Cate Blanchett vive líder antifeminista em "Mrs. America"
Com dez indicações ao Emmy 2020, a minissérie chega ao Brasil através do canal Fox Premium
Forte apoiadora do movimento “#MeToo”, Cate Blanchett é hoje uma das mais potentes vozes em defesa das mulheres em Hollywood. A personagem que a atriz interpreta em “Mrs. America”, no entanto, é a antítese de tudo aquilo que ela defende em sua vida pessoal. A minissérie, que recebeu dez indicações ao Emmy 2020, chega ao Brasil neste sábado (19), com os dois primeiros episódios sendo exibidos no canal pago Fox Premium 1, a partir das 22h15.
Baseada em fatos históricos, a produção mostra o debate em torno da Emenda da Igualdade de Direitos (ERA), que pretendia incorporar à Constituição dos Estados Unidos a garantia de igualdade de direitos entre homens e mulheres, nos anos 1970. Blanchett dá vida a Phyllis Schlafly, ativista ultraconservadora que liderou um movimento de mulheres contra a emenda.
Do outro lado da disputa, estão mulheres que defendiam a luta feminista no país norte-americano, como Gloria Steinem (Rose Byrne), Betty Friedan (Tracey Ullman), Shirley Chisholm (Uzo Aduba), Bella Abzug (Margo Martindale) e Jill Ruckelshaus (Elizabeth Banks). A minissérie mostra também os dilemas internos do movimento, que tentava encontrar a dose certa entre ganhar espaços de poder e não abdicar de pautas importantes.
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Ainda que a luta representada na obra já tenha avançado em muitas conquistas, “Mrs. America” soa bastante atual. Para além da questão feminista, é difícil não estabelecer um paralelo entre a trama e a onda conservadora que atingiu diversos países ao redor do mundo nos últimos anos. Em sua campanha contra a ERA, Phyllis utilizava argumentos sem comprovação, como dizer que a emenda tornaria o serviço militar obrigatório para as mulheres. Isso muito antes do termo “fake news” entrar para o vocabulário político.
Como era de se esperar, o trabalho de atuação de Cate Blanchett é simplesmente primoroso. Duas vezes vencedora do Oscar e do Globo de Ouro, a atriz encara com maestria a desafiadora tarefa de encarnar uma personagem que para boa parte do público esteve do lado errado da história. O magnetismo de Blanchett em cena faz com que mesmo quem não compactua com os ideais da personagem sinta certa empatia por ela.
Phyllis é apresentada em “Mrs. America” sem julgamentos, de uma forma muito humanizada e com algumas contradições expostas de maneira subliminar. Ao mesmo tempo em que defende a submissão das mulheres aos seus maridos - algo que parecia legítimo para ela e tantas outras mulheres da época -, ela se mostra uma excelente estrategista, conseguindo furar a bolha predominantemente masculina do Partido Republicano. No fim das contas, a trama revela que o jugo de uma sociedade patriarcal é algo a ser superado dia após dia, mesmo por aquelas que não enxergam nisso um problema.