Cultura Popular

Cena cultural de São Lourenço da Mata e região é celebrada em Festival

"Caboco da Mata" será apresentado em formato virtual entre os dias 04 a 10 de abril e reúne expressões da cultura afro e indígena

Festival Caboco da Mata apresenta sua terceira ediçãoFestival Caboco da Mata apresenta sua terceira edição - Foto: Divulgação

As manifestações culturais afrobrasileiras e indígenas marcam a programação do Festival Caboco da Mata, realizado desta segunda-feira (4) até o próximo domingo (10). O projeto, que tem apoio da Lei Aldir Blanc, conecta a produção artística de Pernambuco com o Sertão da Bahia. Capoeira angola, samba de coco, cavalo marinho e maracatu estão entre as expressões visibilizadas ao longo de uma semana de evento.

Se apresentam no Festival os grupos Boi da Mata, Coco Verde Melância, Sid3 e Maracatu Gavião de Ouro de São Lourenço da Mata. O evento contará, ainda, com oficinas ministradas por ícones da cultura negra, como Mestre Zé Negão (PE) e Mestre Cláudio Costa (BA). As performances serão transmitidas no canal do YouTube do Espaço Cultural Caboco da Mata, realizador do festival. 

"Festival Caboco da Mata"
Ao longo da história, a cidade de São Lourenço da Mata foi subordinada aos municípios de Recife e Paudalho e, como consequência, sua produção cultural popular acabou pouco evidenciada no estado. Foi para valorizar o território como um importante celeiro cultural que o artista Léo Lima idealizou o Festival, que, em sua primeira edição, acontece no formato virtual.

“Temos muito potencial e poder mostrar isso para o resto do Brasil é muito importante para a autoestima dos e das artistas locais, principalmente dentro desse contexto de pandemia, que prejudicou o trabalho de tanta gente”, pontua. Para ele, o Festival também oportunizou a geração de renda para pessoas do bairro Parque Capibaribe, onde está localizado o Espaço Cultural Caboco da Mata. “Foi importante gerar oportunidade e sustentabilidade para as pessoas que constroem o Espaço Cultural e para a própria comunidade porque fortalece a cadeia produtiva local”, destaca.

Espaço Cultural Caboco da Mata
Foi undado em 2018, inicialmente como núcleo oficial da Escola de Capoeira Os Angoleiros do Sertão, de Feira de Santana-BA, em Pernambuco. Em seguida, surgiram outras atividades, como estudos de Cavalo Marinho, Samba Rural, Samba de coco e oficinas de instrumentos percussivos. Durante esses anos de existência, o Espaço evidencia e enaltece a Cultura Afro e indígena. O Festival reúne as expressões que marcam as dinâmicas desenvolvidas no centro e apresenta uma diversidade de nomes que são fundamentais para a manutenção da cultura negra nordestina. 

A Capoeira Angola permeia toda a programação por ser um importante elemento que fundamenta o Espaço Cultural. Na segunda-feira (4), a abertura será marcada por uma performance da Bateria do grupo Angoleiros do Sertão, núcleo São Lourenço da Mata, além de uma aula de movimentação com o treinel Leo Lima. Diretamente da Bahia, o Mestre Claúdio, mentor do grupo Angoleiros do Sertão, com sede em Feira de Santana, conduz uma conversa sobre o samba rural, que foi criado por escravos crioulos do Nordeste. 

Representando a capoeira angola protagonizada por mulheres, Mestre Di, da Escola Luz di Angola, que fica em Olinda, também participa da programação apresentando o tema "A importância do canto feminino na roda". Um momento que vai contar com as participações das contramestras Karlinha (Grupo Luz Di Angola) e Nazaré (Grupo Angola Mãe). Há ainda espaço na programação para abordar a Economia Criativa, que será abordada pelo turismólogo e produtor cultural Luiz Felipe, idealizador do projeto Quintal Capibaribe, espaço localizado no Parque Capibaribe e que serviu de cenário para a gravação do Festival Caboco da Mata. 

Para Sid3, da cidade de Tracunhaém, que atua no sentido de defender a cultura tradicional dos povos afrodescendentes indígenas, o evento chega em um momento desafiador. “Diante a pandemia, além de não poder tocar em todas repartições públicas, estamos atravessando a pandemia através de festivais de música que carrega a resistência em suas cidades. A cadeia produtiva da música agradece esses produtores e músicos que continuam produzindo cultura em suas cidades. A música afroinídígena é a primeira a ser esmagada pelo o sistema”, declara. 

