Bondoso, brigão e gente como a gente: veja representações de Papai Noel em filmes de Natal
Desde que apareceu pela primeira vez na sétima arte, em 1898, personagem lendário consolida importante subgênero nas telonas nesta época
Nesta madrugada, Papai Noel pulou de casa em casa ao redor do mundo distribuindo presentes para aqueles que se comportaram ao longo do ano. Se na “vida real” o bom velhinho faz questão de ser discreto, aparecendo sem fazer barulho enquanto todos estão dormindo, no cinema não é bem assim. Ele não se importa em dar as caras. E são tantas caras...
Desde que apareceu pela primeira vez na sétima arte, em “Papai Noel” (1898), de George Albert Smith, um curta de um minuto que retrata uma visita a duas crianças na noite de Natal, que a figura vem ganhando as mais distintas versões nas telas de cinema, sendo parte importante do subgênero de sucesso nesta época: os filmes de Natal.
Ao longo dos anos, Papai Noel assumiu muitas formas no audiovisual. Do tradicional senhorzinho de barbas brancas vivido por Edmund Gwenn de “De ilusão também se vive” (1947) ao senhor bombado interpretado por J. K. Simmons no recente “Operação Natal” (2024).
— O bom Papai Noel é atencioso, lúdico e encantador. Por isso vai estar sempre presente no cinema e na televisão — aposta o ator Limachem Cherem, diretor da Escola de Papai Noel do Brasil, organização que existe desde 1993 e já formou mais de mil bons velhinhos pelo país.
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Cherem, que veste a tradicional roupa vermelha há 31 anos, cita “Milagre na Rua 34”, refilmagem de “De ilusão também se vive” lançada em 1994, como o filme de Natal que não pode faltar nas salas de aula para quem quer ser um Papai Noel. O longa, que traz o duas vezes vencedor do Oscar Richard Attenborough (1923-2014) na pele de Kris Kringle, também é destacado pelo crítico de cinema Marcio Sallem, do site Cinema com Crítica. O longa conta a história de uma esperta garotinha, vivida por Mara Wilson, que não acredita no bom velhinho. E um senhor, contratado para trabalhar em loja de brinquedos, tem como missão provar para a menina que ele é o verdadeiro Papai Noel.
— Gosto da ideia de ele precisar provar sua existência em um mundo cínico — diz o crítico, fã de filmes de Natal, mas nem tanto de filmes com Papai Noel. — Acho um personagem quadrado dentro de uma perspectiva narrativa, mas destacaria, além da versão de “Milagre na Rua 34”, o vivido por Tim Allen na série de filmes “Meu papai é Noel” (1994), o rabugento criado por Kurt Russell em “Crônicas de Natal” (2018) e o das animações “Klaus” (2019) e “Operação: presente” (2011).
Outras faces
Para fugir dessa visão do Papai Noel “quadrado”, nos últimos anos o cinema tem investido em tramas para além do bom velhinho, de suas renas e da lista de presentes. Em “Noelle” (2019), Anna Kendrick vive a filha de Kris Kringle que acaba precisando assumir o trabalho do pai após seu irmão, o verdadeiro herdeiro, ficar inseguro. Outra mulher, Whoopi Goldberg, já havia vestido o manto vermelho no cinema, em “Pode me chamar de Noel” (2001).
E o que dizer de “Noite infeliz” (2022)? No longa, David Harbour, de “Stranger things”, vive um Papai Noel alcoólatra, cansado e violento, e que precisa entrar em ação após um grupo de mercenários ameaçar o Natal de uma família. Na semana passada, o ator confirmou, em publicação nas redes sociais, que o filme ganhará continuações. Com direito à legenda: “Feliz Natal, seus animais imundos”, uma referência ao clássico natalino “Esqueceram de mim” (1990). Anos antes, Billy Bob Thornton já havia se destacado numa versão politicamente incorreta em “Papai Noel às avessas” (2003) e na continuação de 2016.
Diferentemente de Hollywood, o Brasil não tem grande histórico de filmes de Natal, mas vem investindo no gênero, tendo produzido obras de destaque como “Tudo bem no Natal que vem” (2020), com Leandro Hassum, “O primeiro Natal do mundo” (2023), com Ingrid Guimarães e Lázaro Ramos, e “Ritmo de Natal” (2023), com Clara Moneke e Taís Araujo. O bom velhinho teve sua chance de brilhar no cinema nacional em “Uma carta para Papai Noel” (2023), de Gustavo Spolidoro. Na trama, Papai Noel (José Rubens Chachá) fica emocionado após receber uma carta de um menino órfão que revela nunca ter recebido um presente de Natal.
— Papai Noel é um personagem muito especial. Ele é mítico por natureza, mas em nosso filme acompanhamos mais ele fora dos dias do Natal — conta Aletéia Selonk, produtora do filme. — Isso traz o lado mais humano para o primeiro plano, explorando suas emoções, sua visão de mundo. Nosso Papai Noel é aventureiro e, ao mesmo tempo, amoroso. Ele se revela frágil, como todos as pessoas
Romances de Natal
Nem só de Papai Noel é feito o “cinema natalino”. Nos últimos anos, vêm se popularizando cada vez mais os romances de Natal. Basta acessar qualquer plataforma de streaming para encontrar uma série de produções passadas em cenário dos sonhos, com direito a muita neve, luzes e canções de Mariah Carey. No Globoplay, além de uma seção dedicada a filmes natalinos, a lista de mais assistidos na plataforma apresenta produções como “Uma segunda chance para amar” (2019) e um clássico do gênero, “O amor não tira férias” (2006). Outro clássico, “Esqueceram de mim” (1990) está entre os mais vistos no Disney+, enquanto que na Netflix o top 10 traz as animações “O Grinch” (2018) e “Aquele Natal” (2024). O Prime Video traz como filme mais visto na plataforma o novo “Operação Natal”. Mal saído das salas de cinema, o filme foi visto por 50 milhões de pessoas em quatro dias, se tornando a maior estreia da história no serviço de streaming da Amazon.
Na TV por assinatura, canais como Studio Universal oferecem programação inteiramente dedicada a filmes de Natal. Desde o início de novembro, são 24 horas diárias de produções natalinas, e a maratona vai até a primeira semana de janeiro.
— Os filmes de Natal acabaram se tornando pequenos refúgios. Em sua maioria, não são grandes obras-primas, mas são capazes de nos transportar para um momento de certa magia, trazendo mais leveza para a vida — explica a publicitária Carolina Gaspar.
E há mais opções além dos filmes de Papai Noel e dos romances água com açúcar.
— Um bom filme de Natal, mais do que só reproduzir os valores religiosos ou morais associados a esse período, deve ser um bom filme propriamente dito. Eu destacaria “A felicidade não se compra” (1946), por reconhecê-lo como o cinema natalino na sua forma mais humana e mágica — diz o crítico Marcio Sallem. — Outro que gosto de indicar é “Feliz Natal” (2005), que narra um evento histórico quando franceses, alemães e escoceses fizeram um cessar fogo no Natal durante a Primeira Guerra Mundial.