36ª Bienal de São Paulo anuncia novidades para 2025
A temática do evento será articulada a partir de poema de Conceição Evaristo
''Nem todo viandante anda estradas — Da humanidade como prática''. Esse é o título da próxima Bienal Internacional de Arte de São Paulo, a 36ª, anunciado na manhã desta quinta-feira (24) em coletiva de imprensa no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo.
A primeira parte do título é um verso do poema ''Da calma e do silêncio'', da escritora Conceição Evaristo. Já a segunda antecipa a intenção da curadoria de pensar a humanidade como ''verbo'', como ''prática viva'', reimaginando relações e redefinindo assimetrias.
Como já havia sido anunciado em abril, a curadoria da próxima Bienal será assinada por Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, camaronês radicado em Berlim que, desde o ano passado, atua como diretor e curador da Haus der Kulturen der Welt, centro cultural da capital alemã dedicado à promoção da arte contemporânea produzida fora da Europa. Nesta quinta, foram apresentados os quatro cocuradores da Bienal — Alya Sebti, Anna Roberta Goetz e Thiago de Paula Souza e Keyna Eleison (cocuradora at large) — e a consultora de comunicação e estratégia Henriette Gallus.
A 36ª Bienal começa em 6 de setembro de 2025, mas desta vez não se encerra em dezembro. O evento ficará quatro semanas a mais em cartaz e receberá o público até o dia 11 de janeiro de 2026. Ao avançar para o período das férias escolares, o objetivo é aumentar ainda mais o público da mostra. A cada edição, a Bienal atrai, em média, 700 mil visitantes.
Humanidade como prática
Na coletiva, Ndikung contou que, ao receber o convite da Bienal de São Paulo, estava numa viagem de pesquisa pela Nigéria e lendo os poemas de Evaristo. Os versos finais de “Da calma e do silêncio”, disse ele, atingiram-no “como um trem”: “Caminhar para quê?/ Deixem-me quedar,/ deixem-me quieta,/ na aparente inércia./ Nem todo viandante/ anda estradas,/ há mundos submersos,/ que só o silêncio/ da poesia penetra”. A partir do poema, afirmou o curador, a Bienal convidará o público a repensar o conceito de humanidade, liberto “da violência de 500 anos de colonialidade e dois mil anos de monoteísmo”
— O problema é que “humanidade” é um conceito falido. Mas e se o compreendêssemos como uma prática e não como um substantivo? — provocou Ndikung, que acrescentou que a Bienal não será sobre “política identitária, diversidade, inclusão, migração ou as falhas da democracia”. — Será sobre a humanidade como um verbo, como uma prática, sobre encontros e negociações entre mundos, sobre o desmantelamento das assimetrias. Será sobre alegria, beleza e poesia como formas gravitacionais que sustentam o mundo, porque a beleza e a arte são políticas.
O projeto curatorial da próxima Bienal será orientado pela imagem do estuário, que é a embocadura de um rio, o local onde diferentes correntes de água se encontram.
— A metáfora do estuário nos permite construir uma paisagem provisória a partir do cenário global de arte contemporânea, uma mostra onde a Baía de Tóquio e o Rio Capibaribe se encontram, onde diferentes públicos coexistem — disse o cocurador Thiago de Paula Souza. — Nosso principal questionamento é: como a Bienal pode oferecer ferramentas para exercer a humanidade como prática?
A imagem do estuário também está presente na identidade visual da 36ª Bienal, formulada pelo estúdio berlinense Yukiko, de Michelle Phillips e Johannes Conrad.
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Fragmentos
A mostra será organizada em três eixos/ fragmentos, todos emprestados de peças poéticas. A cocuradora Anna Roberta Goetz explicou que cada um deles “abre um portal para entender a ideia central da exposição, que é um exercício para explorar a humanidade como prática coletiva e cotidiana por meio da escuta, literal e simbólica”.
O primeiro fragmento, a partir dos versos de Evaristo, propõe a reivindicação do tempo e do espaço e convida à desaceleração, ao silêncio e à conexão com a natureza. “Quando eu morder/ a palavra,/ por favor/ não me apressem”, pede o poema. O segundo, baseado no poema “Une conscience em fluer por autrui” (Uma consciência florescendo para o outro), do haitiano René Depestre, afirma a interconectividade, a coexistência e a atenção ao coletivo. E o terceiro recorre ao manifesto do Movimento Manguebeat, “Caranguejos com cérebro”, para refletir sobre a herança colonial e representar um “cérebro social coletivo”.
— O projeto curatorial reafirma o papel da Bienal como espaço de reflexão e diálogo em torno das questões mais urgentes do nosso tempo — disse Maguy Etlin, vice-presidente da Fundação Bienal de São Paulo.
A 36ª Bienal contará ainda com um projeto intitulado “Invocações”. Trata-se de um clico de quatro performances, palestras e oficinas a serem realizadas em quatro locais diferentes e funcionarão como ''afluentes'' da mostra.
As duas primeiras ''Invocações'' acontecessem ainda em 2024: a primeira em novembro, em Marraquexe, no Marrocos, e a segunda em dezembro, em Les Abymes, na ilha franco-caribenha de Guadalupe. A terceira ocorrerá em fevereiro de 2025, em Zanzibar, arquipélago da Tanzânia e a última em março, em Tóquio, no Japão. Cada inovação, disse a cocuradora Keyna Eleison, deve durar de dois a três dias.
Durante a 36ª Bienal, também a Casa do Povo, em São Paulo, receberá um programa de performances desenvolvido por Benjamin Seroussi, diretor artístico da instituição, e e Daniel Blanga Gubbay, diretor artístico do Kunstenfestivaldesarts, festival de artes de Bruxelas, na Bélgica. Outros “afluentes” serão anunciados em breve.