A poesia urbana da Mata Norte de Valfrido Santiago
Na próxima sexta-feira, 18, o artista, natural de Goiana, lança nas plataformas digitais o EP “Silêncio”, seu segundo trabalho solo
A cultura da Zona da Mata Norte do Estado é tradicionalmente conhecida por causa dos brinquedos populares, como caboclinhos, cavalo-marinho e maracatu, mas há também na região uma cena musical urbana e pulsante que vem se destacando e ganhando cada vez mais força no cenário local. Valfrido Santiago, 55, é um dos vanguardistas desse movimento, com uma longa trajetória iniciada ainda nos anos 1980, com uma infinidade de composições, participações em variados projetos e uma bagagem própria de quem atravessou por diferentes gerações da música pernambucana. Na próxima sexta-feira, 18, o artista, natural de Goiana, lança nas plataformas digitais o EP “Silêncio”, seu segundo trabalho solo, no qual assina composição, arranjos e produção musical.
“Ser músico independente já é complicado, quem não faz parte do centro do Estado, quem não tá na Capital, pra chegar lá é mais difícil ainda. Até por dificuldades geográficas mesmo, por exemplo, não tem transporte voltando pra cá pra Zona da Mata depois das 19 horas da noite”, explicou.
Para Valfrido, qualquer músico do Interior de Pernambuco sofre com dificuldades para chegar aos ouvidos da Capital, contudo, cada vez mais a distância vai diminuindo. “Já tem uma cena forte aqui na Zona da Mata, tem uma música urbana nos centros, como Goiana, Capina, Nazaré da Mata, Condado e Itaquitinga, que sempre existiu e que tem um público notável”, disse. O cantor, além da carreira solo, também faz parte de um coletivo de artistas, o Projeto Tertúlia, um agrupamento com músicos e poetas da Zona da Mata que também é formado por Sam Silva, Lucas Torres, Ezter Liu e Philippe Wollney.
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Ao longo de sua carreira, o músico já passou por duas pausas, a última durando sete anos, e, nesse segundo retorno, em 2015, Valfrido Santiago estabeleceu uma meta ousada – faria cinco discos até os 60 anos. “Esse ano, eu gravaria o segundo disco desse plano, mas aí veio a pandemia e eu fiquei trancado em casa, aí tive a ideia de fazer um EP voz e violão aqui em casa mesmo, comecei a gravar isso e já fui mudando algumas coisas, vi que só voz e violão não davam, fui colocando outros instrumentos e hoje o projeto final é um LP que eu pretendo lançar no ano que vem com 10 músicas, esse é o lado A da produção”, explicou.
Embora não se considere músico, Valfrido se aventurou, superou limites e tocou todos os instrumentos no EP, de pandeiro a bandolim, passando por bateria e piano. Sou viciado em aprender, mas não sou músico, gosto de aprender minha relação com aquele instrumento para dar vida às minhas músicas. Me considero mesmo compositor”, disse.
O próprio Valfrido era brincante do maracatu e saiu, por 15 anos, como caboclo na brincadeira, mas sempre manteve um lado seu como músico autoral um pouco mais distante da tradição. Com influências que transpassam as vivências do artista na Mata Norte, o cancioneiro brasileiro, o jazz americano e inspirações em nomes como Núbia Lafayette e Evaldo Braga, Valfrido equilibra bem o erudito com suas raízes populares da Zona da Mata, sendo uma referência para as novas gerações. Ao todo, o músico acumula mais de 35 anos de estrada musical, e segue firme com seu projeto para o 60 anos. “É a minha pretensão ainda, e na verdade eu considero o Ep do Tertúlia o segundo, então eu tô fazendo o terceiro e só faltam mais dois discos”, conclui, esperançoso.
SERVIÇO
EP “Silêncio” de Valfrido Santiago
Lançamento digital em 18 de dezembro nas plataformas Spotify, Deezer, Shazam, Apple Music, Google Music e Napster
Mais informações nas redes sociais: @valfridosantiago