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A trama sem pudores e arrebatadora de "Tieta" é reexibida na Globo

A partir desta segunda (2), a novela será reprisada no "Vale a Pena Ver de Novo"

Foto: Globo/Divulgação

Falar de “Tieta” é sempre motivo de orgulho para Aguinaldo Silva. No entanto, a primeira palavra que vem à cabeça do novelista ao relembrar os bastidores da trama é: desespero.

Adaptar um dos clássicos mais consagrados de Jorge Amado para a tevê era um convite e tanto. Porém, a oferta foi inesperada e com prazo curto.

Em junho de 1989, Aguinaldo recebe a ligação de Boni e Daniel Filho falando que ele foi o escolhido para adaptar o livro para a tevê.

Sem poder recusar, o autor apenas foi informado que teria cerca de 25 dias para entregar a sinopse e que a estreia seria em agosto do mesmo ano.

“Fiquei apavorado. Nem lembrava direito a história do livro. No mesmo dia, comprei um exemplar e, mentalmente, já fui vendo o que seria interessante para a tevê ou não. Apresentei uma sinopse óbvia. E, por fim, conseguimos estrear na data marcada. O resto é história”, detalha o autor, sobre o folhetim que retorna ao ar na faixa saudosista “Vale a Pena Ver de Novo”, a partir da próxima segunda, dia 2 de dezembro, 35 anos depois de sua exibição original.

Já reprisada nas tardes da Globo, em 1994, e restaurada para ser exibida pelo canal pago Viva! em 2017, a produção também foi resgatada com sucesso pelo Globoplay no último mês de setembro.

O retorno marca o início das comemorações dos 60 anos da Globo, a serem celebrados no ano que vem.

Na trama, a subversiva Tieta, de Cláudia Ohana, é expulsa da pequena e tradicionalista Sant’Ana do Agreste pelo pai, Zé Esteves, de Sebastião Vasconcelos. Humilhada por toda a cidade e execrada por sua irmã, Perpétua, de Joana Fomm.

A jovem acaba fazendo a vida como prostituta em São Paulo e depois enriquece como cafetina.

Após 25 anos, a protagonista, agora interpretada por Betty Faria, volta à cidade exibindo toda sua riqueza e exuberância.

Lá, reencontra velhas amizades, encara a sociedade careta, enfrenta dilemas do passado e ainda redescobre a paixão por Osnar, de José Mayer. “Tudo na personagem era encantador. Acho que é por isso que se tornou inesquecível e exerce uma força mítica nos telespectadores. Até hoje colho os louros por ter vivido Tieta”, conta Betty Faria.

Anos antes, atriz foi casada com o então diretor de teledramaturgia da Globo Daniel Filho, com quem teve um filho, e coincidentemente havia adquirido os direitos sobre a obra de Jorge Amado pouco tempo antes de a novela ser aprovada para entrar em pré-produção.

Ser a protagonista da trama foi uma das imposições para liberar a adaptação da história, o que não impediu que Betty fizesse Tieta de forma irretocável.

Segunda novela das oito a ir ao ar depois do processo de abertura política do Brasil, o sentimento de liberdade pautou toda a adaptação da trama, feita por Aguinaldo em parceria com os então novatos Ricardo Linhares e Ana Maria Moretzsohn.

“A história daquela mulher que volta ao seu lugar de origem de forma suntuosa já era brilhante e conflituosa. Tieta era o símbolo da liberdade na terra do coronelismo”, conceitua Ricardo.

Da cabeça de Aguinaldo e seus parceiros, personagens com mínimas passagens no livro foram encorpados e novos tipos foram inseridos de forma coerente no contexto da trama, sempre abusando do realismo fantástico.

Em performances acima da média, muitos foram os nomes de destaque da novela: Lídia Brondi, Arlete Salles, Yoná Magalhães, Luiza Tomé, Paulo Betti, Armando Bógus, Rosane Gofman, Lilia Cabral, Ary Fontoura e Cássio Gabus Mendes, entre outros.

“Meu personagem vivia entre o sagrado e o profano. Assim como toda a cidade. A novela discutia muito as hipocrisias do mundo”, analisa Cássio, intérprete de Ricardo, sobrinho de Tieta que vive um tórrido affair com a tia.

Sob o comando do falecido diretor geral Paulo Ubiratan, muitas sequências da trama foram gravadas em Mangue Seco, região do Norte da Bahia.

Já a fictícia Sant’Ana do Agreste foi projetada em Guaratiba, Zona Oeste do Rio de Janeiro, em uma área de 10 mil m². “Tivemos dois meses para botar ‘Tieta’ no ar. A novela demandava muitas cenas externas e a cidade cenográfica não ficou pronta a tempo.

Só no decorrer da trama é que a gente começou a fazer as sequências mais abertas e mostrando a cenografia. Antes disso, era quase tudo estúdio e close”, conta Ivan Zettel, assistente da equipe de direção à época.

Em 196 capítulos, “Tieta” tornou-se uma comoção nacional, acabou em uma intensa tempestade de área que destruiu e dizimou toda a cidade.

Até hoje, é a segunda maior audiência das telenovelas da Globo – só perde para “Roque Santeiro”, de 1985.

“Foi tudo feito de forma tão rápida que chegaram a cogitar que seria um fracasso. Mas tudo deu certo graças ao comprometimento de toda a equipe”, exalta Aguinaldo Silva.

“Tieta” no “Vale a Pena Ver de Novo” – Globo – de segunda a sexta, às 17h. novela completa disponível no Globoplay.

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