Banda de Pau e Corda retorna com disco de inéditas em "Missão do Cantador"
Banda pernambucana, formada há quase 50 anos, lançou pela Biscoito Fino álbum de inéditas depois de um hiato de 29 anos
Se é para falar da longevidade da Música Popular Brasileira, é preciso antes falar sobre a coerência que nutre a trajetória de (poucos) artistas que integram esse rol.
A Banda de Pau e Corda é uma das que mantém há quase 50 anos a sonoridade de sempre e facilmente identificável, seja ouvindo “Vivência” (1972) ou o recente “Missão do Cantador”, álbum de inéditas lançado pela Biscoito Fino depois de 29 anos – com “Cristalina” na outra ponta desse hiato, no início dos anos de 1990.
“Cada pedra no caminho a gente juntou e fez uma ponte para atravessar esses momentos e estamos aqui, chegando aos quase cinquenta anos de carreira e produzindo com a mesma vitalidade”, ressalta Sérgio Andrade, veterano da banda desde os idos 1970.
Em 13 faixas envoltas em flautas, viola e origens preservadas, o disco predominantemente autoral, traz de volta José Milton na produção.
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“O som deles é atemporal. Por seu alto nível vai estar sempre entre as belas sonoridades da música brasileira”, atesta ele, que fez sua estreia como produtor da banda ainda no trabalho de estreia em 1972 e que para Sérgio Andrade foi quem colocou a Pau e Corda no mundo dos discos. “Ele conhece tudo do nosso trabalho, gravou sete ou oito álbuns na RCA Victor com a gente, sabe o timbre de cada voz, cada instrumento”.
Com traços contemporâneos dos arranjos de Zé Freire no álbum - pensado a partir de agosto de 2019 - a capa traz a assinatura do artista plástico Elifas Andreato. Foi dele também a ilustração de “Arruar” (1978), um dos trabalhos da banda que figura entre os melhores da MPB.
"Elifas' foi responsável pelas capas de quase todas as estrelas da música nas décadas de 1970 a 1980. Para nós ele produziu, além de outras capas, a icônica do LP ‘Arruar’. Queríamos algo que dialogasse com o álbum atual e com a nossa trajetória, e ele conseguiu com as silhuetas fisionômicas que projetam para frente o que queremos dizer”, destaca Sérgio.
Zeca Baleiro embeleza (ainda mais) o trabalho com participação em “Tudo num Balaio só” - canção de Murilo Antunes e Natan Marques - e em “Fogo de Braseiro”, Chico César dá o tom à ‘pedra de amolar facão, da fonte que não seca, da ideia que se expande, do rasgo que semeia o chão’. Uma espécie de qualificação do que é ser brasileiro.
“A voz do Chico foi um desejo pessoal, por ser essa uma das canções de cunho fortemente social”, explica Sérgio que afirma, sobre o trecho da música de Sebastião Biano, da Banda de Pífanos de Caruaru (A Briga do Cachorro com a Onça) adicionado à faixa, o desejo de dar mais dramaticidade.
À margem do mercado fonográfico ‘comercial’ – fato que não tira da banda o fazer artístico reconhecidamente genuíno – o “esquenta” do retorno da banda se deu com a digitalização recente do acervo de LP’s. Nove álbuns ganharam as plataformas digitais e o sexteto – hoje formado por Sérgio Andrade, Sérgio Eduardo, Julio Rangel, Zé Freire, Yko Brasil e Alexandre Baros – fincou o tradicional da sua sonoridade ao moderno da tecnologia.
O álbum traz “Estrela Cadente” e a força da sanfona do Mestre Genaro. “Sonho Interior”; “Sinais”; “Guardador de Sonhos”; “Desvario”; “Se ou Sê”, com letra de Rafael Moura; “Sem Fim”; “Sonhadora”; “Força Oculta” e “Quer mais o Que?”, esta última composição de Marcello Rangel, completam as faixas que evidenciam a missão de cantadores (raros) como os da Pau e Corda, em especial na homônima ao título do disco, sobre a missão do cantador de ‘ir onde tem que ir, onde tem gente precisando ouvir’.
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