"Água pras Crianças": disco de inéditas de Zé Renato alerta sobre a importância das águas
Lançado pelo Selo Sesc, álbum tem a participação de Lenine e Geraldo Azevedo, entre os convidados
Cai bem em uma brincadeira de roda ou em uma sessão de cantorias de aniversário. O tanto quanto serve (e talvez, principalmente) para “ninar” adultos sobre a importância do tema. O disco “Água pras Crianças”, trabalho idealizado pelo cantor e compositor capixaba Zé Renato, e lançado recentemente nas plataformas de música pelo Selo Sesc, é necessário para quaisquer idades e chega ainda em tempo de despertar, em tom lúdico e reflexivo, sobre o sem número de retrocessos ambientais e em especial, sobre a (quase) falta d’àgua que ameaça todo o planeta.
Um clamor que o ex-integrante do Boca Livre tomou para si e compartilhou em letras e melodias fáceis, fluidas e dançantes, tomadas por dez faixas inéditas que reforçam como um grito de alerta a urgência de formar gerações conscientes e, quiçá, salvar a humanidade.
Ao lado de Lenine e Geraldo Azevedo, entre os convidados da empreitada musical e ambiental, Zé Renato levou também para o disco Pedro Luís, Marina Íris e o coro do Instituto Sabendo Mais - que integra a Escola Nova Holanda, localizada na Comunidade da Maré, no Rio de Janeiro.
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Zélia Duncan, J. Velloso, Ivan Santos, Paulinho Moska, Paulo César Pinheiro, Flávia Ventura, Juca Filho e Joyce Moreno assinam letras do álbum que, numa mescla de ritmos que passa pelo samba, pela ciranda e pelo coco, entre outros, foi gravado antes da pandemia e era projeto antigo e desejado por Zé – artista que gradativamente tem voltado a pisar nos palcos presenciais, inclusive ao lado do filho, o guitarrista João Moschkovich. Os dois estiveram juntos e fizeram a reabertura do Teatro Rival (RJ) no último mês de junho.
Em parceria com Pedro Luís, em letra e cantoria, “Pra Chover Mais Peixe” abre o disco com melodia animada e avisando “pra toda gente” que para chover mais peixe e inundar o mar, colorir o rio, vai ter que cuidar. Já em “As Nossas Águas Vão Rolar”, Zé divide letra com Zélia Duncan e remonta à história do Brasil, desde a chegada das caravelas portuguesas, quando as águas eram mais azuis. “E por que agora o mundo inteiro joga lixo?”.
“Gota”, faixa seguinte aberta pelo coro do Sabendo Mais – que, aliás, está presente em todas as canções do disco – traz em tom de samba e com a voz da cantora e compositora Marina Íris, a assustadora realidade de que o ‘Velho Chico’ (Rio São Francisco) pode não resistir.
Em “Queimada”, Lenine dá as caras e ressalta sobre a “maré cheia que pode secar” e Geraldo Azevedo convida para cirandar na beira do mar em “Ciranda das Águas”. Com Paulinho Moska, Zé Renato assina “Pra Natureza Recomeçar” e entoa a importância da chuva e dos novos começos que as “águas transparentes que caem do céu” podem possibilitar.
“Cada Gota é um Tesouro” exalta, em introdução solo do coro dos pequenos do Instituto, que restos de desamor podem fazer secar as águas e elas, as crianças, precisam ser chamadas como salva-vidas da natureza.
Zé Renato segue impondo didaticamente mensagens necessárias em “A Partida” e em “Água pra Quê”, e finaliza em “De Onde é Teu Navio?”, com virtuosidade e esmero que, não à toa, o coloca entre os nomes da música brasileira que enveredam sem acanhamento com a arte aliada a questões ambientais/sociais.
Dessa vez, ele percorreu pela imensidão dos universos pueris dos pequenos, que podem ser a resistência que falta para salvaguardar as vastidões de naturezas afetadas pela desumanidade dos maiores que um dia eles também serão.