Após 20 anos de negociação, USP recua, e maior museu de xilogravura do país tem destino incerto
Depois de concluído trâmite para receber coleção de 1770 peças, universidade agora diz que a incorporação de novas atividades não está nos planos
Durante duas décadas, o fundador do maior museu de xilogravura do Brasil, Antonio Costella, de 80 anos, avançou numa negociação para transferir seu acervo para a Universidade de São Paulo “quando morresse”. Ano passado, no entanto, o colecionador mudou de ideia e decidiu antecipar a doação, transferindo as obras para a USP ainda em vida, para ter certeza de que tudo correria bem. A universidade, voltou atrás, desistiu de receber as obras e, assim, o futuro do museu ficou incerto.
Inaugurada em 1987, a Casa da Xilogravura é um museu particular instalado em um prédio histórico de Campos do Jordão (SP) que abrigava o Mosteiro de São João, construído em 1928 — e que também estava no testamento de Costella para ser entregue à USP. Seu acervo de xilogravuras — feitas pela impressão de uma matriz entalhada em madeira sobre o papel — conta hoje com 1.770 obras. A técnica é disseminada pelo mundo todo, e, no Brasil, ajuda a contar a história do país, sendo bastante associada à cultura nordestina.
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Ex-professor da Escola de Comunicações e Artes da USP e ex-procurador da Prefeitura de São Paulo, Costella administra o museu junto com a mulher, Leda. Formada em artes plásticas, ela é especializada também em conservação, restauro e arquivística. A operação do museu é mantida com o lucro da Editora Mantiqueira, que funciona no mesmo espaço. O museu tem hoje três funcionários fixos, além de outros provisórios, e cobra ingressos de R$ 15 a R$ 30. A entrada é gratuita para excursões escolares de instituições públicas, e crianças até 12 anos e pessoas acima de 60 anos também não pagam.
— Foi melhor o reitor (da USP) ter recusado (a doação) agora, enquanto estou vivo, do que minha mulher receber essa resposta. Ela ia ficar com um abacaxi na mão. Não estou chateado, estou é meio surpreso com um negócio desse — afirma.
Há décadas que Costella começou a refletir sobre o destino do museu que tinha levado anos para erguer. Em 2002, ele consultou a USP sobre o interesse da instituição em ser beneficiária do acervo e do imóvel do museu e teve uma resposta positiva do então reitor, Adolpho José Melfi.
A USP não só confirmou o interesse como finalizou todos os trâmites para receber as obras, com aval de comissões técnicas e visitas ao local. Mas a chegada do novo reitor, Carlos Gilberto Carlotti Júnior, em 2022, mudou o cenário.
Na época, o colecionador foi convidado para uma reunião com Carlotti e ouviu do reitor que a instituição não tinha mais interesse no projeto. O custo com a manutenção do espaço foi colocado como o maior empecilho, diz o professor, apesar de a situação financeira do museu não ter mudado.
Procurada, a USP diz que a incorporação de novas atividades não está nos planos na universidade, cujo objetivo nesta gestão é aperfeiçoar as iniciativas existentes. “A USP não tem atividades na cidade de Campos do Jordão, o que implicaria maiores investimentos para a administração do Museu Casa da Xilogravura”, informou a universidade, em nota.