Artista acusa Polônia de censura após ser substituído por coletivo ucraniano na Bienal de Veneza
Ministério da Cultura do país diz que houve nova análise de obras que seriam apresentadas na exposição, após ouvir "opiniões e vozes das comunidades"
Depois de ter o projeto cancelado na Bienal de Veneza de 2024, uma das mais prestigiadas do mundo, o artista Ignacy Czwartos acusa o governo da Polônia de tentar censurá-lo. O criador havia sido escolhido para representar o país pela gestão de Piotr Gliński, do partido conservador Lei e Justiça (PiS), que esteve à frente de Varsóvia até o ano passado. A apresentação, porém, foi retirada pelo Ministério da Cultura do atual primeiro-ministro Donald Tusk, de ideologia liberal.
A proposta da exposição “Experiência polonesa na tragédia. Entre Alemanha e Rússia” havia sido inicialmente escolhida via competição aberta. A decisão pelo projeto foi então anunciada em 31 de outubro pelo governo polonês por meio de um comunicado.
Leia também
• Ataque a Salman Rushdie: julgamento de agressor pode ser adiado por conta de livro sobre episódio
• Celso Marconi ganha homenagem da Fundaj com filmes e debate no próximo domingo (7)
• Ex-galã de 'Malhação', Daniel Erthal vende cerveja nas ruas do Rio de Janeiro
"Recebi a informação de que o novo Ministro da Cultura e Patrimônio Nacional, Bartłomiej Sienkiewicz, havia interrompido o projeto. Não foram fornecidos motivos para justificar a decisão. Essa decisão é contrária às regulamentações em vigor. Eu a percebo como censura", afirmou Czwartos ao site The Art Newspaper.
“A exposição de Ignacy Czwartos, que desejamos apresentar na Bienal de Veneza, é o resultado de uma profunda reflexão sobre a trágica história do século XX. A tragédia do mundo - nos diz o artista a partir da profundidade da experiência polonesa - é sua característica inalienável. O mundo não se encaixa em nenhum padrão simples, está cheio de contradições irremovíveis, conflitos de interesse e ideias, dilemas que não têm soluções simples”, dizem em comunicado os curadores da exposição, Piotr Bernatowicz e Dariusz Karłowicz.
O projeto, entretanto, foi cancelado pela pasta agora na gestão de Tusk. A troca aconteceu após uma nova análise dos “procedimentos da competição para a exposição” e após serem ouvidas “opiniões e vozes das comunidades”, diz o Ministério. Czwartos era conhecido por obras simpatizantes com a ideologia do então governo do partido Lei e Justiça (PiS), tendo exposições visitadas inclusive por altos membros daquela administração.
No lugar desta exposição, será apresentado na Bienal o projeto do coletivo ucraniano, Open Group, intitulado “Repeat after me” (Repete depois de mim, em tradução para o português). A obra se trata de um vídeo gravado em um campo de refugiados em Lviv, na Ucrânia, com entrevistas com pessoas desabrigadas após os ataques russos.
"A seleção ocorreu de acordo com os procedimentos legais. O veredicto do júri da competição foi aceito pelo Ministro da Cultura e Patrimônio Nacional. O contrato entre mim e a Galeria Zachęta, a instituição responsável pela realização da exposição, foi assinado", disse Czwartos ao site The Art Newspaper.
Também de acordo com o The Art Newspaper, a ideia do artista foi recebida com críticas sob apontamentos de que estava alinhado à agenda do partido Lei e Justiça (PiS), antes no poder.