Artistas refletem sobre o futuro na exposição 'A Seguir'
Obras inéditas serão produzidas especialmente para a mostra, que entra em cartaz na Arte Plural Galeria
É quase impossível não se pegar pensando sobre o futuro em meio à atual conjuntura política, social e ambiental que o mundo enfrenta. A nova exposição coletiva da Arte Plural Galeria (APG), “A Seguir”, busca refletir através dos trabalhos de artistas residentes em Pernambuco um pouco desse ambiente de incertezas sobre o que nos aguarda.
O jornalista e crítico de arte Júlio Cavani foi convidado para assinar a curadoria da mostra, que fica aberta ao público desta terça-feira (8) até o dia 9 de abril. “Eu poderia escolher dez nomes entre os artistas que costumam trabalhar com a galeria. Eles precisavam transmitir sentimentos sobre o que vivemos agora e o que está por vir, seja numa perspectiva otimista ou não”, aponta.
Grandes nomes da arte
Participam da coletiva Alexandre Pons, Antônio Mendes, Christina Machado, Jeff Alan, José Barbosa, Maurício Arraes, Renato Valle, Rinaldo Silva, Roberto Ploeg e Valéria Rey Soto. As obras - pinçadas dos ateliês de cada um ou do próprio acervo da galeria - são de datas diferentes, mas todas podem ser lidas a partir de uma perspectiva bastante atual.
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“Alguns trabalhos são inéditos, mas outros datam dos anos 1980. Dei uma olhada em tudo o que eles tinham guardado e fui tentar identificar coisas que dessem para relacionar, de maneira bem livre, com o tema”, explica o curador do mostra.
Sob novo olhar
Um exemplo de obra “ressignificada” pelo curador é “Elmo”, de Renato Valle. Produzida em 1983, traz uma figura de máscara, tapando os olhos e o nariz. “O contexto em que esse trabalho foi feito é outro, mas vi que ele poderia trazer algum tipo de comentário irônico sobre os negacionistas”, aponta.
Outras obras estão mais relacionadas a um futuro indefinido, como “Amor de mãe é sagrado”, de Jeff Alan. O artista registra uma mulher e uma menina, de mãos dadas, caminhando rumo a uma mancha cinzenta e sem forma definida. A proteção e a sobrecarga maternal, evidenciadas no período pandêmico, também está representada em “Missa do Galo”, gravura assinada pela espanhola Valeria Rey Soto.
Figuras de natureza religiosa ou mitológica, que costumam se fazer presentes no imaginário popular em tempos de conflitos, são abraçadas por mais de um artista da exposição. José Barbosa, por exemplo, traz uma série de criaturas, que podem ser interpretadas como demônios. Já Alexandre Pons, que recorre à pichação como inspiração estética, faz referências a Thoth, Hermes e Mercúrio, considerados deuses mensageiros nas culturas do Egito, da Grécia e de Roma, respectivamente.
Trabalhos imprevisíveis
“A Seguir” pode ser classificada como uma exposição ainda em construção. Isso porque, além das já existentes, novas obras serão incorporadas aos poucos à mostra, até o dia 22 de março. Cada um dos artistas recebeu a missão de produzir trabalhos inéditos, inspirados na temática proposta. Por enquanto, os espaços que serão destinados às peças inéditas são ocupados por molduras com telas em branco, que por si só já produzem algum significado. “Dá para dizer que elas simbolizam algo que está em aberto”, observa.
O resultado da tarefa entregue aos artistas ainda é um mistério até mesmo para o curador da exposição. “Alguns podem se inspirar no conjunto exposto, outros podem focar no momento. É algo imprevisível mesmo. Encaramos como um experimento”, declara. A ideia é que o público consiga acompanhar um pouco do processo criativo de cada um dos participantes. Eles serão filmados enquanto trabalham nas novas obras. Esses materiais, que devem reunir também os depoimentos dos artistas, serão compartilhados com o público através das redes sociais da galeria.
Serviço:
Mostra "A Seguir"
Desta terça-feira (8) até 9 de abril
Arte Plural Galeria (Rua da Moeda, 140, Bairro do Recife)
Acesso gratuito