Atores de peça com nudez que gerou polêmica já fizeram participações em novelas; relembre
Léo San e Maurício Silveira foram surpreendidos por confusão na plateia durante espetáculo marcado por cena de nu frontal, em teatro no RJ
Pela primeira vez, Léo San e Maurício Silveira viram parte de seus trabalhos como atores ganhar tamanha repercussão. Os dois cultivam duas décadas de carreira nos palcos e jamais haviam se desnudado diante do público.
Quando toparam o desafio — eles aparecem sem roupa em algumas cenas da peça "Pasolini no deserto da alma", em cartaz no Teatro Glauce Rocha, no Centro do Rio de Janeiro —, ambos foram surpreendidos por um bafafá desmedido impulsionado por uma confusão na plateia.
Como noticiou o GLOBO, um espectador do espetáculo reagiu, no último domingo (28), à cena com nudez e se revoltou após a mulher não deixar a sala.
Os atores ressaltam que o fato expõe como a nudez masculina — ainda que revelada na penumbra ou em sequências curtas — não é detalhe tão pequeno em salas de teatro. Desde que estrearam o espetáculo, em janeiro deste ano, os dois são surpreendidos por cochichos e aplausos contidos da plateia no momento em que aparecem pelados.
Mas, afinal, quem são os atores?
Léo San é carioca de 41 anos e iniciou a carreira como modelo, há mais de duas décadas. Cria da comunidade da Rocinha, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, ele começou a estudar teatro no início da vida adulta e passou a integrar o elenco de peças. Paralelamente, realizou também participações no elenco de apoio de novelas da TV Globo, como "Três irmãs" (2008), "Alto astral" (2014) e "Orgulho e paixão" (2018).
O folhetim em que obteve mais destaque foi "A dona do pedaço" (2019), em que interpretou Jasmin, treinador de boxe do personagem Paixão, interpretado por Duda Nagle.
Colega de Léo, Maurício Silveira também é carioca e mantém mais de 20 peças no currículo, de acordo com os cálculos dele. O ator de 47 anos já realizou participações pontuais em novelas como "Cobras & lagartos" (2006), "Sete pecados" (2007), "Paraíso tropical" (2007) e "Insensato coração" (2011).
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A narrativa inspirada na trajetória de Pier Paolo Pasolini (1922-1975) — cineasta responsável por títulos como "Teorema" (1968), "Decameron" (1971) e "Salò ou Os 120 dias de Sodoma" (1976) — traz à tona passagens marcantes na vida do artista cristão, marxista e homossexual que expressou sua genialidade de maneira subversiva, em meio a um país católico governado por um regime fascista.
— Pasolini foi um homem transgressor. Não adianta querer fazer uma peça em que o tema é Pasolini, sustentando algum tipo de pudor — comenta Maurício Silveira, intérprete da figura central da montagem. — Se tivesse pudor, não estaria 100% entregue ao personagem. O jeito então foi emprestar meu corpo por inteiro, além da voz, dos gestos, dos sentimentos... Na hora, até esqueço que estou sem roupa.
Na peça em cartaz até o próximo domingo no Teatro Glauce Rocha, no Centro do Rio de Janeiro — com duração de uma hora (e classificação indicativa não recomendada para menores de 18 anos) —, há duas passagens em que os atores ficam totalmente nus. Em ambas as cenas, os personagens trocam carícias e se beijam — numa delas, o ator Diego Rosa também se despe no palco. A atriz Rose Scalco completa o elenco.
— Neste mundo moderno em que vivemos, é lamentável ainda haver preconceito com o nu masculino. Se fossem duas mulheres em cena, será que teria acontecido a mesma coisa? Haveria essa mesma repercussão diante de um nu feminino? — questiona Léo San, que dá vida ao ator italiano Ninetto Davoli, um dos musos de Pasolini e com quem o cineasta se relacionou por nove anos. — É uma pena que ainda exista tanta gente com mente pequena. Não há nada forçado na peça! A nudez não acontece de forma apelativa. É uma cena bonita, sem nada explícito.