“Yellowjackets” tem personagens complexos em enredo consistente
Série recebeu sete indicações ao Emmy 2022, incluindo Melhor Série de Drama
Das oito produções indicadas ao Emmy 2022 na categoria de Melhor Série de Drama, “Yellowjackets”, da Paramount+, talvez seja a que o público menos conheça até agora. Isso quando comparado às suas concorrentes populares: "Better Call Saul" (Netflix), "Euphoria" (HBO), "Ozark" (Netflix), "Ruptura" (AppleTV+), "Round 6" (Netflix), "Stranger Things" (Netflix) e "Succession" (HBO) – esta última sendo a mais indicada do ano com 25 nomeações, somando 48 desde o seu lançamento em 2018.
Essa ofuscação dos holofotes, no entanto, não deve ser um impeditivo para os telespectadores. Pessoalmente, “Yellowjackets” foi uma gratificante surpresa. Poucos minutos foram suficientes para o enredo despertar a curiosidade de chegar até o fim e boa parte desse mérito está no desenvolvimento dos personagens. Tamanha profundidade pode ser comparada ao trabalho potente da bem-sucedida “Mare Of Easttown” (2021), da HBO.
Leia Também
• Emmy 2022: quem pode levar a estatueta de melhor do ano?
• Mais sombria, "Stranger Things" expande universo e aponta para o fim
• Série “The Wilds” se inspira em "Lost" e reinventa enredo para jovens
Criada pela dupla Ashley Lyle e Bart Nickerson (“Narcos” e “The Originals”), “Yellowjackets” se passa em dois momentos: nos anos 1990, quando um time escolar de futebol feminino sofre um acidente de avião a caminho de uma competição, e no futuro, quando quatro dessas meninas lidam com o trauma na vida adulta, mesmo após tantos anos desde o resgate.
Assim, o público acompanha as adolescentes vivendo um drama intenso e lutando pela sobrevivência em uma floresta que esconde segredos ao mesmo tempo em que assistimos quatro sobreviventes, décadas à frente, sendo chantageadas por alguém que ameaça contar tudo que aconteceu no acidente.
Personagens sedutoras
A potência da série está no núcleo principal, vivido pelas quatro personagens que vemos no futuro – Shauna, Taissa, Misty e Natalie. E por ver apenas quatro de um time inteiro, a primeira coisa que pensamos é o que aconteceu com as outras garotas que vemos na floresta. É nessas “outras” que as subtramas se desenvolvem. Ao longo dos episódios, somos pegos tentando entender o mistério da ilha ao mesmo tempo em que investigamos junto ao quarteto.
Todos os arcos são envolventes. As atrizes Melanie Lynskey, Tawny Cypress, Christina Ricci e Juliette Lewis, que interpretam as garotas na versão adulta, estão em sincronia às suas personagens na versão jovem. A caracterização é bastante fiel, tanto no físico quanto no comportamento. Melhor, nenhuma delas pode ser colocada em caixinhas. O maniqueísmo é presente e, embora sejam adolescentes, o estereótipo de menina boa e menina má não existe e essas camadas se apresentam aos poucos.
Diferente das influências
A sinopse de “Yellowjackets” pode ser facilmente comparada a séries como “Lost” (2004-2010) e “The Wilds” (2020-2022). Não há como negar que elas foram inspirações. Mais do que isso, “Yellowjackets” consegue pegar esses elementos narrativos e levar para outro nível, criando a própria identidade.
Logo nas primeiras cenas do piloto, e isso não é um spoiler, acompanhamos uma garota fugindo na neve e caindo em um buraco. Ela morre no ato, já que no fundo ela é atingida por estacas, como se estivesse sendo caçada. E de fato, estava. Alguém com um saco macabro na cabeça observa o corpo sem vida antes de ir embora. Quem é a garota? Quem está caçando? Existe uma espécie de tribo na ilha ou elas estão se matando? A série entrega diferentes ângulos sem confirmar muita coisa, já que está renovada para a segunda temporada. Flerta com um pouco de sobrenatural, como em “Midsommar” (2019), seriais killers, como “Os Estranhos” (2008), sem esquecer o thriller psicológico, como em “Us” (2019).
Mesmo “Succession” sendo a série que provavelmente levará a estatueta de melhor drama para casa, é preciso tirar o chapéu para “Yellowjackets” como entretenimento de ótima qualidade e que vale (muito) a pena acompanhar. Veja o trailer:
*Fernando Martins é jornalista, escritor e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.
*A Folha de Pernambuco não se responsabiliza pelo conteúdo das colunas.