Brasil no Oscar: país nunca levou estatueta, mas faz parte da história do prêmio
Com três indicações, "Ainda estou aqui" pode trazer primeiro prêmio no domingo (2); primeira indicação foi em 1945, para samba de Ary Barroso
Com as três indicações para “Ainda estou aqui”, os brasileiros transformaram o Oscar desse ano em Copa do Mundo. Na virada de 2 para 3 de março, uma nação de torcedores-cinéfilos vai estar de olho no Dolby Theatre, em Los Angeles, vibrando pelas estatuetas de melhor filme (improvável), melhor filme internacional (bem possível) e melhor atriz (#FernandaTorresTotalmenteOscarizada).
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Seria o primeiro Oscar do Brasil prêmio que desde 1945, ano da primeira indicação, tem escapado ao cinema nacional - ninguém está contando, mas Chile (1) e Argentina (2) já tem os seus.
De qualquer forma, o paísl faz parte da história da festa da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, seja com indicações (diretas, indiretas, até uma não reconhecida), participações ou co-produções. A seguir, boas histórias dessa trajetório.
1945. Primeira indicação e erro histórico
Nossa primeira indicação ao Oscar foi para melhor canção, com “Rio de Janeiro”, samba de Ary Barroso e Ned Washington (que fez a letra, em inglês) presente na trilha sonora de “Brazil”.
A música cantada pelo mexicano Tito Guízar — de brasileiro no filme, só Aurora “irmã de Carmen” Miranda, fazendo uma ponta — perdeu pra para “Swinging on a star”, cantada por Bing Crosby em “O bom pastor”.
E nunca esqueçamos: nesse mesmo ano, Lupicínio Rodrigues também deveria ter sido indicado.
Há uma versão instrumental da sua "Se acaso você chegasse" em "A dançarina loira". A trilha do filme foi indicada como um todo, mas atribuída somente a Edward Kay.
1960. É do Brasil, só que não
“Orfeu negro” leva o Oscar de melhor filme estrangeiro. É um longa baseado em peça de Vinícius de Moraes, com trilha de Tom Jobim e Luís Bonfá, gravado no Rio, com elenco brasileiro, falado em português.
Prêmio para o Brasil, certo? Não. Nessa categoria, o filme representa somente um país — e, no caso, o longa do diretor Marcel Camus representava a França.
1963. Levamos Cannes, mas o Oscar escapou
Até hoje, “O pagador de promessas” é o único filme brasileiro que conquistou a Palma de Ouro em Cannes. Foi em 1962, e no ano seguinte o longa de Anselmo Duarte foi indicado ao Oscar de filme estrangeiro — o 1º sul-americano a chegar lá. Mas perdeu para o francês “Sempre aos domingos”.
1986. Um "depende" aracnídeo
A polêmica surgiu com a nomeação de "Ainda estou aqui": seria ele ou “O Beijo da Mulher Aranha", que concorreu em 1986, o primeiro filme brasileiro indicado ao Oscar de melhor filme?
"O beijo" tinha um produtor executivo brasileiro, Francisco Ramalho Jr., mas não era ele quem subiria ao palco se a produção levasse o prêmio. Seu diretor era um argentino naturalizado braileiro, Hector Babenco.
E a história, baseada no livro do argentino Manuel Puig, se passava no Brasi, mas os diálogos eram em inglês. Então a resposta honesta é: depende. O que dá pra dizer com certeza: "Ainda estou aqui" é o primeiro filme falado em português indicado a melhor filme.
1987. Sônia Braga no palco
Em evidência jutamente por "O beijo da Mulher Aranha", em 1987 Sônia Braga tornou-se a primeira e, até hoje, única brasileira a apresentar um prêmio durante a cerimônia.
Em 1987, apresentou o prêmio de melhor curta-metragem acompanhada de Michael Douglas, que a estimulou a falar algo em português. Sôna mandou um "estou com muitas saudades".
1993. É do Brasil, só que não: Parte 2
Nascida no Rio, Luciana Arrighi levou o Oscar de melhor direção de arte em 1993 por "Retorno a Howards End". Oscar do Brasil? Ainda não.
Filha de um diplomata italiano e uma modelo astraliana, Luciana saiu do Brasil com 2 anos e não tem laços com o país.
1996. De volta à competição
Rompendo um jejum de 33 anos, "O quatrilho", de Fabio Barreto, foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Mas perdeu para o favorito, o holandês "A excêntrica família de Antônia".
1999. Trauma nacional
Hoje um clássico do cinema brasileiro, "Central do Brasil", de Walter Salles, concorreu na categoria de melhor filme internacional, mas perdeu para "A vida é bela", franco favorito.
Mas havia outra esperança: Fernanda Montenegro também concorreu a melhor atriz — a primeira latina a ser indicada na categoria.
Mas havia o lobby da Miramax de Harvey Weinstein no caminho, e a grande dama deixou de ganhar para Gwyneth Paltrow, protagonista de "Shakespeare Apaixonado".
2003. Caetano intérprete
Naquele ano, o baiano cantou "Burn it blue" com a mexicana Lilia Downs. A música, de Jule Taynor e Elliot Goldenthal, fazia parte da trilha sonora de "Frida" e era indicada ao Oscar de melhor canção original.
Em entrevista na época, Caetano não parecia muito entusiasmado com a canção: "Gravei a pedido de Julie, diretora a quem muito admiro por seu magnífico trabalho no (musical) "O Rei Leão", em cartaz na Broadway há muitos anos.
Ela e seu marido Elliot Goldenthal, autores da música, vieram ao Rio no inicio de 2002, para que eu pudesse gravá-la com a cantora mexicana Lila Downs. Gravamos no estúdio Mega e confesso que não pensei mais no assunto."
De qualquer maneira, não havia como competir com o sucesso "Lose yourself", que Eminem gravou para a semibiooic "8 Mile", que levou o prêmio.
2004. Recorde de indicações
Por falar em "Frida", como dizem os mexicanos: jogamos como nunca e perdemos como sempre.
Foram cinco indicações: quatro para "Cidade de Deus" (diretor, roteiro, fotografia e edição) e mais uma pro Carlos Saldanha em curta metragem de animação, "Gone nutty"... e novamente sem Oscar.
2011 e 2016. Docs com DNA brasileiro
Por duas vezes, foram indicados na categoria de melhor documentário produções estrangeiras que tinham artistas brasileiros como tema principal:
"Lixo estraordinário", sobre Vik Muniz, em 2011; e "O sal da terra", em 2016, sobre o fotógrafo Sebastião Salgado.
2012. Eram 50% de chance
Foi o ano em que, matematicamente, o Brasil chegou mais perto de ganhar um Oscar. Naquele Oscar, só havia dois concorrentes na categoria de melhor canção original: uma chamada "Man or muppet" de "Os muppets", de Bret McKenzie.
E a outra era "Real in Rio", da animação "Rio", de Carlos Saldanha parceria dos brasileiros Sergio Mendes e Carlinhos Brown cantada pela americana Siedah Garrett... Ou seja, chance de 50%. E ganharam os Muppets.
2016. Animação brasileira
Para surpresa e alegria do Brasil, a animação independente "O menino e o mundo ", escrita e dirigida por Alê Abreu, foi um dos indicados ao Oscar de melhor filme de animação. Mas era o ano de "Divertida mente".