Artes visuais: como curadores e galeristas escolhem novos talentos no Recife
Se por um lado há uma tentativa de silenciar essas linguagens, por outro galeristas e curadores têm encontrado múltiplas formas de identificar e difundir novos talentos das artes plásticas
Com o retorno presencial há quase dois meses, as galerias de exposição de artes foram impactadas em diversos sentidos por causa da pandemia. Funcionando como uma ponte entre artistas, colecionadores e admiradores da artes, esses espaços culturais estão se adaptando às suas maneiras para superar uma crise econômica e cultural que perdura no País nos últimos anos. Se por um lado há uma tentativa de silenciar essas linguagens, por outro galeristas e curadores têm encontrado múltiplas formas de identificar e difundir novos talentos das artes plásticas, física e digitalmente, firmando o Recife como um dos principais centros das regiões Norte e Nordeste.
Segundo o levantamento "O Impacto da Covid-19 no Setor de Galerias”, as vendas nas galerias de artes moderna e contemporânea caíram em 36% no mundo todo, somente no primeiro semestre deste ano. Apesar disso, galeristas do Recife afirmaram que o momento é do mercado da arte, como a exemplo da Nuvem Galeria. “Esse ano, com a pandemia, as coisas reaqueceram, porque a Nuvem sempre esteve no campo virtual. As pessoas começaram a olhar mais internamente para as suas casas, então pode ter despertado esses interesses. Nascemos em 2010, como uma galeria digital, e ficamos cinco anos em presença física, mas sempre estivemos no ambiente digital”, conta Cláudia Aires, sócio-proprietária da galeria.
Se Recife é uma cidade com particularidades nas artes, a Nuvem tem sua própria forma de descobrir e divulgar novos artistas da região. Embora seja uma galeria digital, a principal ponte entre a curadoria e os artistas é a rua. “O nosso papel sempre foi de botar na roda os artistas de circuito independente e de rua. O nosso campo de busca sempre foi a rua, os movimentos artísticos de mídia de rua, em que a gente via um grafite, abordava os artistas e trazia para agenciar. Foi assim que fomos crescendo e nos destacando. Ultimamente, com as redes sociais, os novos nomes chegaram de forma bem mais numerosa, mas nosso foco de curadoria sempre foi novos artistas de rua, que é uma particularidade nossa - minha e de Gustavo Marques”, explica Cláudia.
Na Garrido Galeria, localizada no bairro de Casa Forte, na Zona Norte, o processo de escolha dos artistas vem de curadoria do próprio espaço e também da parceria com outros projetos. “Nós temos um curador, que é o Steve Coimbra, de 28 anos, que nos ajuda nesse processo de seleção de novos artistas. Ou ele indica, ou artistas do nosso casting fazem esse tipo de seleção, que é uma forma mais profissional de escolher quem vai entrar. Também temos uma parceria com a Revista Propágulo, um pessoal super jovem e da universidade, que tem um trabalho interessante na cena local. Recentemente, descobrimos a Marcela Dias, que é um nome bem jovem da Cidade”, explica Armando Garrido, proprietário da galeria.
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Segundo ele, o espaço de arte assimila a exposição desses artistas com outros elementos. “Gostamos de realizar outras experiências, que consideramos como uma 'isca’. Realizamos pequenos jantares com pessoas em potencial de compra ou que tenham interesse/despertem um interesse para a arte. Realizamos pequenos encontros de conversas com colecionadores também. Por incrível que pareça, a pandemia deu uma aquecida aqui no mercado de arte, pelo menos aqui na nossa galeria”, enfatiza Armando.
Curadoria
Para o curador Steve Coimbra, da Garrido e da Phantom 5, trabalha com o filtro de artistas emergentes. “Quando o artista é emergente, a gente já consegue identificar um perfil ou identidade, mesmo que ela não acompanhe uma técnica madura, mas que os trabalhos se dialoguem entre si e em todo percurso a gente consiga amarrar esse conteúdo ou estética. Mas que ele faça uma convergência entre esses aspectos. Eu acredito, pelo menos, para mim os valores de artistas que conseguem acompanhar o momento atual, mas que vislumbra o futuro”, afirma.