A história da médium Isabel Salomão: empatia em formato de livro
"Os Dois Mundos de Isabel" traz narrativa leve e bem contada de uma das maiores líderes espíritas do País, sob o olhar atento e humanizado da escritora Daniela Arbex
Para escritores que se sentem escolhidos pela história, a estrada literária segue aberta, tal qual acontece com a jornalista e escritora mineira Daniela Arbex que saiu de uma tríade de publicações férvidas de livros-reportagem – “Holocausto Brasileiro” (2013), “Cova 312” (2015) e “Todo Dia a Mesma Noite” (2018) - para se debruçar na leveza de uma narrativa que exalta a caridade como exemplo de vida em “Dois Mundos de Isabel”, obra recentemente lançada pela Intrínseca e que traz a biografia de uma das maiores médiuns brasileiras, Isabel Salomão de Campos.
“Eu me sinto escolhida pela história e sempre foi assim. Eu estava esgotada emocionalmente depois do meu último trabalho e quando a ideia do livro de Dona Isabel ganhou forma, me senti aliviada. Foi um tempo para cicatrizar feridas abertas pela dureza da narrativa anterior”, discorre Arbex em conversa com a Folha de Pernambuco.
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Com prefácio de Caco Barcellos, o livro traz à tona a história de uma brasileira que desde os nove anos de idade se voltou a cuidar do próximo e ao longo da vida retirou das ruas mais de 500 crianças, tornando-se umas das primeiras mulheres a divulgar a Doutrina Espírita, mesmo em meio à predominância de outras religiosidades e o não-reconhecimento do espiritismo até pelo censo nacional.
“Ela ajudava, quando pequena, adultos sem acesso a remédio na roça e aos 14 fundou uma escola para os filhos de lavradores no Sertão mineiro. É uma vida dedicada ao outro”, ressalta Daniela, que diz ter tido “receio de contar a história por ser muito próxima de Dona Isabel”, já que a conhece há mais de trinta anos. “No fim, percebi que o jornalismo não nos limita, pelo contrário, amplia as possibilidades”, complementa.
Da propriedade que sempre teve em seus escritos, com apuração que desnudou bastidores, elucidou fatos e escancarou alguns lamentáveis 'Brasis', em “Os Dois Mundos de Isabel” Daniela Arbex se manteve atenta a escrever após ouvir, dar voz e ter empatia necessária para culminar em páginas que fluem com ligeireza aos olhos de quem as lê.
“Foi um trabalho desafiador. Empatia é a premissa básica para contar histórias e quando a gente se coloca no lugar do outro, aprende a olhar de um outro lugar, porque a gente se humaniza”. Com Dona Isabel a escritora levou um ano de entrevistas, “nas quais boa parte do tempo ela contou com suporte respiratório em função das limitações naturais da idade” – ela estava com 94 anos. Outras 150 pessoas foram entrevistadas por Arbex, algumas Brasil afora.
“Estou falando de octogenários, nonagenários e centenários que não estão nas redes sociais. Teve ainda toda a pesquisa sobre a história do Brasil. Foram dois anos e meio dedicados exclusivamente a esse projeto”, conta a escritora que também é espírita. “É preciso destacar que se trata de um livro jornalístico sem a pretensão de defender a minha visão ou a crença da protagonista', destaca.
Hoje, Dona Isabel hoje vive em Juiz de Fora (MG) e, prestes a completar 96 anos, segue à frente do trabalho realizado pela comunidade espírita A Casa do Caminho - criada por ela na década de 1970.
“Ela vive um momento especial da vida, já que está vendo sua história chegar a pessoas de todos os nichos”, enaltece Daniela que segue despreocupada sobre o futuro de temáticas literárias leves ou pesadas, uma vez que seu foco é “fazer jornalismo de qualidade e, através dele, chegar ao coração do outro”. Inclusive, acerca de novos trabalhos - sobre outras ‘Donas Isabeis’ ou narrativas mais densas - não houve spoiler, mas a promessa de que “Vamos ter que conversar de novo em 2021”.