Indústria automotiva nacional acumulou as maiores perdas no primeiro ano da pandemia
A indústria automotiva nacional sentiu mais os efeitos da pandemia da Covid-19 em 2020 em comparação a outros países produtores de veículos.
Segundo dados divulgados nesta sexta-feira (7) pela Anfavea, associação nacional das montadoras, a produção de veículos no Brasil teve queda de 32% na comparação entre os anos de 2019 e de 2020.
A retração global média foi de 16% no mesmo período, de acordo com a Oica, associação internacional das montadoras. A conta inclui carros de passeio, veículos comerciais leves, ônibus e caminhões.
O país, que ocupou a oitava posição entre os maiores fabricantes de autos em 2020, registrou o pior resultado entre os 10 primeiros colocados no ranking de produção. Para a Anfavea, esse é um sinal claro da falta de competitividade global -as exportações são pouco relevantes- e dos problemas do Brasil em lidar com a pandemia.
"As montadoras que estão aqui são as mesmas presentes nos demais países que produzem grandes volumes de automóveis, os padrões são os mesmos", diz Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea. "É mais um exemplo que mostra o quão difícil é exportar a partir do Brasil, temos obstáculos enormes."
O executivo afirma, ainda, que a carga tributária e as dificuldades logísticas destroem a possibilidade de enviar carros a mercados mais desenvolvidos.
Com a produção focada em modelos de menor valor agregado para o mercado interno, a indústria automotiva nacional tem suas exportações limitadas aos países da América Latina.
A Argentina, que também vivencia uma crise anterior à pandemia, é o principal parceiro comercial no setor.
Ou seja, enquanto alguns países aceleram a recuperação na indústria da transformação por seguir o embalo de mercados cuja vacinação está avançada, o Brasil depende dos resultados de vizinhos que enfrentam problemas semelhantes e se agarra à retomada do mercado interno, repleta de limitações.
A produção de veículos em abril registrou queda de 4,7% sobre março. Foram fabricados 190,9 mil veículos leves e pesados no último mês, número até surpreendente diante das dificuldades para obter peças importadas, como microchips e semicondutores.
As montadoras interromperam as linhas de montagem em diversos momentos entre fevereiro e abril, e novas paralisações não estão descartadas.
"Podem acontecer outras paradas entre maio e junho, o principal problema são os semicondutores. Pode ser que as montadoras resolvam fazer interrupções pontuais, mas não será algo generalizado como foi no ano passado", afirma Moraes.
O presidente da Anfavea faz menção ao mês de abril de 2020, quando todo o setor automotivo parou para se adaptar à pandemia e apenas 1.847 veículos leves e pesados foram feitos. As empresas tiveram de desenvolver novos protocolos de segurança sanitária enquanto buscavam entender o que seria do mercado diante de todas as restrições impostas pela Covid-19.
"Levando em conta tudo o que estamos enfrentando, como a falta de peças e os problemas logísticos, podemos dizer que o resultado de abril foi razoável. Não estamos nem considerando o crescimento percentual em relação a abril de 2020, não faz sentido pela distorção muito forte", diz Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea.
A paralisação ocorrida no ano passado explica a alta no acumulado de 2021. A produção registrou crescimento de 34,2% no primeiro quadrimestre. Mas é importante considerar que os números atuais não compensam a queda de 39,1% que ocorreu no período de janeiro a abril de 2020 em relação ao mesmo intervalo de 2019.
O estoque segue estável, com 97,1 mil carros à espera de compradores. A maior parte -72,8 mil unidades- está no pátio das concessionárias. O número, que é suficiente para atender a 17 dias de comercialização, é considerado adequado ao momento e se mantém estável desde o início do ano.
A quantidade de postos de trabalho ocupados caiu 1,8% na comparação com abril de 2020, mas segue estável em 2021. O impacto do fechamento das fábricas da Ford no país ainda não foi contabilizado, pois há acordos trabalhistas em andamento.
Segundo dados do Renavam (Registro Nacional de Veículos Automotores), foram emplacadas 175.143 unidades em abril. O número inclui carros de passeio, comerciais leves, ônibus e caminhões.
Houve queda de 7,5% em relação a março, que teve três dias úteis a mais, mas as médias diárias seguem estáveis.
Foram comercializados, em média, 8.757 veículos por dia em abril na soma de leves e pesados. Em março, foram 8.234 automóveis/dia. No acumulado de 2021, a média nacional de licenciamentos diários é de 8.471 unidades.
"O resultado segue abaixo do patamar de 2019, que girava em torno de 11,2 mil unidades diárias", diz o presidente da Anfavea.
Com 9.800 unidades emplacadas, o setor de caminhões teve queda de 9,1% em abril na comparação com março. O resultado também se deve ao menor número de dias úteis, e a média diária segue em patamar considerado bom pela Anfavea.
A rentabilidade também vai bem: segundo Gustavo Bonini, que é um dos vice-presidentes da Anfavea, 50% das vendas são de veículos pesados, de maior valor agregado. Setores ligados ao agronegócio são os principais clientes.