“O que é arte? Para que serve?”. Essas eram as perguntas penduradas no pescoço de um jovem Paulo Bruscky, que emprestava seu corpo para anúncios ao passear pelas ruas do Recife em 1978. Artista multimídia, poeta, inventor e pesquisador conhecido por testar os limites da prática artística - assim pode ser  resumido Bruscky.

É na tentativa de contemplar a vastidão da sua obra que a Galeria Marco Zero inaugura a mostra de Paulo, intitulada “Alto-retrato”, nesta quarta-feira (19), que conta com curadoria de Moacir dos Anjos e tem como objetivo apresentar uma retrospectiva de um dos pioneiros da arte conceitual pernambucana.

Paulo Roberto Barbosa Bruscky
Aos 73 anos de idade, o poeta já participou de quatro edições da Bienal de São Paulo e suas obras integram acervos do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMa), do Museu Solomon R. Guggenheim, e do Museu de Arte Moderna de São Paulo (Masp).

Ele despertou interesse pela arte desde jovem no ateliê de fotografia do seu pai. Já enquanto cursava Jornalismo, grafitou muros com mensagens contra a ditadura militar, resultado da postura crítica e militante do artista, cujo princípio da carreira coincide com a ascensão de governos militares na América do Sul. Característica que, eventualmente, o levou para a prisão durante o regime e acarretou em censura de uma de suas exposições, que foi fechada um dia após inaugurada. 

Mas nem por isso Bruscky deixou de mirar seus trabalhos em alfinetadas contra o governo. O caráter crítico se manteve presente até os dias de hoje, como uma de suas últimas mostras, “A virulência da arte”, recheada de oposições à má gestão da pandemia, e que ficou famosa com a série “MascarAção”, na qual colocou máscaras em estátuas no Centro do Recife.

“Para que serve a arte? No dia que souber, eu paro"
Paulo acredita na arte como combate contra o tédio e, por isso, o uso de atributos multimídia nos seus trabalhos. Desenhos, pinturas, gravuras, performances, produções de livros, arte postal, áudio-arte, intervenções urbanas, filmes em Super-8, artdoor e xerografia são apenas alguns dos elementos que compõem seu acervo autoral. Um dos pilares do autor é a ideia de arte como informação, marcada pelo experimentalismo constante. 

“Não tenho pena da minha obra. Por isso, eu pego, mexo, rasgo, faço outra coisa. Nada para mim está acabado. Se a vida é efêmera, por que a arte não pode ser? Tudo para mim é ‘work in progress’ sempre”, explica o artista.

O "Alto-retrato" do artista
Nesta mostra estarão expostas obras históricas nunca antes exibidas no Recife e outras completamente inéditas: “Os apreciadores de arte da nova geração precisam ver de perto a profusão de mídias e técnicas utilizadas por Paulo. Ele é um artista de trabalhos consolidados de várias décadas, reconhecido internacionalmente, mas talvez ainda seja desconhecido por essa nova geração”, comenta Moacir dos Anjos, que assina a curadoria.

Ocupando todos os espaços expositivos da galeria, a exibição apresenta mais de 100 trabalhos do artista desenvolvidos ao longo de 54 anos de carreira. Esta é a primeira vez que uma mostra tão abrangente de Bruscky é realizada em Pernambuco, seu estado natal. A individual tem como missão capturar um recorte extenso do poeta para tentar entender como ele se construiu. 

“Para mim, essa é uma das exposições mais importantes da minha trajetória. Eu considero uma retrospectiva  porque vem do início da minha carreira até as últimas obras”, comenta o autor.

Serviço:
Exposição “Alto-retrato” 
Quando: a partir de 19 de outubro
Onde: Galeria Marco Zero - Avenida Domingos Ferreira, 3393, Boa Viagem
Instagram: @galeriamarcozero
Acesso gratuito

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