Alfonso Cuarón elogia "Ainda estou aqui": "Assistir a um filme de Walter Salles é ser abraçado"
Diretor mexicano recebeu quatro estatuetas do Oscar pelos trabalhos em "Roma" e "Gravidade"
O cultuado cineasta mexicano Alfonso Cuarón, quatro vezes vencedor do Oscar, pelos trabalhos em "Roma" e "Gravidade", escreveu um texto para a revista Variety em que elogia o trabalho de Walter Salles em "Ainda estou aqui".
O longa brasileiro está entre os 15 pré-indicados na categoria de melhor filme internacional no Oscar 2025.
Pelo visto, Salles já pode contar com o voto do colega mexicano na premiação.
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Há duas semanas, Cuarón mediou sessão de perguntas e respostas com Salles e Fernanda Torres em Londres, após uma exibição de "Ainda estou aqui" na capital inglesa.
Os esforços do mexicano têm chamado a atenção nas redes sociais, afinal um dos principais adversários de "Ainda estou aqui" na temporada de premiações tem sido "Emilia Pérez", musical francês passado do México.
Por retratar uma realidade violenta do México a partir do olhar de artistas estrangeiros, muitos especulam que o longa teria desagradado realizadores mexicanos.
Confira o texto de Cuarón na Variety:
Rio de Janeiro, 1971. Eunice Pavia flutua alegremente nas águas mornas do Oceano Atlântico quando sua paz é interrompida pelos rotores de um helicóptero militar que, como uma nuvem ameaçadora, voa sobre a baía do Rio de Janeiro.
Na praia, um cão de rua invade a quadra, onde sua filha adolescente, Veroca, joga vôlei. Marcelo, seu filho de 11 anos, pega o cão e corre para casa do outro lado da rua, onde encontramos seus outros irmãos.
Lá, ele pergunta ao pai, Rubens Paiva, se eles podem adotar o vira-lata desleixado.
E enquanto somos guiados pelos espaços onde a família vive, somos convidados a compartilhar sua intimidade e seus sonhos com uma imediatez que é quase palpável.
Por meio de sua história, testemunhamos a destruição da harmonia quando Rubens é levado de sua casa pelas forças armadas, e seguimos a luta determinada de Eunice para trazê-lo de volta.
Assistir a um filme de Walter Salles é ser abraçado com generosidade, é como sentir uma atração gravitacional, que nos eleva e nos aterra ao mesmo tempo com uma força invisível, mas inegável.
Com “Ainda estou aqui”, esse efeito é ainda mais convincente. Walter, que era próximo da família Paiva, não apenas narra uma história real de terror, resiliência e aceitação, mas também entrega uma memória pessoal e coletiva — um conto de advertência que é um espelho assustador de tempos políticos tensos do passado e do presente.
Acima de tudo, Walter nos envolve em uma meditação sobre a passagem do tempo e nossa própria impermanência, deixando o amor como a única força que perdura.