Clarice Lispector é reconhecida como cidadã pernambucana
Escritora e jornalista, Clarice passou a maior parte da sua infância morando no Recife
No ano em que completaria 100 anos, Clarice Lispector é reconhecida como cidadã pernambucana. A escritora e jornalista viveu entre os anos 1924 e 1937 no Recife. Por conta de seu legado e literatura que carregam consigo um pouco de Pernambuco, a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) solicitou à Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) o reconhecimento da escritora como cidadã pernambucana. O pedido foi acatado e uma solenidade, no dia 10 de dezembro, irá comemorar, junto à Alepe, o centenário da escritora.
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Dona de uma escrita incomparável, Clarice Lispector era imigrante ucraniana no Nordeste e viveu 12 anos no Recife. Por isso, a cidade figura dentro de suas produções como paisagem da saudade e memórias da infância. Aqui, ela estudou no Ginásio Pernambucano, assim como Ariano Suassuna, Celso Furtado e Assis Chateaubriand.
Autora de ensaios, romances e contos, Clarice é reconhecida por seu caráter intimista e experimental. Ela era capaz de transformar situações cotidianas em grandes reflexões, com um discurso voltado para o íntimo de seus personagens. Um casal caminhado na rua é transformado na intensidade do nascimento da paixão, em "Por não estarem distraídos"; e um banho de mar pela manhã se mescla com o frio, o sexo e a pequenez humana em busca da coragem em "Águas do mundo". Clarice se debruçava sobre o ser e a existência em todas as suas produções.
A proposta da Fundaj é realizar uma solenidade próxima à data de nascimento da autora. "Mais do que qualquer outro autor brasileiro, a escritora, ucraniana de nascença mas de alma brasileira, já que chegou no país aos dois meses de vida, é um fenômeno literário. Sua escrita, com estilo intimista que popularizou as narrativas psicológicas, marcou a literatura do século XX. À frente de uma instituição que tem entre as suas missões salvaguardar a memória e a cultura, não poderia esquecer Clarice Lispector", ressalta o presidente da Fundaj, Antônio Campos. A fundação também pretende restaurar o patrimônio cultural deixado pela escritora, com o projeto de recuperação da casa onde ela viveu até os 14 anos na capital pernambucana.
A casa onde viveu Clarice, número 347, na Praça Maciel Pinheiro, é de propriedade da Santa Casa de Misericórdia e está protegida legalmente por meio do tombamento provisório em nível estadual pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) e em análise preliminar no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para tombamento federal. O custo para restauro da casa é orçado em R$ 1,8 milhão e a Fundaj está concorrendo recursos junto ao Ministério da Justiça e Segurança Pública no edital sobre Fundo de Direitos Difusos, que são recursos voltados para vários segmentos, entre eles o de preservação de patrimônio, para recuperar a instalação.
"A ideia é que este Centro seja voltado ao conhecimento da literatura brasileira e a memória de Clarice Lispector nesse local porque foi a casa onde ela viveu com a família. Essa foi a casa onde ela viveu parte da sua infância quando veio morar no Recife quando chegou ao País vinda da Ucrânia", adianta Campos.
Apesar de toda sua importância no âmbito da memória e patrimônio cultural, o imóvel encontra-se abandonado, em avançado processo de degradação e já se constatando perda de elementos arquitetônicos originais. Com a reforma realizada, a Fundaj pretende inaugurar o Centro Cultural Casa Clarice Lispector, em memória da escritora.