Crítica

"Até os Ossos": Luca Guadagnino une horror e romance juvenil em road movie sanguinolento

Filme, que estreia nesta quinta-feira (1°), é estrelado por Taylor Russell e Timothée Chalamet

Filme "Até Os Ossos"Filme "Até Os Ossos" - Foto: Divulgação

Os primeiros minutos de “Até os Ossos” podem transmitir uma impressão precipitada sobre a natureza do filme que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (1º).

Os diálogos entre a jovem Maren (Taylor Russell) e as amigas da nova escola, em uma pacata cidade dos Estados Unidos, sugerem apenas mais uma história sobre as descobertas da adolescência. Essa imagem pueril logo se dissipa (com o pavor de um dedo sendo devorado), mostrando ao espectador que ele está diante de uma obra visceral e embebida em sangue.
 


Baseado no romance homônimo de Camille DeAngelis, o longa-metragem é dirigido por Luca Guadagnino, que levou o Leão de Prata de Melhor Direção no Festival de Veneza deste ano. Aqui, o cineasta italiano entrelaça gêneros trabalhados em momentos diferentes da carreira, caminhando entre o drama romântico do indicado ao Oscar "Me Chame Pelo Seu Nome" (2017) e o terror gore presente no remake “Suspiria” (2019). 

Por falar em “Me Chame Pelo Seu Nome”, outros detalhes sobre a nova produção de Guadagnino a conectam ao filme mais famoso do diretor. Em primeiro lugar, ele marca o reencontro do cineasta com o ator Timothée Chalamet, um dos protagonistas do seu drama LGBTQIA+ e que agora interpreta um nômade que se encaixa facilmente na definição norte-americana de “white trash” (pessoas brancas pobres e marginalizadas). 
 

Há ainda a macabra coincidência de “Até os Ossos” abordar o canibalismo em sua trama. O consumo de carne humana é uma das acusações sofridas por Armie Hammer, que viveu o par romântico de Chalamet no outro longa de Guadagnino, além de abusos sexuais e psicológicos. O assunto é tratado no documentário “House of Hammer: Segredos de Família”, do Discovery+.  
 
No novo longa-metragem de Guadagnino, os canibais são apresentados como uma espécie semelhante aos vampiros. Mais do que uma vontade, alimentar-se de outras pessoas é uma necessidade fisiológica que precisa ser saciada para os chamados Devoradores. Esses seres conseguem farejar uns aos outros, mas preferem caçar de forma solitária, sabendo que seus semelhantes representam uma ameaça à sobrevivência.

Mesmo sabendo desse acordo tácito que rege as relações entre os Devoradores, Maren não resiste à repentina atração por Lee (Thimotée Chalamet), encontrando nele um parceiro de viagem e de refeições. Depois de completar 18 anos, a jovem é abandonada pelo pai, cansado de fugir todas as vezes que a filha perde o controle e ataca alguém. Com um pouco de dinheiro e algumas pistas, ela resolve atravessar o país em busca da mãe, que não a vê desde que ela era um bebê, e suas origens.

O amor entre os dois jovens floresce enquanto eles percorrem vários quilômetros dentro de um carro, matando a fome com desconhecidos sem família. O filme percorre o trajeto entre o horror sanguinolento e a ternura do casal. Maren e Lee são dois excluídos, sem um lugar no mundo, que encontram na compatibilidade de suas estranhezas alguma forma de acolhimento.

Com atuações cativantes e um cenário que destaca as belas paisagens do meio-oeste dos Estados Unidos, “Até os Ossos” derrapa nos seus instantes finais, quando parece sucumbir às fórmulas do cinema, mostrando o embate entre os “mocinhos” e o “vilão”, com um desfecho para fazer o público gastar os lencinhos. 

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