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Após dificuldade com linha de roupas, Beyoncé aposta em produtos para cabelo

Indústria da beleza para mulheres negras ainda tem espaço para mais lançamentos, dizem especialistas

Beyoncé lança linha de cuidados para os cabelosBeyoncé lança linha de cuidados para os cabelos - Foto: Divulgação

Após uma série de teasers no Instagram, Beyoncé lançou oficialmente sua linha de cuidados capilares, chamada Cécred, em 20 de fevereiro. A cantora já tem experiência no mercado de moda e beleza, incluindo a marca de vestuários de 2006 House of Deréon e a linha de roupas esportivas Ivy Park em 2016, além de várias fragrâncias, sendo a mais recente a Cé Noir, lançada no final do ano passado.

Embora suas linhas de roupas tenham enfrentado dificuldades, com a Deréon sendo descontinuada em 2012 e a colaboração da Ivy Park com a Adidas terminando em 2023 devido a vendas fracas, a indústria da beleza pode oferecer uma oportunidade diferente.

O mercado fragmentado de produtos para cabelos destinados a mulheres negras proporciona uma nova abertura aos empresários.

Uma chance de estar no topo
De acordo com um relatório da Nielsen, em 2022, os consumidores negros gastaram US$ 2,3 bilhões em produtos para cabelos. Em 2023, esse valor aumentou para US$ 9,4 bilhões em itens de beleza em geral. Embora os consumidores negros representem 11% de todos os gastos nesse nicho, marcas de propriedade de negros geraram apenas 2,5% da receita, de acordo com um estudo da McKinsey de 2022.

Para Megan Cox, CEO da Genie Supply, um laboratório e operação de produção que ajuda empreendedores na escala da indústria da beleza, o mercado “anseia por uma ruptura”

— Recebemos muitas consultas nesta área, mas a quantidade de capital necessária para lançar com sucesso uma marca de cuidados com os cabelos é grande.

Ela estima que uma empresa pequena e autofinanciada precisa de pelo menos US$ 50 mil a US$ 100 mil de investimento por produto para iniciar uma marca de haircare.

— Dados os números, as marcas de celebridades e aquelas com grandes apoios têm uma chance muito maior de lançar uma linha completa — diz.

De acordo com a Nielsen, marcas fundadas por celebridades atingiram US$ 1,1 bilhão em vendas pela primeira vez no ano passado. Cox aponta alguns precedentes: Jessica Alba conquistou uma participação significativa no mercado de cuidados com bebês com a Honest Beauty; da mesma forma, Rihanna com a linha de maquiagem Fenty Beauty.

— Agora Beyoncé pode fazer o mesmo no subsegmento de cabelos cacheados — diz.

Com 32 Grammys e quase 320 milhões de seguidores no Instagram, Beyoncé é o maior nome a atingir o mercado de beleza. E Cécred pode parecer mais orgânico para fãs da cantora por causa de sua história no espaço. Beyoncé usou perucas, tranças e uma variedade de estilos entre eles. Sua mãe, Tina Knowles, é ex-cabeleireira e dona de um salão onde, quando jovem, a estrela trabalhava e agora atuará como vice-presidente da marca.

“Como fundadora Black, era importante para mim concentrar-me onde via a maior necessidade de cuidados capilares saudáveis e colocar a inovação científica e o desempenho do produto acima de tudo”, diz ela num comunicado da marca.

Inspirada em rituais capilares de todo o mundo, a coleção Foundation da linha é composta por oito produtos que utilizam uma variedade de óleos, manteigas, extratos vegetais e água de arroz fermentada. Também incluído na linha está um fermento bioativo de queratina com patente pendente, feito com uma proteína de lã que imita a queratina do cabelo humano e usa um fermento prebiótico para a saúde do couro cabeludo. Ao todo, os produtos prometem limpar, hidratar e reparar.

A marca utilizou temas diversos e inclusivos – homens e mulheres, com texturas retas e crespas. Os produtos — shampoo, condicionador, máscara de tratamento, loção selante e óleo capilar —, todos com notas de bergamota, néroli, jasmim e sândalo, custam a partir de US$ 20.

Algumas marcas populares e premium começaram a participar tardiamente do renascimento dos cabelos cacheados. A Redken lançou o All Soft Mega Curls em 2018 devido à demanda de clientes que adotam texturas naturais. Kerastase, Oribe e Christophe Robin logo acompanharam o movimento. Em meados de abril, a Aveda lança sua coleção Be Curly Advanced.

