As palavras de uma sertaneja: conheça Durvalina de Souza Borges, escritora de Ouricuri
Formada em Pedagogia, autora acumula quase 40 anos dedicados também à literatura
Ouricuri, no Sertão de Pernambuco, é terra de poetas e cantadores que levam para o mundo a força literária da cidade, por meio de versos e rimas. Mas também há espaço para quem se dedique à prosa no pequeno município da região do Araripe. Um exemplo de destaque é a escritora Durvalina de Souza Borges, que há quase quatro décadas faz da escrita mais do que um mero passatempo.
Desde 1986, Durvalina já publicou cinco livros: três romances e duas coleções de contos. O gosto pela literatura entrou na vida da autora ainda na infância, graças ao estímulo familiar. Seu pai era o guarda-livros (como eram chamados os contadores da época) da cidade e sempre priorizou o estudo na rotina da filha.
Literatura na infância
“Os livros sempre me acompanharam. Embora acredite que, como escritora, deveria ser uma leitora mais ávida”, comenta a sertaneja de fala mansa e que não foge de uma autocrítica.
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No conto “Insista”, que integra o último livro publicado por Durvalina, ela revela que foi com “Os frutos de ouro”, de Nathalie Sarraute, que sentiu prazer na leitura pela primeira vez. “Para mim, a leitura é, além de um alimento para a alma, um antídoto para o corpo, visto ser um excelente calmante, sem contraindicação e não produzindo efeitos colaterais”, observa a autora, no mesmo texto.
Sonho pós-diploma
Embora o desejo de ter seu nome estampado como autora na capa de um livro tenha nascido desde muito jovem, Durvalina sentiu segurança em alcançar esse feito só depois de ter um diploma em mãos. Foi com “Bravura”, conjunto de contos publicado em 1983, que ela viu o sonho se realizar.
Após concluir o então Curso Normal em Petrolina, em um colégio interno de freiras, foi para o Recife estudar pedagogia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Viveu por sete anos na Capital pernambucana, mas as raízes falaram mais alto e ela resolveu retornar para Ouricuri, onde atuou como professora por vários anos, formando gerações de novos leitores.
Inspiração nas vivências
A cidade natal da escritora inspirou algumas de suas produções, como “As notáveis férias de Eugênia”, seu primeiro romance, que se passa em um local fictício com características muito semelhantes às do município do Sertão. As histórias da educadora costumam nascer de vivências próprias e de observações do cotidiano, quase sempre pinceladas por uma imaginação que a permite saltar para além da realidade.
Para o escritor Pedro Américo de Farias, conterrâneo de Durvalina, o texto da escritora tem “a marca e o sabor da ficção romanesca provinciana”. No prefácio do livro “Sonho Desfeito”, ele afirma ainda que o trabalho da pernambucana “traça o perfil da pequena cidade e os dramas sentimentais típicos dos seus habitantes”.
Ter uma boa divulgação das suas obras, levando em conta a distância geográfica em relação à Capital, é apontado pela contista e romancista como a principal dificuldade do ofício. Apesar dos obstáculos, ela não desanima e já pensa em uma nova publicação. “Estou em dúvida se dou continuidade a alguns rascunhos de ideias ou se tento uma nova edição do meu último livro. Certo é que escritora não vou deixar de ser”, promete.
Títulos de Durvalina de Souza Borges:
“Bravura” (1983)
Reúne 17 contos, que abordam temas do cotidiano. Experiências pessoais e situações imaginadas pela autora se entrelaçam nas narrativas
“As notáveis férias de Eugênia” (1986)
Eugênia, uma jovem de São Paulo, passa as férias na fictícia vila de Manacá, no Sertão de Pernambuco. Ao lado de novas amigas, ela vive o clima interiorano e romances juvenis
“O voo das aves raras” (1994)
O romance explora a instabilidade dos comportamentos humanos, a partir de uma relação de amizade. Carla e Rosana dividem confidências, enquanto tentam resolver suas vidas amorosas
“Sonho desfeito” (1997)
Mais uma vez, Durvalina traz para um romance a atmosfera das paixões adolescentes. Cristina e Rodrigo vivem um namoro marcado pela diferença de classes sociais e pela oposição da família dela
“O discurso do professor Tavares” (2016)
Obra mais pessoal de Durvalina, o livro traz 15 contos. Os textos revelam memórias da escritora, além de histórias livremente inspiradas no dia a dia de Ouricuri.