Anitta agita as redes sociais em meio ao debate eleitoral
Pesquisadores veem a articulação de políticos com influenciadores digitais como uma boa estratégia
A cantora Anitta tem se posicionado como a grande influenciadora digital das eleições de 2022 após ter manifestado seu apoio ao ex-presidente Lula (PT), um movimento que deve ampliar o debate entre um público tradicionalmente distante da política.
A menos de três meses para as eleições presidenciais, 100 milhões de seus seguidores no Instagram, TikTok e Twitter receberam nas suas timelines, em 11 de julho, o posicionamento da cantora e um aviso tácito de que ela se oporia ao atual mandatário Jair Bolsonaro (PL).
"Não sou petista e nunca fui. Mas este ano estou com Lula e quem quiser minha ajuda pra fazer ele bombar aqui na Internet, tik tok, Twitter, instagram é só me pedir que estando ao meu alcance e não sendo contra lei eleitoral eu farei", tuitou a cantora.
Essa foi a primeira vez que Anitta, de 29 anos, sinalizou apoio a um candidato em um pleito eleitoral, posicionamento crucial para "furar a bolha" de apoiadores, segundo pesquisadores ouvidos pela AFP, que veem como uma boa estratégia a articulação de políticos com influenciadores digitais.
"A esfera pública se articula nas redes sociais, e isso significa que é preciso considerar o digital como central para a discussão, para o debate político", avaliou Issaaf Karhawi, pesquisadora em comunicação digital na Universidade de São Paulo (USP).
Karhawi observa que a entrada de Anitta no debate eleitoral pode atrair perfis que não costumam interagir com política, os chamados "isentões".
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"Esses influenciadores digitais não são necessariamente influenciadores que falam de política. São influenciadores que falam de lifestyle, de viagem, de muitos outros assuntos. Mas que, em certa medida, o posicionamento deles faz com que o jovem reflita sobre política", disse.
Nesse sentido, a cantora tem-se posicionado a favor da legalização da maconha, além de ter dado conselhos para Lula usar melhor o TikTok, uma das redes de vídeos curtos com maior engajamento de usuários jovens.
Segundo Pablo Ortellado, professor de políticas públicas na USP e coordenador do Monitor do Debate Político no Meio Digital, a adesão de Anitta à campanha de Lula "é carregada de um simbolismo, porque ela sempre mostrou reserva em relação ao PT".
A própria cantora deixou claro, em outro tuíte, que não queria ver sua imagem vinculada ao partido em si: "NÃO USEM MEU NOME e minha imagem para promover a candidatura e o partido de vocês por que quem usar vai tomar logo um forão", sentenciou.
presidência. Que isso fique bem claro. Meus ideais políticos e as coisas que eu acredito ficaram para as próximas eleições. Este ano meu foco é fazer minha parte para não dar brecha a esse possível pesadelo de reeleição. NÃO USEM MEU NOME e minha imagem para promover a
— Anitta (@Anitta) July 16, 2022
O pesquisador da USP diz que, devido ao alcance desses influenciadores, o endosso às campanhas políticas são importantes no meio digital. No entanto, não garante o respaldo da massa de apoiadores na hora de votar.
Segundo pesquisa do instituto Datafolha divulgada em 27 de julho, Lula lidera as preferências entre eleitores de 16 a 29 anos de 12 capitais brasileiras. O petista tem 51% do apoio dos jovens, contra 20% de Bolsonaro. A sondagem aponta que o ex-mandatário tem melhor desempenho entre as mulheres dessa faixa etária: 58%, ante 16% de Bolsonaro. Entre os homens, conta com 44%, enquanto Bolsonaro marca 24%.
Fazendo tremer as redes
O especialista em redes Pedro Barciela analisou a interação após a cantora ter anunciado o apoio ao ex-mandatário nas eleições gerais de outubro: "Ela permite que uma série de outros usuários que não estavam interessados no debate político, passem a se interessar".
"Quando a gente pensa nesses influenciadores, nesses atores centrais de outros agrupamentos que se engajam com a eleição, eles permitem e possibilitam que os candidatos se comuniquem com atores que estão para além da polarização", avaliou.
No entanto, nem tudo são flores, e a cantora de "Envolver" passou a ser alvo nas redes sociais de desqualificações e conteúdos falsos, inclusive de cunho sexista como "deep fakes".
Segundo Barciela, esse é o "modus operandi" dos apoiadores de Bolsonaro.
"O bolsonarismo atua de forma muito organizada no sentido de ser hierarquizado e ter sempre um alvo muito específico", complementa, ao citar outros exemplos, como os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin e do Superior Tribunal Eleitoral (TSE) Alexandre de Moraes.