"Zona de Interesse": Entre o silêncio e o horror na Segunda Guerra Mundial

O filme de Jonathan Glazer desafia o espectador a encontrar o horror na banalidade

Sandra Hüller (Anatomia de Uma Queda) é destaque em "Zona de Interesse" - Reprodução

“Zona de Interesse”, a mais recente obra cinematográfica de Jonathan Glazer, chega aos cinemas em 15 de fevereiro com cinco indicações ao Oscar 2024, incluindo Melhor Filme. Este não é um filme comum, e sua narrativa desafia as convenções do gênero de forma única.

O filme é uma experiência pesada, que impacta de forma sutil e profunda. Não há violência explícita, nem tensão sufocante, apenas o silêncio desconcertante que permeia a normalidade. Esta ausência de eventos dramáticos óbvios pode polarizar o público, tornando “Zona de Interesse” um filme do tipo "ame ou odeie".

A sinopse é tanto intrigante quanto perturbadora. Acompanhamos o cotidiano de uma família aparentemente comum, vivendo em uma casa dos sonhos. O pai tem aspirações profissionais, a mãe está satisfeita cuidando dos filhos. No entanto, a trama se desenrola durante a Segunda Guerra Mundial, e a família reside ao lado (quase dividindo o mesmo muro) de Auschwitz, o mais infame dos campos de concentração nazistas.

A abordagem cinematográfica é brilhante e perigosa. A câmera permanece frequentemente estática, capturando a vida doméstica em ângulos abertos, como uma observadora impassível. Essa escolha ressalta a natureza íntima da história, enquanto mantém um distanciamento emocional dos horrores ao redor.

Apesar da impressionante habilidade técnica, “Zona de Interesse” parece sofrer com sua própria rigidez. O filme é quase desprovido de emoção, o que pode alienar alguns espectadores. A preocupação excessiva com o formalismo técnico e estético parece ter prejudicado o equilíbrio emocional da obra. Mas, fica a reflexão, até que ponto queremos acessar emoções diante de uma família de nazistas?

A narrativa nunca entrega totalmente o horror que está por vir; desde o primeiro momento, o filme instiga o espectador a prestar atenção ao que está ausente. Mesmo em meio a cenas de normalidade, ouve-se o eco dos tiros e a visão sutil da fumaça dos trens, evocando os horrores do Holocausto.

“Zona de Interesse” é um filme que desafia o público a encontrar o horror na banalidade, questionando nossa própria compreensão do que é normal e até onde podemos ir para aceitar o inaceitável. Uma experiência cinematográfica que ressoa muito além da tela, provocando reflexões profundas sobre a condição humana e os limites da moralidade.

*Fernando Martins é jornalista e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.
*A Folha de Pernambuco não se responsabiliza pelo conteúdo das colunas.

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