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A "Saudosa Maloca" de Adoniran Barbosa ganha as telas de cinema

Longa-metragem dirigido por Pedro Serrano traz Paulo Miklos no papel do sambista, que conta os "causos" que embalam suas canções

Paulo Miklos vive Adoniran Barbosa, que conta seus "causos" ao garçom Cícero (Sidney Santiago Kuanza)Paulo Miklos vive Adoniran Barbosa, que conta seus "causos" ao garçom Cícero (Sidney Santiago Kuanza) - Foto: Divulgação

“Se o sinhô não está lembrado/ Dá licença de contar/ Que aqui onde agora está/ Esse ‘adifício’ arto/ Era uma casa velha/ Um palacete abandonado”. Os versos abrem uma das mais emblemáticas canções do paulista João Rubinato, mais conhecido como Adoniran Barbosa (1912-1982), sambista que personificou a cidade de São Paulo em suas composições, verdadeiras crônicas da megalópole e do seu povo. 

“Saudosa Maloca” é a canção que dá nome ao filme que estreia hoje (21), nos cinemas de todo o Brasil. O longa, dirigido por Pedro Serrano, traz no papel principal o ator/músico Paulo Miklos. No enredo, as venturas e desventuras de Adoniran junto aos amigos Mato Grosso (Gero Camilo) e Joca (Gustavo Machado) – personagens da canção – para conseguirem se manter em sua maloca, que está ameaçada pela especulação imobiliária.

O filme se passa em dois tempos: nos anos 1980, um Adoniran já idoso, senta-se à mesa de um bar e conta seus “causos” para Cícero (Sidney Santiago Kuanza), garçom novato do estabelecimento. As histórias do sambista se passam nos anos 1950, em uma São Paulo que não existe mais.

Adoniran, velho conhecido
Não é a primeira vez que Paulo Miklos interpreta Adoniran Barbosa. Em 2015, ele encarnou o sambista no curta-metragem “Dá Licença de contar”, também de Pedro Serrano. “Saudosa Maloca” é um desdobramento do curta. “Pude fazer um Adoniran maduro, com mais competência”, conta Paulo sobre esse “reencontro” com o personagem.

“É uma responsabilidade muito grande viver esse meu ídolo. Sou muito fã do Adoniran, das músicas dele, da figura, desse personagem que ele mesmo criou, que é riquíssimo, com um repertório fantástico”, diz Miklos. “Ao mesmo tempo, poder me valer da minha capacidade como músico para estar em cena e cantar. Foi uma delícia poder usar essas duas coisas que amo fazer: atuar e cantar”, destaca.

Joca (Gustavo Machado), Adoniran Barbosa (Paulo Miklos) e Mato Grosso (Gero Camilo) Joca (Gustavo Machado), Adoniran Barbosa (Paulo Miklos) e Mato Grosso (Gero Camilo) se viram para não serem despejados da maloca em que vivem | Foto: Divulgação

Foi decisão de Pedro Serrano não fazer uma cinebiografia de Adoniran, o que seria o caminho mais usual. “A gente ouve ‘Saudosa Maloca’ e percebe o quanto é uma narrativa visual, o quanto tem personagens fortes, marcantes, que estão enraizados na cultura popular”, diz o diretor. “Mais original e mais legal seria poder trazer vários dos personagens dos sambas dele, várias histórias para o mesmo roteiro, convivendo entre si”, enfatiza.

Além de Joca e Mato Grosso, Iracema (Leilah Moreno) também aparece no filme. Outros personagens, como o famoso “Arnesto”, também são citados, em um roteiro entremeado por diversas canções de Adoniran, como “Trem das Onze”, “As mariposa”, “Abrigo de vagabundos”, “Um samba no Bixiga” etc.

Cronista social
Os “causos”que o sambista conta a Cícero giram em torno de uma história central: Adoniran, Joca e Mato Grosso, três “sem eira nem beira”, tentam dar seus pulos – até arrumar emprego – para não serem despejados da maloca em que vivem, que está ameaçada pela especulação imobiliária. O progresso desenfreado, o capitalismo, a busca por emprego (ou um “bico”), a luta do povo humilde pela sobrevivência. Essas são questões sociais que Adoniran traz à baila em suas canções, com um verniz bem humorado, que era uma marca sua.

“A abordagem de Adoniran sobre as questões sociais, sobre o povo, é de empatia, de quem se coloca no lugar do outro. Mas não terceirizando, não olhando de fora, e sim como parte dessas vivências”, aponta Serrano. “Ele é um cronista e proporciona uma empatia da gente por esse povo simples, os marginalizados”, diz Miklos.

“Uma capacidade do Adoniran de fazer uma crítica muito específica sobre esse progresso, o capitalismo, a necessidade de conseguir trabalho, a luta pela sobrevivência, mas, ao mesmo tempo, trazer o prazer, o samba, o lado bom da vida, a turma que quer viver ‘forgadamente’”

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