— Sabemos que cabelos texturizados, torções, cachos e cachos não faziam parte da conversa quando se tratava de beleza. Nunca nos sentimos ouvidos, vistos ou valorizados neste espaço específico — diz Mowry.

O mercado
No entanto, alguns dos empreendedores negros bem-sucedidos no mercado de cuidados com os cabelos texturizados não são famosos. Os compradores são mais exigentes e consideram cada vez mais a qualidade e autenticidade de uma marca. O apoio de uma celebridade não importa para as compradoras, indicou uma pesquisa da Bloomberg Intelligence de 2023.

Cox também alerta que as marcas de celebridades podem parecer ter recursos ilimitados, mas tendem a ser “um pouco mais generalizadas em sua abordagem e, portanto, nem sempre agradam aos consumidores”.

Famosos ou não, os produtos voltados para usos específicos têm tido maior sucesso. Maya Smith, cosmetologista licenciada, cabeleireira e especialista em cachos, foi cofundadora da Doux em 2012. Sua linha de produtos é multifuncional, agilizando a rotina da mulher que, por exemplo, quer usar o cabelo natural na segunda-feira, mas mudar na terça-feira.

— Nenhuma das marcas existentes atendeu adequadamente às necessidades de indivíduos com cabelos texturizados que preferiam versatilidade, abrangendo tanto lisos quanto cacheados — fala Smith.

Smith obteve um investimento inicial de US$ 5 mil para a Doux por meio de seu trabalho como estilista. Nos primeiros seis anos, toda a receita foi reinvestida no negócio. Atualmente, a empresa é avaliada em milhões de dólares e seus produtos são vendidos nas prateleiras de grandes varejistas como Target, Walmart, Walgreens, Sally Beauty, CVS, entre outros.

Monique e Melvin Rodriguez, que fundaram a Mielle Organics em 2014, conseguiram um investimento de nove dígitos em 202, um mega negócio para uma empresa de cabelos de propriedade de negros e liderada por mulheres. A Berkshire vendeu sua participação para a Procter & Gamble por um valor não revelado no ano passado.

Antes de fundar a Briogeo em 2013, Nancy Twine estava esgotada no Goldman Sachs Group. Após a morte repentina de sua mãe, ela percebeu que queria causar um impacto maior no mundo da beleza natural. Sua marca, com coleções como Curl Charisma, é vendida nas lojas Sephora em todo o mundo. Ela também anunciou recentemente um subsídio para fundadoras da Dream Makers de US$ 1 milhão, projetado para apoiar mulheres empreendedoras com foco em fundadoras negras e BIPOC na indústria de bens de consumo.

Para outras empresárias negras, a entrada no espaço foi motivada por problemas no couro cabeludo. Cientista médica e tricologista, Isfahan Chambers-Harriss lutou contra um couro cabeludo danificado e com coceira devido a anos de uso de alisadores químicos. Por volta de 2010, começou a trabalhar como pesquisadora em um estudo sobre uma doença que afeta principalmente mulheres negras, chamada sarcoidose. Em 2017, lançou Alodia com foco na saúde do couro cabeludo.

— Ninguém sabe o que causa a sarcoidose, e comecei a me perguntar se aqueles alisantes químicos que a maioria das mulheres negras usava naquela época poderiam ter ajudado a causar esta grave doença autoimune.

Kaylah Joseph pensou que estava morrendo porque seu cabelo estava caindo em tufos. Mas o que descobriu foi que isso se devia aos produtos que usava. Joseph levou quatro anos para desenvolver sua própria marca, a Laid Hair Care . Em março, um salão de beleza shop-in-shop está programado para chegar ao Walmart local com planos de expansão para mais três bares de beleza nos próximos 18 meses.

Gabrielle Corney , cabeleireira que já trabalhou com Regina Hall, Brandy e Roberta Flack, diz acreditar que há espaço para celebridades como Beyoncé no mercado.

— Acredito que sempre há espaço para melhorias na educação do consumidor no mercado de texturas para cuidados com os cabelos. Apesar da abundância de produtos capilares disponíveis, os clientes muitas vezes ficam confusos sobre quais produtos são mais adequados para seu tipo e textura específicos — diz.

Mahisha Dellinger, que fundou a marca de cuidados naturais para os cabelos cacheados em 2002, concorda.

— Há mais jogadores, mais competição e, consequentemente, mais inovação e grandeza.

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