Dudu Alves: "Ciano Alves partiu, descansou e cumpriu sua missão"
Músico do Quinteto Violado morreu nesta segunda-feira (30), aos 65 anos, no Recife
Foi com uma foto de Ciano Alves, datada de 1980, em um registro em Angola ao lado do tio Toinho Alves (1943-2008) e do empresário da música Wellington Lima, que José Teles, jornalista, crítico musical e biógrafo do Quinteto Violado (Bagaço, 2012) rememorou um dos integrantes do grupo que partiu ontem, aos 65 anos.
Nascido em Garanhuns, Agreste pernambucano, Luciano Alves, flautista, ingressou no Quinteto no final da década de 1970, no lugar de Zé da Flauta - exímio instrumentista que, como ressaltou Teles, foi substituído "à altura".
"(...) ele foi para um quarto de casa, escutou todos os LP's do grupo e tirou todas as partes da flauta, tanto as de Zé quanto as de Sando (outro componente)", escreveu José Teles, sobre o momento em que Ciano recebeu o convite para compor o Quinteto
Ciano já estava há algum tempo enfrentando dificuldades na saúde. Com problemas renais e fazendo hemodiálise, recentemente ele havia sido internado por complicações cardíacas. O velório e sepultamento do artista acontecem hoje no Cemitério Morada da Paz, em Paulista.
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Memória ativa
Em 2021, na ocasião dos cinquenta anos de celebração do grupo - destes, Ciano esteve por pelo menos quatro décadas - a biografia ("Lá Vem Os Violados") do Quinteto foi revista e ampliada pela Cepe Editora. Para tanto, José Teles, que também assina a publicação, recorreu à memória de Ciano.
"Ele se lembrava de tudo, nos mínimos detalhes, dos seus então 43 anos de banda", atesta o jornalista, desde sempre amigo de Ciano, precisamente de quando o músico arriscava-se no violão, antes de dominar a flauta.
"Conhecia Ciano há uns 50 anos, em Garanhuns, e ele estava aprendendo violão (...) Depois ele mudou para flauta", relembra Teles, dessa vez em papo com a Folha de Pernambuco, arrematando com "ele era uma pessoa de uma simplicidade comovente, um grande cara”.
Quinteto, grupo longevo
Dos grupos mais longevos e representativos da Música Popular Brasileira, o Quinteto Violado já foi exaltado por Gil, e por Caetano, foi chamado de "uma coisa extraordinária".
E de fato o era, que o diga a aclamada versão de "Asa Branca" em um dos tantos arranjos incontestáveis do grupo e a interpretação de "A Morte do Vaqueiro", cujas particularidades em letra e história - entoadas pelo imensurável Luiz Gonzaga - ganhou o incremento do grupo - que recentemente, na global "Renascer" com "Palavra Acesa" (Fernando Filizola/José Chagas), voltou a emocionar em cenário nacional.
"Quinteto mais triste"
Formado atualmente por Marcelo Melo, Roberto Medeiros, Dudu Alves, Sandro Lins e Deri Santana, o grupo teve com Ciano sua formação mais duradoura, até a partida de Toinho Alves, um dos fundadores, em 2008.
"O Quinteto fica mais triste com a perda de Ciano, que sempre contribuiu com suas notas musicais para a música brasileira, trazendo referências das bandas de pífano, do jazz e da música clássica. Partiu, descansou e cumpriu sua missão", comentou Dudu Alves, em conversa com a Folha de Pernambuco.
Em sua derradeira publicação no Instagram, há um ano, Ciano Alves atualizou seu estado de saúde e afirmou que em breve estaria de volta ao seu lar "e também aos shows junto com o Quinteto Violado". Ele não voltou. Ao menos fisicamente e aos palcos terrenos, já que em memória, seguirá perpetuado pela (boa) música e pelo Quinteto.
Prefeitura e Estado lamentam a perda
Em nota, a Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria de Cultura e da Fundação de Cultura Cidade do Recife, lamentou a morte de Ciano Alves, ressaltando o seu legado valioso para a música.
"A Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria de Cultura e da Fundação de Cultura Cidade do Recife, lamenta a morte do músico Ciano Alves, flautista por mais de 40 anos do Quinteto Violado.
Como um dos integrantes de um dos mais longevos e tradicionais grupos recifenses, ele deixa um legado valioso de contribuição para o dicionário musical pernambucano.
Na cidade que até a Unesco declarou ser criativa e musical, artistas como Ciano Alves, que devotam a vida inteira aos palcos, confirmam a força, a riqueza cultural e a história de um povo todo".
Já o Estado, por meio Secretaria Estadual de Cultura (Secult-PE) e a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), exaltou o artista, lembrando o quanto a flauta sempre se mostrou presente na família musical de Ciano.
“Uma das bandas mais importantes do nosso país, Quinteto Violado é uma família musical, onde a flauta sempre se mostrou presente graças a Ciano Alves. Foram 4 décadas de dedicação a música nordestina. Meus sentimentos a todos que fazem parte do Quinteto Violado”, disse Isaar, Coordenadora da linguagem de música da Secult.
O Galo da Madrugada, também emitiu nota pela partida de Ciano Alves: