Cineasta pernambucano dirige documentário sobre Siron Franco
Em parceria com o diretor André Guerreiro Lopes, de São Paulo, Rodrigo Campos produziu longa-metragem sobre a trajetória artística do pintor goiano
O cineasta pernambucano Rodrigo Campos foi apresentado ao goiano Siron Franco em 2001. Ao lado do colega André Guerreiro Lopes, de São Paulo, ele registrou o processo criativo do renomado pintor durante sua estadia em Londres. As filmagens permaneceram guardadas durante anos, até a dupla resolver produzir um documentário sobre a vida e a obra do artista plástico. "Siron - Tempo sobre tela" estreou neste mês, dentro da programação da 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, e deve entrar no circuito dos festivais cinematográficos do Brasil e de outros países.
Na capital londrina, os diretores acompanharam o pintor ao longo de três meses. O reencontro veio apenas no ano passado, quando eles visitaram o ateliê do artista, em Goiás, com a finalidade de registrar novas imagens. Foi neste momento que eles cruzaram com o arquivo pessoal de vídeos de Siron. "Ele tem um acerco gigante, com mais de 200 fitas VHS, além de rolos em Super 8, com gravações que ele faz desde os anos 1970. É um material riquíssimo e que representou um ponto de inflexão no nosso filme", comenta Rodrigo.
A princípio, a ideia dos cineastas era partir do hiato entre os dois encontros com Siron como fio condutor do documentário. No entanto, diante dos registros feitos pelo próprio artista, a dupla percebeu que era possível costurar diferentes momentos da sua trajetória. "O filme é o embate dele com a sua criação ao longo do tempo", resume Rodrigo. A obra teve obteve financiamento do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), através de um edital de fomento lançado em 2016.
Aos 72 anos, Siron Franco é reconhecidamente um dos pintores brasileiros mais respeitados no exterior. Suas obras estão em importantes museus ao redor do mundo, como o Metropolitan Museum of Arts, em Nova York, nos Estados Unidos. Ele também é reconhecido por sua trajetória de superação. Nascido em uma família com poucas posses, começou a desenhar de maneira autodidata e, posteriormente, estudou pintura com nomes como D. J. Oliveira e Cleber Gouvêa.
"Em um momento em que a arte se vê ameaçada no país, é muito instigante a gente mostrar esse filme ao mundo. O que mais me impressionou na personalidade de Siron é que, independentemente do que vier pela frente, ele sempre vai criar, mesmo que tudo esteja desmoronando. É um cara que pinta 12 horas por dia e não se satisfaz com o que já alcançou em termos de técnica e estética. Ele tem um compromisso ético absurdo com o ato de criar. Nós aprendemos muito com isso", diz o diretor. Ainda sem data de estreia no circuito comercial, o longa só deve chegar ao Recife no próximo ano.