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Carta de Caetano para o Papa Francisco: veja quais são as crianças mortas pela violência no Rio

Artista baiano afirma que "a lista de meninos e meninas mortos por armas de fogo na Região Metropolitana do Rio assombra"

O cantor baiano Caetano Veloso com o Papa Francisco no VaticanoO cantor baiano Caetano Veloso com o Papa Francisco no Vaticano - Foto: Reprodução / Vatican News

O cantor Caetano Veloso, ao ser abençoado pelo Papa Francisco, no Vaticano, entregou ao pontífice uma carta em que relata que na cidade onde mora, no Rio de Janeiro,"a violência atingiu índices iguais aos das grandes guerras pelo mundo. E o pior: vitimando cada vez mais crianças. A lista de meninos e meninas mortos por armas de fogo na Região Metropolitana do Rio assombra, só este ano 10 crianças morreram dessa forma. Recentemente, entrou nesta estatística a menina Eloah da Silva dos Santos, de 5 anos, atingida por um tiro quando estava em casa, no Morro do Dendê, comunidade da Ilha do Governador, Zona Norte do Rio".

Caetano afirma que "as vítimas têm em comum o fato de terem tido uma morte repentina enquanto viviam seus cotidianos. Com idades entre 9 e 13 anos. A chamada "guerra às drogas" até hoje não reduziu o comércio ou o uso delas. Mas o número de jovens, em sua maioria negros, mortos a bala não para de crescer. Esse destino trágico também vitimou: Juan Davi de Souza Faria, 11 anos; Rafaelly da Rocha Vieira, 10 anos; Maria Eduarda Carvalho Martins, 9 anos; Ester de Assis Oliveira, 9 anos; Jhenyfer Luz Silva de Souza, 12 anos; Lohan Samuel Nunes Dutra, 11 anos; Yan Gabriel Marques, 12 anos; Dijalma de Azevedo, 11 anos; Thiago Menezes Flausino, 13 anos."

Confira abaixo a íntegra da carta escrita por Caetano Veloso:
"Vaticano, 28 de setembro de 2023

Vossa Santidade, Papa Francisco,

É com alegria especial que chego aqui, na Santa Sé, para este encontro. Sou da cidade de Santo Amaro da Purificação. E desde menino acompanhava encantado a minha mãe, Dona Canô, com seus gestos de simplicidade, afeto e sabedoria.

Ela lutava em defesa da despoluição do Rio Subaé e fazia campanhas pela restauração da igreja de Nossa Senhora da Purificação, da qual sempre foi ardorosa devota.

Em 2007, na festa do centenário dela, a família, amigos e a cidade de Santo Amaro promoveram durante o ano uma série de homenagens à dona Canô. E o que nela provocou maior emoção foi a Igreja da Purificação receber a imagem peregrina de Nossa Senhora Aparecida.

É com esses ensinamentos de paz que chego aqui, diante de Vossa Santidade.

Nesses 10 anos de pontificado do primeiro Papa da América Latina, jesuíta e de nome Francisco, tenho acompanhado suas posições denunciando injustiças, alertando para a situação dos migrantes e sendo o autor da primeira encíclica ambiental: Laudato si – Sobre o cuidado da casa comum. O texto é uma advertência necessária sobre as responsabilidades humanas nas alterações climáticas.

Santo Padre, onde moro, na cidade do Rio de Janeiro, a violência atingiu índices iguais aos das grandes guerras pelo mundo. E o pior: vitimando cada vez mais crianças. A lista de meninos e meninas mortos por armas de fogo na Região Metropolitana do Rio assombra. Só este ano, 10 crianças morreram dessa forma.

Recentemente, entrou nesta estatística a menina Eloah da Silva dos Santos, de 5 anos, atingida por um tiro quando estava em casa, no Morro do Dendê, comunidade da Ilha do Governador, Zona Norte do Rio.

As vítimas têm em comum o fato de terem tido uma morte repentina enquanto viviam seus cotidianos. Com idades entre 9 e 13 anos. A chamada "guerra às drogas" até hoje não reduziu o comércio ou o uso delas. Mas o número de jovens, em sua maioria negros, mortos a bala não para de crescer.

