Academia se recusou a comentar espancamento e prisão de cineasta palestino, diz codiretor israelense
'Vários membros da Academia dos EUA pressionaram por um posicionamento', escreveu Yuval Abraham; Hamdan Ballal foi liberado na última terça-feira
O israelense Yuval Abraham, um dos diretores de "Sem chão", documentário vencedor do Oscar 2025, reclamou do tratamento que a Academia de Hollywood deu ao caso de Hamdan Ballal, palestino que também dirigiu a obra e foi espancado por colonos na Cisjordânia e preso pelo exécito de Israel.
"Infelizmente, a Academia dos Estados Unidos, que nos concedeu um Oscar há três semanas, se recusou a apoiar publicamente Hamdan Ballal enquanto ele era espancado e torturado por soldados e colonos israelenses", escreveu Yuval Abraham.
"A Academia Europeia manifestou apoio, assim como inúmeros outros grupos de premiação e festivais. Vários membros da Academia dos EUA — especialmente da categoria de documentário — pressionaram por um posicionamento, mas ele foi, no fim, recusado. Disseram-nos que, como outros palestinos também foram agredidos no ataque dos colonos, isso poderia ser considerado não relacionado ao filme, então não sentiram necessidade de responder."
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Ballal foi liberado pelo exército na última terça-feira, depois de uma mobilização que começou com um post de Abraham no X: "Um grupo de colonos acaba de linchar Hamdan Ballal, codiretor do nosso filme 'Sem chão'" escreveu Yuval. "Eles o espancaram, e ele está com ferimentos na cabeça e no estômago, sangrando. Soldados invadiram a ambulância que ele chamou e o levaram. Não há sinal dele desde então."
O documentarista foi atacado em Susya, sua vila natal, por pelo menos 20 pessoas mascaradas, a maioria adolescentes armados com pedras, paus e facas, de acordo com Joseph Kaplan Weinger, de 26 anos. Weinger faz parte de uma iniciativa voluntária que fornece proteção em áreas vulneráveis à violência dos colonos.
Hamdan Ballal Al-Huraini nasceu em 1989, em Susiya, uma vila na Cisjordânia a cerca de 60 km ao sul de Jerusalém. Já trabalhou como fazendeiro e, além de se tornar cineasta, também participa de iniciativas de defesa dos direitos humanos. Entre elas, faz pesquisa de campo documentando incidentes relacionados à ocupação israelense e também faz parte da "Humans of Masafer Yatta", que destaca histórias pessoais da região.