Cineasta que varria o tapete vermelho de Cannes vai estrear filme no festival
David Hertzog Dessites, de 51 anos, vai exibir documentário sobre o famoso músico francês Michel Legrand
Um funcionário que limpava o tapete vermelho do Festival de Cannes, na França, há três décadas irá desfilar no sábado (18) entre as grandes estrelas, apresentando o seu próprio documentário.
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— O adulto que sou segurou na mão do menino que fui para realizar esse sonho — explica à AFP David Hertzog Dessites, de 51 anos, que vai estrear "Il était une fois Michel Legrand" (Era uma vez Michel Legrand, em tradução livre para o português), um documentário sobre o famoso músico francês.
Quando soube que tinha sido selecionado na seção Cannes Classics, dedicada a cópias restauradas de filmes antigos e documentários, Hertzog Dessites não podia acreditar. E uma lembrança veio à mente.
— Em uma manhã, por volta das 4h00, no meu uniforme de varredor (...) me estiquei no tapete vermelho, dizendo a mim mesmo "voltarei aqui com meu filme" — lembra.
Durante sua infância, sua mãe o levava perto do Palais des Festivals para ver no tapete vermelho as estrelas de Hollywood, como Kirk Douglas ou Robert Mitchum. Sua vida teve uma reviravolta aos 20 anos com a morte de sua mãe, funcionária municipal. A cidade de Cannes então lhe ofereceu um emprego de varredor.
"Festival às escondidas"
Tinha amigos que trabalhavam nos bastidores, permitindo este cinéfilo viver o "festival às escondidas", entrando nas sessões clandestinamente. Uma manhã, em uma sessão das 11h00, ele entrou na exibição de "Pulp Fiction", de Quentin Tarantino. "Vi Clint Eastwood [presidente do júri] colocar as mãos no rosto de tanto rir", relatou.
O falecimento de sua mãe foi um "verdadeiro impulso", que o ajudou a transformar "essa dor em energia positiva", contou Hertzog Dessites. Comprou sua primeira câmera e começou a filmar de forma autodidata.
— Eu invejava meus amigos na escola de cinema, e eles me invejavam porque meu ponto de vista não estava condicionado — explicou.
Em 1999, viajou para os Estados Unidos para filmar os fãs incondicionais de "Star Wars" que aguardavam ansiosamente a estreia do episódio I, "A Ameaça Fantasma".
— Os fãs em Hollywood, em Nova York, estavam loucos, esperavam em barracas perto dos cinemas para serem os primeiros a ver o filme — explica, sobre um documentário que na época chamou a atenção.
Uma história "formidável"
A história em torno do conhecido compositor francês Michel Legrand também é encantadora.
— Sua música embalou a gravidez de minha mãe. Meus pais se conheceram quando foram ver "Thomas Crown - A arte do crime" e compraram o disco de 45 rotações da música composta por Michel — diz.
Durante sua infância, sua mãe o levava perto do Palais des Festivals para ver no tapete vermelho as estrela de Hollywood, como Kirk Douglas ou Robert Mitchum. vore de Natal" durante o recital, o cineasta disse no final: "Se eu existo, é um pouco graças a você". "Essa história é formidável, adoro", respondeu Legrand.
O compositor concordou em ser o centro de um documentário e lhe deu carta branca.
— Ele disse que não controlaria nada, e conhecendo sua exigência e a pessoa complexa que era, é o melhor presente que poderia me dar — afirma Hertzog Dessites.
O documentário conta os dois últimos anos do músico e relembra a carreira do compositor da trilha sonora de "Os Guarda-Chuvas do Amor", falecido em 2019 aos 86 anos.