Álbum de Alexandre Gois e Joaquim Pessoa reverencia a MPB
"Desassossego" marca estreia da dupla de compositores pernambucanos e conta com participação especial de Mônica Salmaso e de nomes da cena pernambucana
Inquietações, na arte, soam como manifesto. De quando em sempre são bem-vindas e quando chegam livres de obviedades, causam furor aos ouvidos (atentos). Na música brasileira – sobretudo a que se harmoniza pelo contexto de letra e poesia – algumas descobertas colorem e, consequentemente, dão o tom de permanência, tal qual tem feito Alexandre Gois e Joaquim Pessoa, que brindam a Música Popular Brasileira com o disco “Desassossego”, lançado recentemente em dez faixas autorais que colocam a dupla no rol dos grandes nomes do cancioneiro no País.
O álbum, creditado pelo selo Biscoito Fino e gravado no Estúdio Carranca, com produção de Carlinhos Borges, catalisador de todo o trabalho, expõe parte do trabalho da dupla que fincou na arte de compor a amizade de longa data, sendo este o nascedouro da trajetória artística de ambos. “As músicas nasceram dessa relação, dessa vontade de estar mais juntos. Somos amigos há um bom tempo e tínhamos parcerias mais sazonais, mas de um tempo para cá trocamos arquivos de letras e melodias que tinham uma confluência muito grande”, conta Joaquim, que "mandava a melodia e ele (Alexandre) devolvia com a letra”.
O caminho foi a culminância de um disco levado por canções de sonoridades limpas, seguras e afinadas, com a completude notória que um demanda ao outro. “Antes tarde do que nunca e nos assumimos como uma dupla. Estávamos aqui, mas talvez em um estado de hibernação pessoal e para onde a gente não retornará”, ressalta Alexandre, que reforça sobre a parceria com Joaquim, entendida por ele como uma química, "coisa muito cara porque não é fácil de achar e nos alimentamos disso, letra e música”.
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Cena Pernambucana
“A Mônica (Salmaso) foi uma das que a gente questionou: já pensou se ela cantasse a nossa música? E ela quando ouviu, adorou e topou. E é essa lindeza”, discorre Joaquim sobre a participação da cantora paulista na faixa “Os Rios Desta Canção”.
Mônica integra o elenco de convidados do disco, aberto por “Cais”, canção que traz a participação do petrolinense Zé Manoel ao piano. “Nesse processo de conversar e conceitualizar o disco, tínhamos algumas premissas: um álbum orgânico e de poucos elementos. Fomos vendo cada faixa que deveria entrar e para cada uma das participações e foi o caso de Zé, um amigo querido nosso”, conta Joaquim. A faixa, aliás, ganhou clipe de Vítor Fiúza e se tornou música de trabalho do álbum.
A imensidão da cena pernambucana segue ao longo do disco com Almério e Flaira Ferro em “Os Prazeres”, canção que no decorrer de pouco mais de oito minutos exige destreza de interpretação e, portanto, defende Joaquim, que “Era preciso artistas fortes o suficiente para defendê-la”.
Já a voz de Isadora Melo dá a “Abajur” o tom de desespero (necessário), incrementado pelo piano de Amaro Freitas, que retorna em “Filme de Mim”. “Um (Quase) Fado para o Recife”, “Pra Depois do Tempo”, “Despurodamente”, “Leve” e “Retratos” completam o álbum sob a regência da voz de Alexandre e dos violões de Joaquim.
Quarteto Encore, Gilu Amaral, Henrique Albino, Ricardinho Fraga, Rogério Samico, Caca Barreto, Bráulio Araújo, Júlio César e Fabinho Costa são outros nomes que compõem “Desassosego”, título que veio (também) inspirado pelo livro de Fernando Pessoa mas, sobretudo, pelo enlace necessário e urgente de compartilhar o poderio de algumas das composições "engavetadas" da dupla há pelo menos cinco anos.
“As faixas do disco nos selecionaram e nelas contamos uma história como se fosse um livro. Estávamos por aí, o Joaquim e eu, fizemos trabalhos com pessoas diferentes mas desde o início havia admiração recíproca, com as mesmas referências estéticas e num determinado momento nos provocamos”, conclui Alexandre.
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