'Além da Cura': documentário pernambucano traz novos olhares sobre o câncer
Por meio de depoimentos, o projeto - idealizado por duas pernambucanas - busca ouvir relatos de mulheres acometidas pela doença ao redor dos cinco continentes; por meio de financiamento coletivo o trabalho busca chegar ao cinema e à Netflix
“Foi uma mudança muito rápida, em todos os níveis. Aparência, forma de estar, de viver a vida, de amar os outros. Tudo isso mudou”. Pois é... Assim como tanta coisa mudou para Margarida Guimaraes (Portugal), ao receber o diagnóstico de câncer, provavelmente as mesmas palavras servem para outras tantas milhares de mulheres em todo o mundo que se deparam com a doença. A diferença - que sim, pode fazer diferença - é ter a oportunidade de falar para ser ouvida por um bocado de gente no cinema, por exemplo.
Este é o objetivo do documentário "Além da Cura", projeto permeado por depoimentos colhidos nos cinco continentes com mais de cinquenta mulheres sobre o que é/como é "carregar" o tumor em paralelo a sonhos, famílias, amigos e autoestimas, idealizado pela fotógrafa e cineasta Bruna Monteiro, 27 anos, a partir de uma história pessoal vivenciada em sua infância.
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O projeto caiu na estrada a partir de 2015 e ouviu vozes em Portugal, Alemanha, França, Brasil, Argentina, África do Sul, Quênia, Índia e Austrália, com recursos arrecadados por meio de financiamento coletivo. O próximo passo é chegar às telas do cinema, do streaming, da TV e de quaisquer outros meios que levem as vivências dessas mulheres ao encorajamento de outras pessoas que passam pela mesma situação. Para dar continuidade à produção e exibição do documentário, que está em vias de ser finalizado, apoiadores da causa podem acessar o endereço www.catarse.me/alemdacura e integrar a rede do projeto que busca na comunicação alcançar mais e mais ouvidos.
"Eu não soube lidar quando um dos meus melhores amigos foi detectado com câncer. Sofri, não ajudei e cheguei à conclusão de que havia falta de informação a respeito da doença", contou ela à Folha de Pernambuco. Desta forma, a velha máxima de que "comunicar é mesmo preciso" nunca soou tão relevante para o que pretende o documentário. "O 'Além da Cura' é sobre uma ode à vida, a necessidade de ser reconhecido como gente, com dignidade. É nesse ponto que o projeto atua", complementa.
Muitas vozes e a mesma solidão
Foram muitos os relatos ouvidos por Bruna e por sua sócia, Estefane Oliveira, que também integra o projeto junto a pelo menos outras 15 pessoas que se voluntariam em contribuir com as produções de conteúdo pensados pelo "Além da Cura" - podcasts, webséries e palestras integram o rol de formatos trabalhados pela organização que foca em explorar maneiras de lidar com o câncer.
Embora em vozes distintas, em comum a quase todas elas estava a solidão no enfrentamento da doença. "Incrível como elas se sentem sozinhas e como as pessoas não entendem e isso faz com que as próprias mulheres tenham que consolar as pessoas", conta a idealizadora quando questionada sobre a semelhança dos discursos trazidos ao documentário.
Um "abandono" que enaltece ainda mais a necessidade de proliferar o documentário e empoderar outros casos, despertar novos olhares sobre a vida (e a morte, que seja), desde que tudo isso seja encarado com sabedoria por quem está com câncer e/ou a todos que estão ao lado de quem foi acometido com a doença. "Oh, coitada! Pobre alma! Mas eu odiava isso. Eu ficava, tipo: eu ainda não estou morta. Você pode reservar essas condolências para os meus pais, quando eu morrer. Se eu morrer. Eu não preciso morrer agora". De fato, Kritika (Índia), outra das 50 mulheres ouvidas em "Além da Cura".
Recentemente, aliás, Bruna deu início à campanha, no perfil oficial do filme no Instagram (@alemdacura), para levar o projeto à plataforma de streaming Netflix. "Isso é completamente possível", adverte a publicação. "A Netflix tem a possibilidade de convidar filmes que já estão editados e queremos chegar lá. Com vocês", convoca, assim, o público a ajudar.