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SAÚDE

Casos de síndrome que causa dor crônica e acomete Lady Gaga tem alta de atendimentos

Fibromialgia é uma condição de saúde que influencia no sono, na saúde mental e leva a grandes episódios de fadiga

Lady GagaLady Gaga - Foto: ANGELA WEISS / AFP

Uma dor persistente que pode se prolongar por meses ou anos. Alguns casos são caracterizados por formigamento no corpo ou então incômodos nos braços, na perna, na coluna. Por dias impera a fadiga, instalam-se problemas de memória ou alterações no sono.

Um diagnóstico possível para essa seleção de sintomas é a síndrome chamada de fibromialgia, que tornou-se mais conhecida nos últimos anos após relatos de pessoas públicas que viviam com o diagnóstico, caso da cantora Lady Gaga e da atriz brasileira Dani Valente.

A cantora norte-americana, inclusive, chegou a cancelar apresentações no Brasil por conta de dores relacionadas ao quadro. Mais recentemente, médicos do país têm visto um aumento de diagnóstico e atendimentos da síndrome entre os brasileiros.

Não existem dados nacionais que ratifiquem um possível avanço da síndrome, mas o estado de São Paulo fez um levantamento no qual mostra que o número de atendimentos de pessoas com este diagnóstico cresceu 30% entre março de 2022 e fevereiro 2023 quando comparado ao mesmo período de 2021 a 2022. Médicos reumatologias ouvidos pelo Globo também avaliam que que há um aumento desse tipo de quadro em seus consultórios.
 

É importante dizer, porém, que não existe exame específico para a fibromialgia, trata-se de um diagnóstico clínico, feito em consultório a partir de avaliação do paciente exames eliminatórios para outros problemas de saúde. No Brasil, estima-se que por volta de 2,5% da população possa conviver com a síndrome — que pode variar de intensidade a depender de cada pessoa

— Os sintomas basicamente são dores no corpo, pode ser em toda extensão ou em partes, contraturas musculares, cansaço muito intenso ou dificuldades para dormir, mesmo quando essa pessoa está exausta— explica Fernando Neubarth, chefe do Serviço de Reumatologia do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre. — Há ainda dificuldade de concentração, ansiedade, alterações intestinais, de memória.

O grande desafio causado pela síndrome, explica Fernando, é justamente fechar o diagnóstico, uma vez que ele se manifesta de maneira particular para cada um. Então, o trabalho de identificação consiste em acompanhar o quadro e eliminar a possibilidade de algumas doenças, caso de artite, ou algum tipo de machucado local. Outra dúvida que se estende sobre esse estado de saúde é justamente a razão de seu aparecimento, ainda incerta para os médicos.

— Em alguns casos, o caso é disparado após a pessoa passar por doenças de base que levam a dores agudas, caso da enxaqueca e da atrite reumatoide. Não há uma causa muito clara específica, é uma desregulação na sensação de dor no organismo — diz Ana Paula Bazilio, reumatologista da rede pública paulista.

Apesar de tratar-se de uma condição de saúde crônica (ou seja, para qual não há cura) o tratamento disponível permite que o paciente encontre qualidade de vida. Em casos assim, é fundamental que os pacientes mantenham uma rotina de exercícios físicos e procurem por maiores informações sobre a fibromialgia— é importante que quem tem fibromialgia entenda, por exemplo, que o problema de saúde pode passar por período de mais ou menos intensidade e que seu comprometimento com o tratamento é vital para a melhora dos sintomas. Por fim, há ainda o uso de fármacos que, em geral, têm a função de calibrar melhor a tolerância a dor no organismo.

— Trata-se de um diagnóstico mais conhecido nos dias atuais. Mesmo especialistas de outras áreas conhecem a síndrome— diz Roberto Ezequiel Heymann, Reumatologista do corpo clínico do Hospital Albert Einstein. — Ao mesmo tempo, outro fator que pode influenciar em mais diagnósticos são fatores externos, como o estresse. A pandemia também contribuiu (com mais casos) pois impediu que muitas pessoas fizessem atividade física, o que é fundamental para o controle da fibromialgia.

Roberto Ezequiel Heymann ainda diz que há mais aspectos a se descobrir acerca dessa condição de saúde. Ele ressalta de antemão, contudo, que não se trata de uma doença psicológica.

— A parte emocional, cerebral, das emoções, influencia em quadros de dor de maneira geral e não só nestes quadros. No caso da fibromialgia, acredita-se que há pessoas que podem ter alterações que poderiam funcionar como um tipo de pré-disposição genética para esse quadro de saúde. Então, a partir desse cenário em combinação com um gatilho externo (pode ser uma doença viral séria ou um acidente), ela pode desenvolver a fibromialgia. É importante dizer isso pois os pacientes são muito estigmatizados, há quem ache acham que trata-se de um problema mental, emocional. É um cenário muito difícil, pois a dor é invisível e difícil de mensurar.

Outro aspecto importante a se levar em consideração quando essa doença está em discussão é justamente garantir o diagnóstico correto. Marco Antônio de Araújo Rocha Loures, presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia, diz que há, sim, a possibilidade de um aumento de casos, acredita que é preciso ter cautela ao ratificar cada diagnóstico, por justamente tratar-se de uma doença com identificação puramente clínica.

— Alguns casos podem ser espondilite (um tipo de dor na coluna) o que confunde muito na hora de identificar. Ou então uma sensibilidade no sistema nervoso central, por isso há a importância de se fazer acompanhamento e todos os exames necessários — avalia o médico.

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