Difusão de saberes populares 
Um dos objetivos do festival é difundir a produção de fazedores de cultura que promovem a manutenção de práticas ancestrais que formatam a identidade da região nordeste. Representando Camaragibe, Mestre Zé Negão, que vai ministra uma oficina sobre Coco de Senzala abordando os elementos com os quais teve contato desde infância, quando trabalhava como cortador de cana nas usinas de Goiânia, o que o influenciou a participar das festas de coco, cavalo marinho e de escolas de samba. 

De Tracunhaém, Mestre Joab, do Grupo Capoeira Pernamocambo Angola, apresenta a palestra  “Capoeira Angola em terra de caboco - gira e encruzilhada no corpo negro indígena”. O tema é o pontapé inicial para um papo sobre sobre a defesa integral do corpo coletivo, diante da violência colonial para que a ginga, a mandinga e a camaradagem na perspectiva de um cultura malunga sejam sempre nutridas. Natural de Aliança, Mestre Zé Maria, ícone da ciranda brasileira, também participa do evento compartilhando os saberes que acumulou ao longo de mais de 50 anos de trajetória que também dialoga com ritmos como coco, forró e cavalo marinho. 

A programação também inclui oficinas que vão proporcionar ao público o contato com a produção de instrumentos musicais. O treinel baiano Onirê, da Escola de Capoeira Os Angoleiros  do Sertão, ministra uma oficina de confecção de pandeiro. Já Mestre Maureliano Ribeiro, que mantém seu ateliê em Camaragibe, vai demonstrar como ocorre a produção de um bombo de Maracatu com Macaíba e compensado. O artista e angoleiro Zé Anastácio vai proporcionar uma vivência de cavalo marinho, além de uma oficina de Pranayamas e Ásanas do Hatha Yoga, ministrada por Tati Ramos . 

Produtora executiva, Thays Melo, da Eparrey Produções, ressalta que São Lourenço da Mata é uma região muito rica culturalmente, mas que ainda sofre com a falta de políticas públicas e apoio privado que as viabilizem. “É muito significativo que o Festival ocorra de forma online porque representa um grito para o mundo, porque podemos chegar a qualquer lugar, quebrar barreiras, saímos da nossa bolha para dizer que São Lourenço da Mata existe e que tem gente produzindo arte e cultura”, pontua a produtora, que cresceu na cidade e conhece de perto seu potencial artístico. 

O Festival Caboco da Mata tem o incentivo da Lei Aldir Blanc, através da Fundarpe, Secretaria Estadual da Cultura, Governo de Pernambuco, Secretaria Especial de Cultura, Ministério do Turismo e Governo Federal. A programação completa será exibida no canal do Espaço Cultural Caboco da Mata. 

Confira a programação completa: 

SEGUNDA-FEIRA (04/04/2022)
19h30 - Abertura com a Bateria do grupo Angoleiros do Sertão, núcleo São Lourenço da Mata
19h45 - Treinel Leo Lima, da Escola de Capoeira Os  Angoleiros do Sertão: Movimentações da Capoeira Angola

TERÇA-FEIRA (05/04/2022)
17h - Mestre Zé Negão: O Coco de Senzala
19h30 - Treinel Onirê da Escola de Capoeira Os Angoleiros  do Sertão: Oficina de confecção de pandeiro

QUARTA-FEIRA (06/04/2022)
17h - Mestre Zé Maria: Ciranda
19h30 - Mestre Cláudio Costa da Escola de Capoeira Os Angoleiros do Sertão: Samba rural

QUINTA-FEIRA (07/04/2022)
17h - Luiz Felipe (Licoteria Capibaribe) - "Economia criativa"
19h30 - Mestra DI (Grupo Luz Di Angola): A importância do canto feminino na roda de Capoeira", com participação das Contramestras Karlinha (Luz Di Angola) e Nazaré (Grupo Angola Mãe)

SEXTA-FEIRA (08/04/2022)
17h - Mestre Joab (Grupo Capoeira Pernamocambo Angola): Tema - “Capoeira Angola em terra de caboco - gira e encruzilhada no corpo negro indígena”.
19h30 - Mestre Maureliano Ribeiro: Oficina "Construindo bombo de maracatu de macaíba e compensado"

SÁBADO (09/04/2022)
16h - Zé Anastácio: Aula de Cavalo Marinho
20h - Apresentação musical: Sid3 (Tracunhaém)
20h45 - Apresentação musical: Grupo Boi da Mata (Recife)

DOMINGO (10/04/2022)
10h - Tati Ramos: Oficina de Pranayamas e Ásanas do Hatha Yoga
17h - Apresentação musical: Coco Verde e Melancia (RMR)
18h - Apresentação musical: Terno do Maracatu Gavião de Ouro (São Lourenço da Mata)

Serviço:

Festival Cultural Caboco da Mata

Quando: 04 a 09/04 
Onde: Canal do Youtube do Espaço Cultural Caboco da Mata
Informações: no perfil do Instagram

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