'A retirada do vídeo do ar foi uma surpresa', diz Flaira Ferro sobre clipe mostrando orgasmos femini
Clipe de "Coisa Mais Bonita" foi censurado pelo YouTube após estar no ar há 24 horas
"Tempos de censura, mores!", criticou a cantora Flaira Ferro, no Instagram, após a exclusão do seu vídeo "Coisa Mais Bonita" da plataforma online YouTube. O clipe, que instigava mulheres a protagonizarem o próprio gozo, foi dirigido pela premiada documentarista Dea Ferraz e estava no ar há 24 horas, acumulando mais de 60 mil visualizações. Nele, oito mulheres, de diferentes idades, cores e jeitos, culminavam o gozo em frente à câmera, se tocando. O vídeo, contudo, não trazia cenas de nudez.
Ciente do tabu que ronda o tema, Flaira tinha se munido de pesquisas e dados para justificar a importância de um videoclipe que atiçava discussões e reflexões sobre o poder da emancipação sexual feminina. “Não é um clipe feito de forma aleatória, pois a gente se baseou em vários dados (da Universidade de São Paulo, a USP, por exemplo, que aponta que 50% das mulheres brasileiras nunca chegaram ao orgasmo) e percebemos nisso a repressão do prazer da mulher. Isso faz com que entendamos a importância de falar desse assunto como mecanismo de cura e de libertação”, declara a cantora.
“Eu estou com um sentimento de tristeza, de saber que ainda precisamos ficar buscando lugares de fala em uma sociedade que ainda reprime e censura toda mulher que fala em desejo. Ao mesmo tempo, me sinto completamente encorajada de continuar passando essa mensagem”, elabora.
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"Não tem coisa mais bonita / Nem coisa mais poderosa / Do que uma mulher que brilha / Do que uma mulher que goza", canta Flaira Ferro, na música que inspirou o vídeo. Nas redes sociais, a musicista pediu para que o público não se calasse, colocando "a boca no trombone" e usando as hashtags #CoisaMaisBonita e #VoltaClipe.
“Eu vi a importância de jogarmos a luz do conhecimento onde tem a sombra da ignorância”, comenta Flaira. "Justamente por estar munida de conteúdo, informação e um discurso educativo de caráter militante, a retirada do vídeo do ar foi uma surpresa. Nós tivemos esse cuidado de não fazer uso de nudez, não violar direitos de ninguém e eu não esperava, de jeito nenhum”, desabafa.
“É um trabalho feito por uma equipe muito séria, junto com outras sete mulheres que estão em cena. Estamos em tempo de censura explícita e quando o corpo da mulher está sendo exposto a serviço do desejo masculino não é censurado”, alfineta. “Quando colocamos mulheres que estão protagonizando o prazer delas — e estimulando isso de forma independente dos homens — causa reações de conservadorismo e discurso de ódio, porque falar de sexualidade feminina e emancipação da mulher ainda é algo que dói”, aponta.
"Coisa Mais Bonita" estará disponível, por enquanto, apenas na plataforma online Vimeo e na página oficial da cantora no Facebook, além de circular pelo WhatsApp. Flaira e equipe tentam, agora, acordo com o YouTube acerca da colocação de uma faixa etária para conseguir ter o vídeo na plataforma. "Mas é um absurdo, porque a gente vê coisas muito piores no YouTube que estão aí, disponibilizadas com classificação livre", conclui Flaira, em tom de revolta.