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Justiça

Ataque a Salman Rushdie: julgamento de agressor pode ser adiado por conta de livro sobre episódio

Hadi Matar, segundo juiz do processo, tem direito de acessar material escrito sobre ele na publicação

Salman RushdieSalman Rushdie - Foto: AFP

O julgamento de Hadi Matar, acusado pela autoria do atentado contra o escritor Salman Rushdie, deve ser adiado. Isso se deve ao fato de o ensaísta ter planejado para abril a publicação de suas memórias sobre o incidente, reunidas no livro "Knife: Meditations after an attempted murder" (Faca: Meditações após uma tentativa de assassinato, em tradução para o português). De acordo com o juiz do processo, David Foley, o terrorista que o esfaqueou tem direito de acessar o material escrito sobre ele pelo prestigiado autor anglo-indiano.

A informação foi dada pelo juiz em uma conferência pré-julgamento, realizada na terça-feira, segundo a agência de notícias Associated Press. A sessão estava programada para acontecer no início da próxima semana, em 8 de janeiro.

“Knife”, as memórias de Rushdie, seriam publicadas somente em 16 de abril, afirmou a editora britânica Penguin Random House, responsável pela edição do livro.

"Este livro foi necessário para eu escrever: uma maneira de assumir o controle do que aconteceu e de responder à violência com arte", disse Rushdie em um comunicado.

Em agosto de 2022, o ensaísta foi atacado no palco na Chautauqua Institution, uma comunidade de artes de verão em Nova York, onde estava programado para falar sobre os Estados Unidos como um refúgio seguro para escritores exilados. Quando o evento estava prestes a começar, um homem de 24 anos pulou no palco e o esfaqueou repetidamente no rosto e no abdômen. Somente após, membros da plateia conseguiram afastar o agressor. Como consequência do ataque, Rushdie ficou gravemente ferido e perdeu o olho direito.

"‘Knife’ é um livro comovente e um lembrete do poder das palavras para dar sentido ao inimaginável", escreveu Nihar Malaviya, o diretor executivo da Penguin Random House, em um comunicado. "Temos a honra de publicá-lo e impressionados com a determinação de Salman em contar sua história e retornar ao trabalho que ama."

O escritor viveu grande parte de sua vida sob ameaça de violência. Após a publicação do romance "Os versos satânicos" — que inclui uma narrativa fictícia sobre a vida do Profeta Maomé — o líder supremo do Irã, aiatolá Ruhollah Khomeini, emitiu uma fatwa (similar a um decreto) em 1989 pedindo a morte de Rushdie. Na ocasião, oferecia uma recompensa de US$ 2,5 milhões pela cabeça dele.

Inicialmente, Rushdie relutou na ideia de escrever sobre a facada, disse em uma entrevista à revista americana The New Yorker, como se "o ataque exigisse que escrevesse sobre o ataque". Mas ele acabou por mudar de ideia. "Acho que quando alguém enfia uma faca em você, isso é uma história em primeira pessoa", disse Rushdie à publicação. "Isso é uma história do meu 'eu'."

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