Esse destino trágico também vitimou: Juan Davi de Souza Faria, 11 anos; Rafaelly da Rocha Vieira, 10 anos; Maria Eduarda Carvalho Martins, 9 anos; Ester de Assis Oliveira, 9 anos; Jhenyfer Luz Silva de Souza, 12 anos; Lohan Samuel Nunes Dutra, 11 anos; Yan Gabriel Marques, 12 anos; Dijalma de Azevedo, 11 anos; Thiago Menezes Flausino, 13 anos."

Veja quem são as crianças mortas pela violência no Rio:
Juan Davi de Souza Faria, 11 anos

Juan Davi foi atingido por um tiro na cabeça quando subiu em uma cadeira, na varanda da sua casa, em Mesquita, na Baixada Fluminense, para contemplar o espetáculo provocado pela queima de fogos nos primeiros minutos do dia 1° de janeiro. Segundo parentes, mais de 24 horas após o menino ser ferido por uma bala perdida e perder a vida, a Polícia Civil ainda não havia feito uma perícia na residência para tentar saber de onde partiu o tiro que matou Juan.

Rafaelly da Rocha Vieira, 10 anos
Rafaelly da Rocha Vieira morreu uma semana após completar 10 anos, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. A criança brincava na porta de casa quando foi alvejada por homens encapuzados que passaram atirando na esquina da Rua Doutor Monteiro de Barros com Avenida Getúlio de Moura, no Centro daquela cidade, relataram parentes.

Maria Eduarda Carvalho Martins, 9 anos
Era um bloco de carnaval, no dia 19 de fevereiro, na Praia do Anil, em Magé, na Baixada Fluminense. A menina Maria Eduarda Carvalho Martins, de apenas 9 anos, foi atingida por um tiro durante uma briga entre um policial civil e um bandido. No tiroteio, uma mulher também foi morta e 16 pessoas ficaram feridas.

Jhenyfer Luz Silva de Souza, 12 anos
Jhenyfer foi morta vítima de bala perdida no dia 15 de abril, em Itatiaia, no Sul Fluminense. O caso aconteceu durante um tiroteio entre traficantes, que dispararam contra um desafeto no bairro Nova Conquista. Jhenyfer Luz Silva de Souza foi atingida nas costas e não resistiu

Lohan Samuel Nunes Dutra, 11 anos
No dia 30 de abril, Lohan Samuel Nunes Dutra, de 11 anos, morreu após ser baleado num tiroteio no Complexo do Chapadão. Segundo familiares, ele e a irmã de criação Kailany Vitória Fernandes, de 19 anos, que também morreu, estariam no portão de casa, na localidade conhecida como Praça do Areal, quando foram atingidos por disparos.

Yan Gabriel Marques, 12 anos
Yan Gabriel, de 12 anos, morreu atingido no rosto por um tiro de bala perdida, num confronto ocorrido entre os dias 8 e 9 de julho, enquanto brincava, em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense. O tiro teria sido disparado durante uma disputa por território entre grupos rivais de milicianos que atuam na região. Segundo relatos nas redes sociais, a guerra é travada por milicianos liderados por Gilson Ingrácio de Souza Junior, o Juninho Varão, e Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho.

Dijalma de Azevedo, 11 anos
Dijalma de Azevedo, de 11 anos, morreu no dia 12 de julho, após ser baleado próximo de um condomínio na Estrada do Bosque Fundo, em Maricá, na Região Metropolitana do Rio. No momento em que foi atingido, ele usava o uniforme de escola municipal da cidade e estava a caminho da unidade de educação.

Thiago Menezes Flausino, 13 anos
O adolescente que sonhava ser jogador de futebol pilotava uma moto e passava na esquina da Estrada Marechal Miguel Salazar com Rua Jeremias quando foi baleado, durante uma ação do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq) na madrugada de 7 de agosto. Parentes afirmaram que o primeiro tiro atingiu Thiago numa das pernas, ele caiu e os demais disparos — cinco ao todo — foram feitos quando o garoto estava caído no chão.
 

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