Cannes à espera de uma Palma de Ouro de difícil escolha
O festival encerra sua 75ª edição neste sábado (28)
O Festival de Cinema de Cannes encerra neste sábado (28) a sua 75ª edição com uma escolha difícil na mesa, sem um claro favorito para a Palma de Ouro após quase duas semanas de cinema muito diversificado.
A maioria dos 21 filmes que disputam o prêmio máximo aborda dramas sociais ou familiares, denuncia injustiças ou exibe contradições, em um mundo em crise ou resistente a mudanças.
"Close", de Lukas Dhont, um drama sobre dois adolescentes cuja amizade termina abruptamente, recebeu muitos aplausos perto do final do programa por sua abordagem delicada à homossexualidade emergente.
Também "As Oito Montanhas", do casal belga Charlotte Vandermeersch e Felix van Groeningen, trata de uma amizade masculina.
O cinema iraniano marcou com "Os irmãos de Leila", de Saeed Roustaee, e "Aranha Santa", de Ali Abbasi, duas formas diferentes de refletir sobre a situação das mulheres no mundo muçulmano. "Boy from heaven", de Tarik Saleh, escolheu questionar o Islã através de um thriller no Egito contemporâneo.
Os países ocidentais também receberam sua cota de críticas, algumas em tom satírico, como "Triângulo da tristeza", do sueco Ruben Ostlund, já vencedor de uma Palma de Ouro por "The Square" em 2017.
O desafio migratório
Vários cineastas enfrentaram o desafio migratório em uma Europa em crise. "Tori et Lokita", dos irmãos belgas Dardenne (que poderiam ganhar sua terceira Palma de Ouro), denunciou a situação dos menores sem documentos; "RMN", do romeno Cristian Mungiu (já coroado em Cannes em 2007), alertou sobre o racismo e o extremismo político.
"Un petit frère", de Léonor Serraille, mostra a saga de uma família migrante africana na França.
A Ásia marcou presença com vários filmes, ambientados na Coreia do Sul, país que se destacou como uma potência cinematográfica nos últimos anos.
"Broker", do japonês Hirokazu Kore-eda (também com uma Palma de Ouro), narra o drama de crianças abandonadas. "Decision to Leave", do diretor sul-coreano Park Chan-Wook, retrata um romance complexo entre um policial e um suspeito de assassinato.
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Outros diretores optaram pela introspecção, pelas lembranças dolorosas ou nostálgicas do passado familiar, das amizades perdidas.
"Nostalgia", do italiano Mario Martone, é um retrato desencantado de Nápoles sob o controle da Camorra, "Armageddon time", de James Gray, sobre Nova York nos anos 1980 e o racismo.
A francesa Claire Denis ambientou um romance tingido de mistério na Nicarágua em "Stars at Noon". Sua compatriota, atriz e diretora Valeria Bruni-Tedeschi, homenageou a escola de teatro de sua juventude em "Les Amandiers".
O russo Kirill Serebrennikov mostrou em "Tchaikovsky's Wife" a homossexualidade do famoso compositor através dos olhos de sua esposa. A presença no concurso do cineasta, crítico de seu governo e agora exilado em Berlim, foi criticada por grupos de ucranianos que consideram que ele não deveria participar, em decorrência da invasão russa da Ucrânia.
Cinema ousado
Fiel à sua tradição de abrir novos caminhos, Cannes também deu oportunidade a filmes experimentais ou de ficção científica.
"Pacification", do diretor espanhol Albert Serra, ambientado na Polinésia, mais uma vez dividiu a crítica com um cinema de planos gerais e muita ambiguidade.
"Crimes do futuro", do canadense David Cronenberg, propunha um futuro em que o sexo passa por cirurgia, e o polonês Jerzy Skolimowski surpreendeu com as aventuras de um asno, "Eo".
O festival de cinema mais importante do mundo já premiou no ano passado um filme ousado e polêmico, "Titane", uma reflexão sobre a transexualidade e a relação entre seres humanos e carros, assinado por uma mulher, Julia Ducournau.
Este ano, cinco mulheres - o maior número da história do concurso - aspiram ao maior prêmio. O júri de nove pessoas, liderado pelo ator francês Vincent Lindon, dará o veredicto por volta das 20h30 (15h30 no horário de Brasília).
A atriz espanhola Rossy de Palma preside o júri da Câmara de Ouro deste ano, para o melhor filme de estreia de um novo diretor, categoria em que participam "El agua", da espanhola Elena López Riera, "1976", da chilena Manuela Martelli e dois filmes colombianos, "Un varón" e "La jauría".