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Literatura

Bienal da Quebrada e a descentralização do 'rolê' da literatura

Projeto tem como objetivo popularizar a literatura nas periferias brasileiras

Bienal da Quebrada leva literatura a periferias brasileirasBienal da Quebrada leva literatura a periferias brasileiras - Foto: @alemdaslentes/divulgação

Enquanto o mercado editorial agoniza em uma crise agravada pela pandemia, construir novos leitores se torna uma tarefa essencial à sobrevivência da literatura nacional. Segundo a pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, de 2016, pessoas de baixa renda têm menos acesso aos livros que as classes econômicas mais favorecidas. É com o objetivo de alavancar a leitura entre esse público, que iniciativas como a Bienal do Livro da Quebrada buscam democratizar a literatura. Criado pelo escritor Mateus Santana, 28, no Distrito Federal, em 2019, o projeto tem levado a cultura literária às periferias brasileiras.

“Descentralizar o rolê” é a proposta dele. Surgiu a partir de uma percepção de Mateus em torno dos eventos literários: todos eram realizados nos centros, gerando afastamento do público das quebradas. “Foi participando de eventos que percebi que eles não eram voltados para as periferias, principalmente, porque são realizados nos grandes centros. A gente não tem acesso a esses eventos e mesmo que a gente vá, o sentimento é de não pertencimento e não de inclusão. Então, minha ideia era de aproximar o público da literatura, descentralizar”, conta o escritor, que nasceu em Ceilândia, cidade-satélite do Distrito Federal. 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Antes de fazer a postagem gostaríamos de dizer duas coisas. A primeira é que foi muito difícil selecionar dez fotos das várias que recebemos pra postar aqui (quantidade permitida por postagem no Instagram). A segunda é que foi difícil saber o que escrever aqui, porque desde que vimos essas fotos, a gente tá chorando igual não sei o que. Mas seguindo o baile: no último dia 22 de dezembro o Coletivo @favelavertical realizou uma festa lindona de Natal na Favela Nova Esperança no Gardênia Azul - RJ. Pra ser dado de presente às crianças, nós doamos MIL LIVROS. E essas fotos são um pouco do que foi essa festa. E a gente confessa que tamo cheio de bons sentimentos aqui vendo isso, seria injusto não compartilhar com vocês ______ As fotos são do @projetoalemdaslentes

Uma publicação compartilhada por Bienal da Quebrada (@bienaldaquebrada) em 23 de Dez, 2019 às 11:58 PST

Além da distância física desses encontros, Mateus notava a forte presença de escritores, em sua maioria, composta por homens brancos nas mesas. Reflexo do próprio mercado: 90% dos livros publicados entre 1975 e 2014 são de homens de brancos, sobretudo, do eixo Rio de Janeiro - São Paulo. “A Bienal nasceu para democratizar a literatura e o conhecimento como um todo. Teve uma fala de um escritor conhecido, branco, que me incomodou. Ele falava que não tinha intenção de mudar o mundo, então para ele estava perfeito. Eu, por exemplo, sou um jovem preto e o primeiro da família a entrar na universidade”, explica Mateus.

Mateus Santana, idealizador da Bienal

Dos incômodos partiram as ideias para construir o espaço democrático. Além de dialogar com um evento nas periferias, a ideia é contribuir com bibliotecas e projetos que levam os livros para as comunidades. “Abrimos um edital e contamos com mais de 60 voluntários que fazem a ponte entre o projeto e fazem as doações. Recebemos mais de 10 mil livros e já doamos mais de 5 mil deles, contribuindo também com organizações em enfrentamento à Covid-19 nas favelas. Infelizmente, a pandemia interrompeu um projeto que a gente tinha marcado, parceria com o Museu do Futebol, em São Paulo, em que faríamos uma troca: levar crianças de periferias ao museu, e os funcionários do museu fariam uma imersão nas favelas”.

Financiamento

A pandemia não parou o projeto. Em paralelo à execução de uma bienal, o projeto arrecada doações para os que não têm acesso à literatura. Uma campanha foi aberta para financiamento na plataforma Benfeitoria, onde contribuintes podem doar uma quantia mensal a partir de R$ 10. Quem não pode fazer a doação durante todos os meses, há um link para contribuições espontâneas no PIC PAY. Os valores arrecadados, por enquanto, ajudam a manter despesas básicas, como a manutenção de galpões e o transporte dos voluntários. Neste mês, o projeto fez parte da Flipop, evento literário virtual destinado ao público jovem. Lá, uma companhia se comprometeu ao pagamento de R$ 50 mil em livros à iniciativa.

A vontade de crescer de Mateus não para. Ele quer criar bibliotecas nas favelas de Jacarezinho e Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, e em São Sebastião, no Distrito Federal. Ele quer descentralizar ainda mais o projeto, que hoje tem mais força no Rio de Janeiro e em São Paulo, pós-pandemia. “O que mais quero é fugir da centralidade. Hoje temos voluntários do Norte, Nordeste e Sul, também, mas não como nesses lugares. O projeto só existe por conta de todo mundo que ajuda, seja voluntário com dinheiro e os veículos que nos divulgam. Quem quiser ajudar, a gente divulga os editais nas redes sociais e sempre atualizamos lá”, complementa Mateus Santana.

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