com a que o público pernambucano pode observar nos espetáculos "GABI" e "GABI - INTERLÚDIO: Uma Viagem na Psique de Quem Decidiu Partir", com direção e autoria de Ariel Sobral (clique aqui para ler a entrevista) e que estreou entre abril e maio deste ano.
A abordagem híbrida do filme permite que o espectador se conecte de forma particular com as personagens, sentindo suas alegrias e dores como se fossem reais – e nossas. A música que dá nome ao filme, um clássico do Clube da Esquina interpretado por Milton Nascimento, foi regravada pela cantora Coral, com uma interpretação que traz riqueza ao longa.
Um retrato de resiliência
No contexto do cinema brasileiro, "Tudo o Que Você Podia Ser" é uma obra que se destaca pela sua sensibilidade e pela maneira como aborda questões complexas de identidade, comunidade e aceitação. Ricardo Alves Jr. celebra a diversidade sem deixar de confrontar os desafios que a comunidade LGBTQIA+ enfrenta no Brasil atual. Em tempos de crescente intolerância, o filme surge como uma ode à resiliência, mostrando que, apesar das adversidades, é possível encontrar força e beleza nas conexões humanas.
Para além de tudo que o filme proporciona, vale, ainda, refletir sobre o que significa pertencer, amar e viver de forma autêntica. Não há respostas fáceis, mas sim, uma honestidade que pouco vemos no cinema convencional – e nas nossas vidas, talvez. A estreia de "Tudo o Que Você Podia Ser", pela Sessão Vitrine Petrobras, traz à tona vozes e histórias que merecem ser ouvidas e celebradas.
*Fernando Martins é jornalista e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.
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