'Colônia', nova série do Canal Brasil, retrata história real de hospício mineiro
Trama é inspirada em livro sobre o Hospital Colônia de Barbacena, onde mais 60 mil pessoas perderam a vida
“Colônia”, nova série original do Canal Brasil, narra através da ficção um pedaço triste e pouco comentado da história brasileira. Com estreia marcada para esta sexta-feira (25), às 21h30, a produção traz à tona a realidade do Hospital Colônia de Barbacena, em Minas Gerais, onde mais de 60 mil pessoas morreram.
Criada, dirigida e roteirizada por André Ristum, a série é livremente inspirada no livro-reportagem “Holocausto Brasileiro”, de Daniela Arbex. Na publicação premiada, a jornalista mostra como, ao longo de quase 100 anos, a instituição submeteu milhares de pessoas a condições de vida subumanas e diferentes formas de torturas, como sessões de eletrochoque com finalidade supostamente terapêutica.
O impacto da leitura do trabalho de Arbex foi o que moveu Ristum a querer retratar esse passado tenebroso. Com base no livro e em outros registros históricos, personagens imaginados foram criados para que as reais vítimas pudessem ganhar rostos e vozes.
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“De alguma maneira, eles representam os grupos sociais que sofreram essa violência terrível ao longo de quase 80 anos. Muitas dessas pessoas foram internadas sem nenhum diagnóstico de doença mental. O hospital se tornou o destino dos indesejáveis sociais. Eram homens e mulheres negras, homossexuais, alcoólatras, jovens grávidas antes do casamento, prostitutas, vítimas de estupro, opositores políticos ou qualquer um que a sociedade patriarcal e desigual não queria por perto”, explica o diretor.
Um pouco da realidade do Hospital Colônia é contada através de Elisa (Fernanda Marques), que chega ao local nos anos 1970. A jovem é enviada pelo próprio pai, que se enfurece ao descobrir que ela está grávida de um namorado, destruindo a possibilidade de um casamento arranjado com um rico fazendeiro. Enquanto conhece os dramas de outros na mesma situação, busca formas de sobreviver e conseguir fugir do lugar.
Personagens
Andréia Horta interpreta Valeska, prostituta jogada no hospício ao ameaçar revelar seu caso com o prefeito da cidade. Natural de Juiz de Fora, a atriz diz ter ficado chocada ao saber da existência do hospital em uma região tão próxima a sua. “Morei em Minas Gerais até os 17 anos, mas só ao sair de lá é que tive conhecimento do Colônia. Quando o André me contou do projeto, fiquei muito interessada em fazer. Sinto que é de fundamental importância contar essa história”, afirma.
Também mineira, a atriz Rejane Faria vivenciou uma descoberta pessoal durante o processo de construção de Wanda, sua personagem na trama. “Soube que tinha alguém da família que passou pelo Colônia. Quando levei o livro da Daniela para a minha mãe ler, ela não conseguiu terminar e me disse que a avó dela foi internada lá, mas os parentes a tiraram quando descobriram o que acontecia. Isso aumentou a minha teia de interesse por esse trabalho”, revela. Também integram o elenco nomes como Augusto Madeira, Naruna Costa, Bukassa Kabengele e Arlindo Lopes.
Filmados em locações entre Campinas e São Paulo, os dez episódios são todos rodados em preto e branco. A opção estética ajuda a reforçar o clima de “trama de época” da série. “Pensando na história, eu só conseguia ver as cenas em preto e branco. Pode ter sido pelas referências de imagens do período, mas também por achar que as vidas daquelas pessoas não tinham cor e luz”, comenta Ristum. Além da TV paga, a produção estará disponível nos serviços de streaming Canais Globo e Globoplay.