Caravaggio quase vendido por engano entra em exposição no Museu do Prado
Tela "Ecce Homo" se torna uma das obras conhecidas do mestre italiano e valor passou de cerca de R$ 8 mil para mais de 200 milhões de reais
Uma pintura do mestre italiano Caravaggio que quase foi leiloada por 1.500 euros por ser considerada de um artista desconhecido será apresentada nesta segunda-feira no Museu do Prado, em Madrid. Intitulada "Ecce Homo", a tela escura retrata um Jesus ensanguentado usando uma coroa de espinhos pouco antes de sua crucificação. Agora, ela se torna uma das cerca de 60 obras conhecidas do artista renascentista. A exposição chamada "Ecce Homo, el Caravaggio perdido" aberta stará ano museu espanhol até o dia 23 de fevereiro de 2025.
De R$ 8 mil a R$ 200 milhões
A tela, anteriormente, havia sido erroneamente atribuída a José de Ribera, um artista que fazia parte do círculo do pintor espanhol do século XVII. Por isso, chegou a ser colocada a venda por uma casa de leilões de Madrid em abril de 2021, com avaliação inicial de 1.500 euros (cerca de R$ 8.400). Mas, poucas horas antes de ir a leilão, o Ministério da Cultura bloqueou a operação sob suspeita de que fosse na verdade um Caravaggio, o que aumentaria exponencialmente o valor da obra.
A ação do ministério ocorreu depois que o museu do Prado soou o alarme, dizendo que tinha “evidências documentais e estilísticas suficientes” para provar que a obra era de fato de Michelangelo Merisi da Caravaggio. O museu anunciou no início deste mês que os principais especialistas determinaram “sem dúvida" que é uma obra-prima de Caravaggio e consideraram “uma das maiores descobertas da história da arte”.
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A pintura foi restaurada e será exibida ao público pela primeira vez desde que foi confirmada como Caravaggio em entrevista coletiva no Museu do Prado, na segunda-feira. Participarão especialistas que trabalharam na sua identificação e restauração.
A mídia espanhola informou que o novo proprietário é um cidadão britânico que vive na Espanha e que pagou 36 milhões de euros (R$ 201,7 milhões) pela pintura, que pode permanecer em exibição pública após sua exposição no Prado por vários meses.
A pintura "não vai acabar na casa do comprador", que quer que ela se junte a "coleções públicas, por enquanto, por empréstimo", disse Jorge Coll, diretor da galeria de arte londrina Colnaghi, que administrou a venda.
Pintada por volta de 1605-1609, acredita-se que a tela escura e atmosférica tenha feito parte da coleção particular do rei Filipe IV da Espanha, antes de ser exibida nos apartamentos de seu filho Carlos II.
Uma das especialistas que participou da autenticação, a professora de história da arte Maria Cristina Terzaghi, da universidade italiana Roma Tre, disse à AFP em entrevista de 2021 que ao ver uma foto da pintura que lhe foi enviada por WhatsApp por alguns amigos negociantes de arte, ela “percebeu imediatamente que poderia ser muito importante”. Ela voou para Madrid para ver a tela e "não tive dúvidas... ficou claro que era uma obra de Caravaggio".
Para ela, as evidências eram amplas: desde “a cabeça de Cristo” ao brilho do seu torso, à cor do seu manto e “à natureza tridimensional das três figuras, que se contrabalançam numa transição quase cinematográfica”. .
Caravaggio, que teve uma vida violenta e caótica, foi o pioneiro na técnica de pintura barroca conhecida como claro-escuro, na qual luz e sombra contrastam fortemente.
Os historiadores da arte utilizam vários métodos para determinar a legitimidade de uma obra de arte, incluindo o exame forense da tela e da tinta para determinar a sua idade, a tecnologia e os estilos da época em que foi criada, e as técnicas do artista ou dos seus alunos.