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Ingressos

Calor, briga e relato de AVC: fãs de Bruno Mars enfrentam perrengue em fila para ingressos no RJ

Multidão de fãs do cantor havaiano passa mais de 20 horas ao redor do Engenhão para conseguir comprar ingressos para show em outubro

Bruno MarsBruno Mars - Foto: I Hate Flash/Divulgação

Pode anotar: até outubro, Bruno Mars será um substantivo próprio repetido à exaustão em solo nacional.

Após o frisson causado por Taylor Swift — que lotou estádios em São Paulo e no Rio de Janeiro, em novembro de 2023 — e Madonna, que levou 1,6 milhão de pessoas à Praia de Copacabana, no último sábado (4), o nome de outro artista americano já enche a boca de milhares de brasileiros.

"Vem, Bruninho", berrava parte das centenas de fãs do cantor havaiano, na tarde desta quarta-feira (8), sob o sol a pino que torrava os miolos de quem se aglomerava nas cercanias do Estádio Nilton Santos, o Engenhão, na Zona Norte do Rio de Janeiro.

Para garantir ingressos para a série de apresentações que o artista fará no Brasil daqui a cinco meses — em São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro —, uma turma de admiradores do coroado rei do soul retrô/moderno enfrentou a onda de calor que aplaca a capital fluminense e permaneceu por mais de 20 horas numa fila que rodeava o Engenhão, onde ocorrerão parte dos shows.

O cenário era idêntico no shopping Ibirapuera, na capital paulista, e no Estádio Mané Garrincha, no Distrito Federal.

Aliás, diante da alta demanda e do fato de as entradas terem se esgotado em menos de uma hora, a produtora Live Nation anunciou nesta tarde quatro datas extras, sendo duas em São Paulo e o restante nas demais cidades (as vendas da nova leva de bilhetes acontece amanhã, para clientes do Santander, e sexta-feira, para o público geral).

"Essa é a maior loucura da minha vida, sem sombra de dúvida. Passei a semana inteira desesperada, porque não consegui comprar on-line, na pré-venda. Cheguei aqui às 19h (de terça-feira) e só estou saindo agora, às 13h — celebra a estudante Maria Luysa Ângelo, de 16 anos, aos prantos, após ter o bilhete em mãos.",  Desde meus 7 anos, Bruno Mars é meu maior ídolo.

Mãe da jovem, Vanusa Ângelo, de 37 anos, desembolsou R$ 400 por uma meia-entrada na pista premium para a filha. Ela diz que dividiu o valor em várias parcelas — "para o bolso não sentir tanta dor", como justificou, sem esconder o espanto com o preço e o frenesi de jovens no local.

"Fiquei meio receosa de deixar ela vir sozinha para fila. Inicialmente, falei que "não". Mas aí vi minha filha chorando... E então resolvi trazê-la ", repassa a moradora do bairro carioca de Inhaúma. — Entendo esse amor todo por um ídolo. Mas eu mesma nunca cultivei nada disso por ninguém.

Perrengue e confusões
A conquista por um ingresso do show de Bruno Mars exigiu, além de grana, muito suor. "Perrengue" era a palavra mais utilizada pelos fãs ao descrever a prova de resistência que envolveu passar a madrugada ao relento, sem banheiro, e suportar o calorão debaixo do sol. A maioria das pessoas carregava travesseiros, guarda-chuvas — que faziam as vezes guarda-sol —, bolsas com alimentos...

A enfermeira Adriana Pantoja chegou ao Engenhão por volta das 17h da última terça-feira (7). Achou que seria a primeira da fila, mas topou com mais de 200 pessoas à sua frente. Ela acompanhava a filha, de 20 anos, e duas amigas da jovem. O grupo contou que se sentiu inseguro e reclamou da má organização da equipe responsável pelo estádio, no bairro do Engenho de Dentro. Outras pessoas ouvidas pelo GLOBO reforçaram que não houve qualquer orientação para a formação da fila, e que a madrugada foi marcada por brigas e confusões.

Por volta das 8h desta quarta-feira (8), uma senhora passou mal e teve um Acidente Vascular Cerebral (AVC), como relataram ao GLOBO várias pessoas. A mulher, não identificada, foi socorrida e levada a um hospital. Até o momento, o GLOBO não obteve informações sobre o estado de saúde dela.

" A cada hora, a equipe de organização falava uma coisa, e o desespero entre as pessoas na fila só aumentava. Diziam que mães não poderiam emprestar cartões de créditos para os filhos, e depois afirmavam o contrário. Foi uma confusão. Na fila de idosos, houve um momento em que só vimos adolescente. Vimos algumas brigas. E como não deixavam abrir a grade para sairmos, houve até dificuldade para socorrerem a senhora que teve o AVC " repassa Adriana Pantoja.

Até mesmo funcionários terceirizados, contratados para auxiliar a formação da fila, reconheceram ao GLOBO que faltou organização para receber a multidão nos arredores do Engenhão. Devido ao forte calor e ao fato de que haveria um jogo entre os clubes Botafogo e LDU no local à noite, a equipe antecipou a venda dos ingressos — inicialmente marcada para as 13h — para o horário de 11h.

"Essa provação toda é para eu descer direto no paraíso, né?", brinca Laura Souza, de 49 anos, que acompanhava a filha adolescente e outros duas amigas dela, desde as 4h da manhã na fila.

"Para falar a verdade, também gosto muito do Bruno Mars. Mas achei que não precisaria passar por esses obstáculos todos para conseguir ir a um show (risos). No on-line, as entradas esgotaram rapidinho. Daí sobra o quê? Isso aqui! Enfrentar o perrengue é a única chance, parece. E ser mãe é entender isso. Mas sei que também vou me divertir. Então, está valendo."

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