Cigarro eletrônico: a moda que mata
Entenda os riscos do uso de vape
A aparência tecnológica e a variedade de sabores fizeram com que os cigarros eletrônicos, conhecidos como vape, ganhassem espaço entre os jovens nos últimos anos. Também tem aqueles já fumantes que utilizam o produto na tentativa de diminuir o consumo do cigarro convencional – grande equívoco. Os cigarros eletrônicos não são seguros e são maléficos a saúde, expondo o organismo a uma variedade de elementos químicos, substâncias citotóxicas (potencialmente causadoras de doenças pulmonares e cardiovasculares) e cancerígenos. O tabagismo e a exposição passiva são de longe o mais importante fator de risco para o desenvolvimento do câncer de pulmão. Segundo o INCA, são esperados mais de 30 mil novos casos da doença para cada ano do triênio 2020-2022, sendo a maioria homens (17.760).
“A relação do tabagismo com o câncer de pulmão é uma das mais bem definidas causa versus efeito na oncologia. A chance de uma pessoa desenvolver o câncer de pulmão está diretamente relacionada a quantidade de cigarros por dia e ao tempo de exposição. Isso ocorre, ainda, com cerca de 70% de todos os tipos de câncer, tendo como principais diagnósticos o de esôfago, estômago, bexiga, pâncreas, rim, colo de útero, faringe e laringe”, explica o coordenador do departamento de cirurgia torácica do Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP), dr. Bernardo Nicola. A OMS (Organização Mundial da Saúde) indica o tabagismo, seja via cigarros convencionais ou eletrônicos, como responsável pela morte de cerca de sete milhões de pessoas por ano no mundo – é a maior causa evitável de morte.
“O cigarro eletrônico traz riscos tal como o convencional. A diferença é de como a nicotina é inalada, uma vez que em cigarros comuns essa disponibilização de nicotina e várias outras substâncias cancerígenas é dada pela incineração, enquanto nos cigarros eletrônicos acontece uma vaporização da nicotina depois da diluição da mesma com o propilenoglicol (tipo de solvente). Isso faz com que haja uma concentração maior de nicotina no cigarro eletrônico, se comparado ao cigarro convencional. Os riscos de câncer de boca, pulmão, laringe, enfisema pulmonar, doenças pulmonares intersticiais não só persistem como podem ser até maiores”, acrescenta, dr. Bernardo Nicola.
A comercialização, importação e propaganda de todos os tipos de dispositivos eletrônicos para fumar foram proibidas no país, por meio da Resolução de Diretoria Colegiada da Anvisa: RDC nº 46, de 28 de agosto de 2009. Essa decisão se baseou no princípio da precaução, devido à inexistência de dados científicos que comprovassem as alegações atribuídas a esses produtos. Em 2019, o Centro de Controle de Doenças e Prevenção dos Estados Unidos da América (CDC) emitiu um alerta após receber diversos relatos de Doença Pulmonar Severa associada ao uso de Cigarros Eletrônicos. Os pacientes descreveram um início gradual dos sintomas, incluindo dificuldade respiratória, falta de ar e dor no peito, antes da hospitalização. Também houve relato de doença gastrointestinal leve a moderada, incluindo vômitos e diarreia, e outros sintomas como febre ou fadiga. No Brasil diversos famosos, a exemplo do sertanejo Zé Neto, dupla de Cristiano e a cantora Solange Almeida e o modelo Lucas Viana relataram problemas de saúde relacionados ao cigarro eletrônico, incluindo problemas pulmonares e na voz.
“Não há motivo algum, fora a dependência química pela nicotina, para se continuar um hábito relacionado a tantos males e causador de grande mortalidade da população geral. Basta ter iniciado para saber que já é hora de parar. A ajuda de profissionais especializados pode ser fundamental”, finaliza dr. Nicola.
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