Cinema São Luiz se renova através da produção pernambucana
Segundo o programador Geraldo Pinho, o cinema de rua, localizado no centro do Recife, tem provado o desenvolvimento da indústria cinematográfica no Estado, com sessões marcadas por filas
Um fenômeno curioso tem acometido nos últimos meses o Cinema São Luiz, no bairro da Boa Vista, no centro do Recife. A surpresa e alegria com a novidade se refletem na postagem do cineasta Kleber Mendonça Filho (dos premiados "Aquarius" e "Bacurau"). Há alguns dias, ele escreveu: "uma sala de 1952, com mil lugares, na rua, atraindo públicos incomuns para filmes feitos na própria cidade, e num momento destrutivo para a Cultura. Isso não é normal e deve ser protegido".
A tendência, segundo o programador do São Luiz, Geraldo Pinho, se deu de forma planejada, mas com impacto inesperado. "Em maio, eu tinha conhecimento de que iam entrar basicamente seis filmes pernambucanos em cartaz, o que é algo muito importante dentro desse processo de desmonte, dessa tentativa de acabar com o segmento da Cultura. Mas os meses de junho e julho acabaram tendo um público bem acima da média obtida desde a retomada do cinema, em 2010", aponta.
Em números, isso significa cerca de cem pessoas por sessão. "Alguém pode pensar que é pouco, ainda mais se falando de um espaço com quase mil lugares disponíveis. Mas se trata de um nicho específico, de cinema independente, de arte", alerta Geraldo.
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O programador entende como crucial para o São Luiz este crescimento no movimento - Crédito: Julya Caminha
Das 3.300 salas existentes no País, apenas 200 possuem esse perfil. "A gente não exibe 'Vingadores', filmes do tipo blockbuster. Então, comparativamente, atrair cem pessoas significa cerca de 50% da lotação de uma sala padrão, que tem geralmente cerca de 200 lugares. Isso é muito bom. A gente está alcançando um público fenomenal se comparado ao resto do Brasil", comemora.
Pelo São Luiz já passaram "Divino Amor", de Gabriel Mascaro; "Organismo", de Jeorge Pereira; e "Estou me guardando para quando o Carnaval chegar", de Marcelo Gomes. Na sequência, vêm "Bacurau", de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, "A Serpente", de Jura Capela; e, no fim do ano, "Marighella", de Wagner Moura.
Após Kleber ter ganhado notoriedade pelos protestos em Cannes, durante o processo de impeachment da então presidenta Dilma Rousseff, na época de "Aquarius"; e do cineasta ter sofrido retaliações do governo federal e, ainda assim, recebido diversas premiações em festivais em todo o mundo, "Bacurau" tornou-se um dos filmes mais aguardados do momento. "No dia em que começamos a vender os ingressos, uma moça entrou na fila às 5h20 da manhã. Abrimos às 11h e, às 12h34, já não havia mais ingresso para a primeira sessão", relata Geraldo Pinho.
Amante do cinema, Geraldo não esconde a felicidade em constatar que "Bacurau" será exibido em salas comerciais, nos shoppings. "É fundamental ver essas salas ligadas à indústria cinematográfica se interessando por um filme pernambucano, gravado na Paraíba. O que o cinema brasileiro precisa é de tela, de espaço para se mostrar. O público precisa ver os nossos filmes, eles têm que ser escancarados. Essa é uma forma crucial de resistência", explica.
Segundo ele, esse movimento também tem ajudado a trazer gente nova para a plateia do São Luiz. "A gente tem, sim, um público de base com forte viés político. Mas esses filmes têm trazido um público novo, que nunca tinha estado aqui ou que há anos não vinha ao São Luiz. Isso é vital para a nossa sobrevivência. O cinema precisa de plateia", finaliza.