"Amigos de Risco": filme pernambuco chega ao circuito comercial depois de 15 anos
Depois de ser extraviado em 2008, longa-metragem ganhou nova cópia remasterizada
“Amigos de Risco”, filme do pernambucano Daniel Bandeira, é marcado por dois enredos: um ficcional, que traz Irandhir Santos no seu primeiro papel de destaque, e outro real, vivido por toda a equipe envolvida na obra. Gravado em 2005 e exibido pela primeira vez em 2007, o longa-metragem estreou no circuito comercial somente nesta semana, após um longo período atravessado por uma batalha judicial.
A exibição do filme na Mostra de São Paulo, em 2008, seria uma das últimas antes do seu lançamento nas salas de cinema. Só que, no dia da sessão, a única cópia finalizada do longa, em 35mm, acabou sendo extraviada no aeroporto. Na ocasião, só restou uma versão de rascunho da obra, que foi apresentada no festival. O processo jurídico para conseguir compensar os danos causados pelo desaparecimento da película, no entanto, só estava começando.
Levou alguns anos para que um acordo com a companhia aérea responsável pelo extravio fosse firmado. A empresa acabou custeando a remasterização do filme, que teve sua nova cópia exibida em 2015, no Janela Internacional de Cinema do Recife. “O filme passou por mais uma correção de cor e agora existe em formato digital. Apareceram alguns risquinhos na tela, por conta de alguns problemas na recaptura das imagens, mas acho que eles acabaram ficando bem como cicatrizes de guerra. Achei interessante manter algumas marcas dessa epopéia que o filme passou”, comenta o diretor.
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A trama de “Amigos de Risco” é centrada no reencontro de Joca (Irandhir Santos) com Nelsão (Paulo Dias) e Benito (Rodrigo Riszla). Depois de passar um tempo longe do Recife, o personagem retorna e resolve aproveitar a noite ao lado dos antigos amigos. Tudo começa a dar errado depois que ele sofre uma overdose, obrigando seus companheiros a carregá-lo desacordado, enquanto atravessam a cidade deserta.
Daniel Bandeira foi buscar nas suas próprias experiências de juventude a inspiração a para a construção do roteiro. “Eu tive uma adolescência que coincidiu com o manguebeat. Eu frequentava o Bairro do Recife, onde havia toda aquela efervescência, mas na hora de voltar para casa, no subúrbio de Olinda, sabia que eu precisava ficar atento se quisesse chegar inteiro. Essa dualidade das vivências que eu tinha com a cidade sempre me chocou um pouco”, relembra
A passagem de tempo de mais de 15 anos confere ao filme a característica de retrato do passado. Para o diretor, no entanto, ainda é possível estabelecer conexões com o presente a partir da obra. “É um mundo completamente diferente, mas eu sinto que muita coisa continua a mesma. A cidade ainda é um ambiente hostil, onde coisas ruins podem acontecer. O longa trata dessa insegurança e de como as pessoas tentam rebater isso através de pequenos círculos de afeto”, aponta.
O cineasta também aponta para certas questões abordadas no filme, que sob o olhar trazido por debates aflorados nos últimos anos, acabam ganhando novos contornos. “Temos na história esse pequeno grupo de homens suburbanos, que veem um no outro uma forma de amparar a suas próprias existências. Eles representam um modelo de masculinidade que está em colapso. Acho que a gente conseguiu captar um pouco disso naquela época, mas só agora entendo o que é que estávamos falando”, observa.
Nomes que vieram a se destacar com outras produções do audiovisual pernambucano estão em “Amigos de Risco”, como Jr. Black, que faz uma participação no elenco, além de Pedro Sotero (diretor de fotografia), Marcelo Lordello (assistente de direção) e Juliano Dornelles (direção de arte). A estreia em circuito comercial foi capitaneada pela Vilarejo Filmes, das sócias Kika Latache e Livia de Melo, em parceria com a distribuidora Inquieta Cine.