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São Paulo

Casal reclama de manifestação política e homenagem à Erundina em show do MPB4 e deixa local sob vaia

Em atividade há 60 anos, grupo mantém forte engajamento em prol da democracia desde que surgiu como um dos braços da UNE: "Repórteres do nosso tempo"

Integrantes do grupo MPB4 posam com a deputada Luiza Erundina Integrantes do grupo MPB4 posam com a deputada Luiza Erundina  - Foto: Reprodução/Instagram

O clamor se deu após "Cálice", composição de Chico Buarque e Gilberto Gil censurada pela ditadura militar brasileira. Assim que o grupo MPB4 interpretou a famosa canção de protesto — em show no Sesc Pinheiros, em São Paulo, no último domingo (1º) —, parte da plateia gritou com empolgação: "Viva a democracia!".

Duas músicas depois, encerrada a execução de "Apesar de você", igualmente de Chico Buarque, um grupo de espectadores ecoou o mesmo berro, mas desta vez também homenageando a deputada federal Luiza Erundina (PSOL-SP), de 90 anos, que assistia à apresentação na plateia, e logo emendando outro coro, em referência aos investigados pela recente tentativa de golpe no país: "Sem anistia, sem anistia!". Até que...

No momento em que um dos cantores do grupo começou a ler um texto para introduzir a música "Que tal um samba?", também de Chico Buarque, uma senhora se exaltou na plateia, reclamando das manifestações políticas. "Lula ladrão", pôde-se ouvir no tal berro solitário. Foi aí que um burburinho preencheu o ambiente, e a maioria dos espectadores pediu silêncio: "Shhhhh". O show prosseguiu, os músicos iniciaram, enfim, a performance de "Que tal um samba?", e a senhora seguiu em sua ladainha. Até que no meio da música — "Que tal uma beleza pura no fim da borrasca? / Já depois de criar casca e perder a ternura / Depois de muita bola fora da meta..." —, ela e o marido levantaram de suas cadeiras, sob vaias. Os dois decidiram, então, deixar o show, que seguiu, em alto e bom som, em meio a aplausos.

— Este tipo de reação na plateia é rara, mas não é a primeira vez que acontece — relata Marcelo Cabanas, produtor da banda. — Recebemos, também raramente, mensagens pelo Instagram de gente criticando o viés político do grupo. Mas o MPB4 nasceu dentro do CPC [Centro Popular de Cultura] da UNE [União Nacional de Estudantes], em 1964. Era o braço musical do CPC... O primeiro nome do grupo foi Quarteto do CPC. Então, quem vai para o show do MPB4 achando que vai ser um show apolítico, está indo bem desavisado. O MPB4 sempre cantou a liberdade e a democracia. Como dizia o Millôr Fernandes, o MPB4 são os repórteres do nosso tempo.

Fica aí o aprendizado.

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