Brasileiro do reality "Round 6: O Desafio" denuncia experiência como "Uma grande mentira"
O cantor e estilista Yohan Tanak compartilhou a experiência ao participar do programa e ser eliminado injustamente, segundo ele; participantes de outros países também denunciaram irregularidades e abusos nos bastidores da produção
Dois brasileiros que participaram da série "Round 6: O Desafio", “reality” inspirado na série sul-coreana "Round 6", que se tornou um fenômeno global, tiveram experiências muito distintas na produção da Netflix. Um deles chegou à final e foi estrela de campanhas nas redes da gigante do streaming, outro foi desclassificado após a primeira prova e sustenta que a competição foi desleal e recheada de manipulações.
Na série original, pessoas que passam por problemas financeiros acabam aceitando um convite misterioso para participar de um jogo de sobrevivência. Eles arriscam suas vidas, em troca de um prêmio milionário em dinheiro. De acordo com a produção do programa, a única diferença do reality para a ficção seria que nenhuma pessoa, obviamente, correria risco de morte pelo prêmio de US$ 4,56 milhões (R$ 22,3 milhões). Mas, na realidade, as coisas não parecem ter sido assim.
O cantor e estilista Yohan Tanaka, que declarou guerra à Netflix e à produtora Studio Lambert nas redes sociais, contou ao Globo que sempre foi um sonho participar de um reality show para impulsionar sua carreira como músico. Tanaka não acreditou que sua inscrição ia para frente, mas quando soube que embarcaria para Londres para participar do programa a animação foi instantânea. Ele afirma que a euforia logo foi substituída pela decepção e surpresa com a Netflix, empresa que o brasileiro diz ter admirado por muito tempo.
— Chegamos no estúdio às 6h da manhã e ficamos esperando em um galpão por pelo menos oito horas. Ficamos preparando em um frio pesado, o que não estou reclamando, era esperado para um reality de competição sofrimento e dificuldades, mas foi ali que começamos a descobrir as falcatruas. Dezenas de pessoas estavam equipadas com microfones falsos, participantes que tiveram direito a maquiagem e produção, além de outros concorrentes que visivelmente receberam equipamentos de melhor qualidade — afirma o cantor.
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Tanaka também conta que no final da primeira prova, a famosa "Batatinha frita 1, 2, 3", o alívio foi instantâneo ao cruzar a linha de chegada ainda dentro do tempo estipulado, mais precisamente faltando 38 segundos para o fim. Para surpresa dele, e de outros competidores que estavam ao seu lado, o grupo foi eliminado mesmo tendo sido filmado comemorando o resultado positivo.
Após o desespero de ser eliminado sem uma razão concreta, o caos tomou conta dos bastidores segundo o brasileiro. Tanaka afirma que tentou questionar produtores e diretores sobre o que estaria acontecendo, pediu as regras do jogo e provas de que foram mesmo eliminados. De acordo com o cantor, os responsáveis “sei fizeram de tolos” e disseram que mandariam um vídeo comprovando a eliminação. O material nunca foi enviado.
— A competição na verdade era um reality com cartas marcadas, abuso de poder e zero chances reais de ganharmos qualquer prêmio milionário. Fomos apenas figurantes não pagos como um artifício de burlar a imigração. Entramos no país como turistas, e não para trabalhar numa produção com visto de trabalho. Assim que chegamos, já possuíamos as passagens de volta, indo contra todo o processo da veracidade de um reality — desabafa Tanaka.
O Globo também teve acesso ao depoimento de outros participantes que relataram em um grupo de mensagens uma experiência semelhante. O grupo ganhou o nome de “Round 6: o pesadelo”, onde foram compartilhados relatos de ferimentos e condições insalubres.
— Comecei a falar com outros concorrentes, dizendo-lhes como eu estava triste porque não me mexi. Fiquei chocado ao saber que eles também não se moveram também. Ao sair do estúdio, fomos conduzidos ao andar térreo e solicitados a passar por uma fila para coletar uma carta sobre o que fazer a seguir. Recebi uma carta vermelha que dizia que “era um jogo justo” “você se saiu muito bem – esta é uma grande oportunidade”. Isso piorou meu estado mental — afirma um britânico que preferiu não se identificar.
— Estou acompanhando aqui desde o início, estou triste com tudo isso. Nunca me disseram que estaria de 'figuração', tirei um mês de folga do trabalho para viajar. Fui escalado, mas saí me sentindo um perdedor. Eles ainda ficavam dizendo que eu deveria estar orgulhoso de ter chegado até ali — afirmou outro estrangeiro.
Futuro “pós-reality”
Em meio ao caos vivido nos bastidores, Tanaka decidiu retornar à música com uma faixa inspirada nos acontecimentos nos bastidores de “Round 6: O Desafio”. É o primeiro single da nova fase da carreira do cantor, narrando os jogos de uma competição mentirosa mas ao mesmo tempo faz analogia ao jogo do amor.
Revoltados, os participantes ainda avaliam se vão entrar com uma ação coletiva na Justiça britânica.
— O que a Netflix fez nessa série é absurdo, uma grande mentira. Jamais imaginava que uma gigante como a Netflix poderia fazer isso, era fã da empresa, tentei vender projetos para eles, mas esse encanto desmoronou. É tipo quando conhecemos nosso ídolo e ele não presta — finaliza Tanaka.
Brasileiro na final
Nascido em São Paulo, Phill Cain foi o outro brasileiro que participou da competição. Ele é filho de mãe brasileira e pai norte-americano, morou em São Paulo até os oito anos, quando se mudou com a família para Nova Jersey, nos Estados Unidos.
Jogador número 451 no programa, ele disputou o prêmio com o outro finalista, Mai, mas acabou ficando em segundo lugar na competição.
A equipe da Netflix chamou Cain para participar do programa quando ele morava no Havaí. "Lá é o melhor dos dois mundos. Tem o aspecto cultural do brasileiro, que é bem legal, gente boa, familiar, comida boa, mas também tem mais segurança e oportunidades", disse ele em vídeo promocional.
Procurada pelo Globo, a Netflix não se posicionou sobre o caso